domingo, 22 de junho de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Recebo informações de que na convenção do PT a palavra que mais se fala é mudança. Chego a conclusão que esse governo é tão ruim que até o PT quer mudar.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente do PSDB, em o Globo, 22 de junho de 2014

Aumentos até para preços superfaturados

• Aditivos a contratos da Abreu e Lima somam investimentos de US$ 3 bilhões

• Valor equivale a reconstrução de um Maracanã a cada 11 meses

José Casado, Danielle Nogueira e Vinicius Sassine – O Globo

RIO E BRASÍLIA — Aconteceu 11 anos atrás, na tarde de segunda-feira, 28 de abril, no Recife, quando os então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez anunciaram que a Petrobras e a Petroleos de Venezuela S.A. (PDVSA) construiriam uma refinaria em Pernambuco, ao custo de US$ 2,3 bilhões.

Lula escolhera o estado onde nasceu para lançar um empreendimento industrial simbólico do seu programa de crescimento econômico. Elegera-se presidente cinco meses antes, com 57% dos votos locais. Seria reeleito três anos depois, com 78,4% dos votos pernambucanos. Chávez, ao seu lado, estava no segundo mandato, vencera um golpe de Estado e acabara de consolidar o poder sobre a companhia estatal de petróleo de seu país, provedora de dois terços dos dólares que circulam na economia venezuelana.

Os presidentes estavam no Palácio do Campo das Princesas, erguido sobre as fundações do Erário Régio do Recife, pedaço da burocracia portuguesa encarregada do controle das contas públicas. Chávez encarou os jornalistas curiosos sobre como a PDVSA, em crise e sem caixa, poderia financiar sua parte nesse projeto binacional:

— Não temos dinheiro — confessou, e acrescentou sorrindo: — Mas temos vontade política.

Três anos de atraso no cronograma
Passaram-se 11 anos. Chávez morreu, a PDVSA nunca aportou um centavo na sociedade, e, talvez, a presidente Dilma Rousseff consiga inaugurá-la em novembro, penúltimo mês do seu mandato, depois de três anos de atraso no cronograma.

Abreu e Lima já é considerado um dos mais caros empreendimentos da indústria mundial de petróleo: cada um dos 230 mil barris de óleo refinados vai custar no mínimo US$ 87 mil, acima do dobro da média internacional.

— Um erro que não deve ser repetido — comentou a presidente da Petrobras, Graça Foster, em recente audiência no Congresso Nacional.

As despesas com a construção da refinaria dispararam. Previa-se gastar US$ 2,3 bilhões. Logo o valor multiplicou-se, o que teria levado a Venezuela a se retirar pouco depois — sem formalizar a saída. A conta chegou a US$ 18,5 bilhões no último abril. E pode avançar para US$ 20,1 bilhões até novembro, segundo projeções da Petrobras. Esse valor equivale ao dobro do lucro líquido obtido pela empresa estatal brasileira no ano passado. Em outro tipo de comparação, é quantia seis vezes maior que todo o dinheiro gasto pelo país na construção e na reforma de 12 estádios para a Copa do Mundo.

As razões da escalada de custos (mais de 770%, em dólares) se misturam num enredo onde predominam suspeitas de má gerência, erros de projeto, contratos superfaturados, sobre os quais foram aplicados aumentos extraordinários, além de corrupção, com lavagem de dinheiro no Brasil e no exterior.

Mudanças durante a execução de projetos industriais são comuns, porém, na construção da refinaria de Pernambuco o excesso de aditivos contratuais refletiu escassez de planejamento.

Foram US$ 3 bilhões em custos adicionais, em aditivos realizados a partir de março de 2008 — aumento equivalente à despesa com a reconstrução de um Maracanã a cada 11 meses. Até dezembro do ano passado, foram 141 alterações contratuais com acréscimos de custos. Durante 2013, a média foi de três aditivos por quinzena, segundo dados em análise na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga irregularidades na Petrobras.

A característica de projeto binacional, moldado por interesses políticos, fez com que a refinaria Abreu e Lima fosse tratada como empreendimento singular no processo decisório da Petrobras. Ela funcionou como empresa autônoma durante cinco anos, até dezembro passado, quando foi incorporada à empresa-mãe.

Na última segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff transferiu por decreto o controle sobre todos os gastos na fase final da obra de Abreu e Lima para a presidência da Petrobras.

A composição dos custos desse empreendimento é objeto de investigações em curso em duas instituições nacionais, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, e em cinco organismos federais (Tribunal de Contas, Ministério Público, Polícia Federal, Receita e Conselho de Atividades Financeiras). Um dos ex-diretores do grupo estatal e ex-presidente do Conselho de Administração da refinaria, Paulo Roberto Costa, está na cadeia. Enfrenta processos criminais simultâneos no Brasil e na Suíça.

Refinaria tinha conselho independente
Os múltiplos inquéritos focam abruptas alterações nos valores originais, as bases de reajuste anual e, sobretudo, os aumentos extraordinários aplicados em duas centenas e meia de contratos feitos pela estatal, por convite.

Entre 2008 e 2013, a refinaria manteve um Conselho de Administração que se reunia uma vez por semana — na rotina das empresas, inclusive na Petrobras, o normal é uma reunião por mês. Os integrantes desse conselho ficavam na sede da estatal, na Avenida Chile, Centro do Rio, pilotando o andamento da obra, a 1,9 mil quilômetros de distância do canteiro.

As atas das reuniões informam que eles passaram 70 meses concentrados na aprovação sucessiva de aumentos de custos diretos do empreendimento. “Todos (aditivos) eram de responsabilidade da executiva da refinaria”, apontou o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, em carta ao Senado no mês passado.

No espaço de 32 semanas de 2013, entre março e novembro, os conselheiros homologaram 63 aditivos, acrescentando US$ 739 milhões ao valor dos contratos originais.

Dilma se lança como a candidata da mudança

• Presidente disse não ter rancor de ninguém, mas que também não vai 'abaixar a cabeça'. Mais cedo, Lula declarou que 'criador e criatura' podem conviver

Catarina Alencastro e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA - Apesar da longa comparação entre o governo do PT e os governos anteriores, deixando clara a diferença entre "nós", do PT, e "eles", da oposição, em seu discurso na Convenção Nacional do PT, realizado neste sábado em Brasília, a presidente Dilma Rousseff disse que não tem ódio nem rancor de ninguém. Lembrando os tempos da ditadura, afirmou que mesmo quando tentaram destruí-la física e emocionalmente, ela não teve ódio, embora não se dobre a ninguém. Assim como o ex-presidente Lula, no discurso que proferiu antes dela, Dilma conclamou a militância a sair explicando nas ruas tudo o que sua gestão e a de Lula fizeram nos últimos 11 anos. E fez um chamado para que a campanha seja uma festa de paz e alto astral.

- Nunca fiz política com ódio. Mesmo quando tentaram me destruir física e emocionalmente por meio do uso de violência, eu continuei amando o meu país e nunca guardei ódio de ninguém. Quem se deixa vencer pelo ódio faz o jogo do adversário. Não tenho rancor de ninguém, mas também não vou abaixar minha cabeça. Não insulto, mas não me dobro. Não me assusto, não agrido, mas também não fico de joelhos para ninguém. Não perco tempo tendo rancor de meus adversários, isso não traz força nenhuma, nem mérito para ninguém. Tenho muito mais o que fazer. Nossa campanha precisa ser antes de tudo uma festa do alto astral. Abaixo o pessimismo, a mediocridade e o baixo astral. No Brasil as grandes vitórias são construídas com o fermento do otimismo e da alegria - discursou.

No longo discurso, de quase uma hora, Dilma citou todos os programas petistas, como o Brasil sem Miséria, o Minha Casa Minha Vida, o Ciência sem Fronteiras e o Mais Médicos. Mas em poucos momentos conseguiu empolgar a militância. A plateia se animou mais quando Dilma começou a falar da Copa, defendendo o evento contra o que ela chamou de "mau agouro" dos "pessimistas".

- Vejam, a Copa esta dando uma goleada descomunal aos pessimista que disseram que ela não ocorreria, os que falaram que não ia ter Copa. Por isso a nossa força está no fato de que sonhamos, que temos sonhos utópicos, heróicos, e sem limites. Vamos amar nosso país, nossa camiseta verde e amarela, vamos torcer pelo nosso time. E não vamos deixar jamais o ódio prosperar em nossas almas. Vamos recolher as pedras que lançam contra nós e vamos transformar essas pedras em tijolos para fazer o Minha Casa Minha Vida - disse, em referência ao programa habitacional de seu governo.

Lula: 'criador e criatura podem conviver'
Antes de Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos militantes que se informem sobre as conquistas dos 12 anos do PT no governo e que disputem nas ruas os votos. Segundo ele, esta será uma eleição difícil e agressiva, lembrando de sua reeleição em 2006, depois do episódio do mensalão.
- Nós, militantes do PT, precisamos saber que eleição se ganha primeiro com um bom programa e, segundo, mostrando o que a gente fez. A gente tem obrigação de mostrar o que a gente fez em 12 anos e eles em um século - discursou Lula, referindo-se aos partidos que hoje estão na oposição.

O ex-presidente disse que nos quatro anos de governo Dilma cumpriu o que prometeu em janeiro de 2011, quando ela assumiu a Presidência, e ressaltou que não há divergências entre os dois. Ambos foram recebidos pela militância com os gritos de guerra "ole, ole, ole, olá, Lula, Lula" e "ole, ole, ole, olá, Dilma, Dilma".

- Dilma, a gente vai provar mais uma coisa neste país: que é possível uma presidenta e um ex-presidente terminarem seu mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois, numa demonstração de que é plenamente possível o criador e a criatura viverem juntos, com harmonia - afirmou.

O ex-presidente Lula também elogiou o Mundial e comparou a campanha ao jogo entre a Costa Rica e a Itália, na qual o país centro-americano venceu, contrariando todas as projeções. Ele acrescentou que Dilma sofrerá novamente nesta campanha preconceito por ser mulher.

- Temos que ter orgulho de ir para a rua e defender essa mulher contra todo e qualquer preconceito, porque na cabecinha deles, mulher nasceu para ser mulher de cama e mesa. Mas para a gente, mulher é agente transformador.

Lula pontuou toda sua fala demarcando a diferença entre "nós", os petistas, e "eles", a oposição.

- Não tenham medo de comparar nada com eles, sei que isso incomoda. Precisamos saber que o que vai ganhar a eleição não é o tempo de TV, nem a qualidade da nossa propaganda na TV, é a adrenalina e a nossa capacidade de mostrar que a gente fez cada vez que for para a rua. Fico imaginando que este país foi governado por engenheiros, doutores, intelectuais, que não vou nem citar o nome, porque vão pensar que estou falando nele (em referência a Fernando Henrique), e governaram para apenas um terço da população - afirmou.

Gilberto carvalho diz que o governo quer paz
Ao contrário de Lula, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, afirmou que a tônica da campanha de reeleição não será agressiva. Segundo ele, não haverá estímulo ao ódio entre os que apoiam o atual governo e os que o rejeitam, o governo quer a paz. O ministro foi um dos primeiros a chegar à Convenção Nacional do PT.

Ele não quis comentar a divergência que teve com dirigentes do partido, entre eles o próprio ex-presidente Lula, de que os xingamentos que Dilma sofreu na abertura da Copa do Mundo partiram da elite branca.

- Quem apostar na luta ódio contra ódio vai perder. Não vale a pena. O presidente Lula, como eu, nós temos denunciado uma prática de disseminação de um ódio de classe contra aqueles que tentam a mudança no país, a gente privilegiada que não quer a mudança. É disso que se trata a nossa insurgência. Nós não somos portadores do ódio e nem queremos polemizar nesse sentido. Nós não fizemos um governo de ódio, fizemos um governo que procurou unificar o país. Nós queremos é a paz. Queremos a cultura de paz e de fraternidade - afirmou Gilberto.

Ele disse ainda que as pessoas que são contra o governo querem impingir no partido a marca de "autores da corrupção".

- Felizmente é uma minoria (que) dissemina esse ódio difundindo inverdades, como por exemplo de que nós somos os grande autores da corrupção, que nós somos aqueles que se apoderaram do aparelho de Estado para os seus companheiros, para os petralhas, e assim por diante avaliou o ministro, que durante todo o governo Lula foi seu braço direito, ocupando o cargo de chefe de gabinete.

Gilberto também aproveitou para voltar a defender o polêmico decreto presidencial que cria a Política Nacional de Participação Social e regula a estrutura dos conselhos nacionais consultivos. Segundo ele, não é verdade que os conselhos são órgãos de aparelhamento da militância petista para ter mais poder dentro do governo. Ele disse que há muito "quebra-pau" nas reuniões desses colegiados e pressão sobre o governo. E que ele mesmo já foi vaiado.

- Os conselhos são palcos de grandes polêmicas, de grandes quebra-paus, de grandes cobranças em cima do governo. É evidente que quem participa dos conselhos é um padrão de gente que gosta da militância, mas tem militância de centro, de direita e de esquerda representada nos conselhos. Fui vaiado fortemente. Precisamos desmontar essa ideia de que essa coisa dos conselhos é uma coisa meio chavista, meio bolivarianista. Não estou falando que é uma coisa equivocada o bolivarismo, não me cabe esse papel, estou dizendo que é uma outra filosofia de governo onde a sociedade comparece, com muita autonomia, debate, isso faz parte da educação democrática do País - disse Gilberto, repetindo expressões já usadas pelo presidente do PT, Rui Falcão, para rechaçar as críticas que o decreto vem sofrendo.

Ele garantiu que o governo não vai desistir do decreto, mas tem tentado convencer o Congresso de promover um debate em torno do tema, em vez de fazer uma votação secreta para rejeitar o texto do governo. Para Gilberto, o decreto deve ser mantido e, se os parlamentares quiserem fazer uma proposta que o complemente, que o façam.

- Não vejo por que mudar o decreto, vejo a possibilidade de você deixar o decreto, criar outro projeto de lei, porque aí sim esse projeto de lei poderia trazer inovações. Esse decreto, insisto, não traz - disse o ministro, reforçando a defesa do governo de que o decreto não muda a estrutura já existente dos conselhos, apenas a organiza.

Temer: 'terei a honra de ser reeleito com ela'
Em seu discurso, o vice Michel Temer, que também foi oficializado na chapa de reeleição, disse que é preciso acabar com a besteira de que Dilma só governa para um setor. Ao citar números do governo, Temer afirmou que toda a população brasileira viveu ascensão social.

- Em todas as classes houve uma ascensão social. A classe A e B passaram de 7,6 para 12,5. É um governo para todos os brasileiros. Vamos acabar com essa besteira de dizer que governo Lula e o governo Dilma trabalharam apenas para um setor. Vou ter a honra de ser reeleito com ela - disse o vice, que recebeu uma distinção especial, sendo chamado de "companheiro de caminhada".

Temer afirmou ainda que com a reeleição de Dilma o Brasil viverá uma "festa da democracia".

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab Kassab, também esteve presente, mas foi vaiada quando foi chamado ao palco. Além de Kassab, dirigentes de outros seis partidos estiveram na convenção: Renato Rabelo (PCdoB); Ciro nogueira (PP), Eduardo Lopes (PRB), Euripedes Jr. (PROS), Valdir Raupp (PMDB), e Manoel Dias (PDT).

O PTB, que resolveu romper com o governo Dilma e retirar o apoio à reeleição, não mandou representantes. O presidente nacional, Benito Gama, marcou pronunciamento no mesmo horário da convenção petista, em Salvador, para explicar o desembarque.

Ao chegar ao evento, o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS) minimizou a saída do PTB
- Estamos vendo isso de forma muito tranquila. A importância disso na eleição é próxima de zero. No Rio Grande do Sul o PTB vai continuar fazendo campanha para nós. E o tempo de TV, a gente já tem um tempo de TV muito razoável, não faz tanta diferença.

PTB rompe com Dilma e Aécio anuncia adesão do partido à sua candidatura

• Benito Gama avisou a Berzoini e Mercadante que não apoiaria a petista; Ministros e deputados do PT, no entanto, disseram que foram pegos de surpresa

Leticia Fernandes, Simone Iglesias e Renato Onofre – O Globo

RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO - O PTB decidiu não apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff, depois de ter se comprometido com o PT e de, há um mês, ter oferecido um almoço, na sede do partido, em Brasília, para a presidente. Eles declararam que vão caminhar com o tucano Aécio Neves, também pré-candidato ao Planalto.

O presidente nacional do PTB, Benito Gama, telefonou na sexta-feira à noite para os ministros Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) para informá-los da decisão. Eles insistiram para que a aliança não fosse desfeita, mas, diante dos problemas nos estados, principalmente em Roraima e Brasília, Gama disse não tinha condições — nem tempo hábil — de conter a insatisfação. O presidente da legenda fez uma sondagem por todo o país, e apenas em Alagoas e Pernambuco os diretórios votaram pela manutenção da aliança com os petistas.

— Eu avalizei tudo isso até agora, mas chegamos ao limite e contaminou a convenção. Mandei sondar o Brasil todo, e a convenção era majoritária para o Aécio. Os únicos setores do PTB que não apoiaram isso foram os de Pernambuco e Alagoas. O Collor tem apoio fechado com o PT — disse.

Segundo ele, a convenção nacional do PMDB, que decidiu, em uma votação apertada, por continuar ao lado de Dilma, contaminou o partido, que preferiu seguir com os tucanos. O Aezão, movimento no Rio de apoio a Aécio e ao governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), capitaneado por Jorge Picciani, presidente estadual do PMDB, também contou a favor do rompimento:

— A convenção do PMDB animou um pouco a gente, contaminou todo mundo. Esse projeto do Aezão no Rio também, o PTB do Rio vota no Pezão e no Aécio, então a maioria dos deputados estavam insatisfeitos com o palanque.

Benito Gama disse ainda que preferiu alertar logo os petistas para evitar um possível constrangimento da presidente Dilma, que, segundo ele, sempre foi correta com o partido:

— Até três semanas atrás, estávamos num viés de aprovação à presidente, ela sempre foi correta com o partido. Eu não ia deixar a presidente ir lá (na convenção) ou avisar na véspera, preferi fazer o anúncio hoje. Falei ontem à noite com o Berzoini e o Mercadante. Eles tentaram muito nos segurar, mas não tem mais tempo, temos cinco dias para a convenção. Faltou um pouco de coordenação — criticou o presidente, acrescentando que o ex-deputado Roberto Jefferson, condenado do mensalão que cumpre pena em presídio no Rio de Janeiro, não participou das discussões, mas já foi informado da posição do partido:

— Agora ele já sabe, mas ele não participou. Ele sempre me deixou tomar qualquer decisão que ele apoiaria, porque eu estou sentindo aqui fora o que está acontecendo.

Em nota, assinada por Gama, a legenda anunciou que integrará a aliança em favor do candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves.

“Hoje, mais uma vez sintonizada com o desejo de mudanças que vem sendo expressado pela ampla maioria do povo brasileiro, o PTB declara seu apoio ao senador Aécio Neves para as eleições presidenciais desse ano”, diz a nota. “Essa decisão atende o clamor da maioria da bancada federal e de estados, onde os conflitos locais entre PTB e PT ficaram insustentáveis, como, por exemplo, Distrito Federal, Roraima, Piauí e Rio de Janeiro”.

O PT foi surpreendido pela decisão do PTB. Na convenção nacional que vai referendar a indicação da presidente Dilma, neste sábado, ministros e deputados disseram que foram pegos de surpresa e que não estava no radar do governo e do partido perder tão perto do fim do prazo das coligações o apoio do PTB.

— O PT não cumpriu nada que prometeu. Só nos empurrou com a barriga — diz um dirigente do PTB.
A cúpula do PTB, comandada por Benito Gama, estava reunida desde quinta-feira, em Brasília, arquitetando a virada de mesa. Entre os motivos elencados pelos petebistas estão a falta de apoio do PT a dois senadores: João Vicente Claudino, que desistiu de concorrer à reeleição no Piauí porque os petistas vetaram seu nome, e Mozarildo Cavalcanti, em Roraima, que também esbarrou na falta de apoio do PT.

Em nota oficial, o senador João Vicente (PTB-PI) disse que a decisão, "abrupta" e "inexplicável", faz parte do lado obscuro da política. E completou: "o PTB do Piauí vota em Wellington Dias (PT) e Dilma, enquanto estivermos na política".

A cúpula petebista diz também que o Palácio do Planalto se comprometeu em bancar a indicação do senador Gim Argello para o TCU mesmo sabendo dos processo dele na Justiça. No entanto, diante da repercussão, os petebistas viram o Planalto lavar as mãos - o que foi qualificado pelo PTB como "uma sacanagem" e alimentou o desejo de migrar para a candidatura de Aécio Neves.

O tucano vinha mantendo conversas com Benito há meses. Nos últimos anos, ele também conversava sistematicamente com o ex-presidente da legenda Roberto Jefferson, preso por envolvimento no mensalão. Segundo petebistas, pesou na decisão, agora, a desidratação de Dilma e a relação difícil estabelecida com as bancadas do PTB no Congresso Nacional. Na maioria dos estados, a decisão foi um alívio porque havia muita resistência ao apoio à reeleição.

Questionado se haveria algum tipo de constrangimento em receber apoio de um mensaleiro, já que historicamente o PTB é comandado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, condenado e preso no processo do mensalão, Aécio minimizou.

— É uma aliança de partido. Não cabe a mim fazer avaliações individuais — afirmou Aécio.

A convenção petista, que acontece neste sábado em Brasília, e está homologando a candidatura de Dilma Rousseff à presidência, foi alvo do tucano.

— Recebo informações de que na convenção do PT a palavra que mais se fala é mudança. Chego a conclusão que esse governo é tão ruim que até o PT quer mudar — afirmou Aécio.

As especulações sobre quem vai ser o vice na chapa do senador Aécio Neves ( PSDB) à presidência da República também marcou a convenção do Solidariedade, que confirmou o apoio aos tucanos. A aproximação entre PSDB e PSD conduzida nas últimas semanas por aliados de Aécio esfriou. Aumentou a especulação sobre o nome do ex-senador Tasso Jereissati caso os tucanos optem por uma chapa puro-sangue. O PSDB, disse Aécio, já acertou o apoio do PTB, que deverá fazer o anúncio oficial.

— Deixo para as lideranças do PTB se pronunciarem sobre isso - afirmou Aécio Neves, sem deixar de esconder o sorriso no rosto.

Segundo líderes do Solidariedade e de tucanos próximos a Aécio, a provável escolha de Márcio França (PSB) para vice do governador Geraldo Alckimin (PSDB) inviabilizou a aproximação com o PSD, que queria indicar o vice na chapa tucana ao governo paulista.

— Estávamos otimistas com a possibilidade de ter o PSD na nossa chapa, mas a escolha do PSB para a vice do Alckimin inviabilizou a aproximação — afirmou o presidente nacional do PSD, o deputado federal Paulinho da Força.

Apesar de ter declarado apoio público a presidente Dilma Rousseff (PT), o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, vinha negociando o apoio da legenda aos tucanos nas últimas semanas.

— Mas ainda há chances — afirmou um tucano próximo a Aécio.

Aécio Neves defende direitos trabalhistas

Agência Estado

SÃO PAULO (SP) - O presidente nacional e candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves, defendeu neste sábado (21) a consolidação dos direitos trabalhistas e uma política em defesa de melhores condições de vida para os aposentados brasileiros. O senador esteve em São Paulo para participar da convenção do Partido Solidariedade, que oficializou o apoio aos tucanos na eleição presidencial e na disputa pelo governo do Estado.

“Quero iniciar com os companheiros do Solidariedade uma travessia que resgate a dignidade dos aposentados brasileiros, dando a eles melhores condições de vida e mais esperança no futuro. Além disso, a consolidação dos direitos trabalhistas. Vamos reconciliar o Brasil com a decência e com a honestidade que abandonaram o governo federal”, afirmou Aécio Neves.

A convenção do Solidariedade reuniu cerca de 4,5 mil militantes e delegados na Casa Portugal, na Liberdade, região central de São Paulo. O evento contou com as presenças do presidente nacional do partido, deputado federal Paulinho da Força, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do ex-governador José Serra, do senador Aloysio Nunes, entre outras lideranças.

Ao discursar, Aécio fez questão de ressaltar que o partido, sob a liderança de Paulinho, nasceu para ser oposição, longe das benesses do governo do PT, e foi o primeiro a declarar apoio ao projeto nacional do PSDB.

“Hoje é um dia extremamente marcante na história da política brasileira. O Solidariedade foi o único partido criado recentemente no Brasil sem as benesses do governo. Nasce na oposição porque compreendeu que, ao invés de ficar ao lado do governo e seus favores, preferiu ficar ao lado dos trabalhadores brasileiros e de suas causas e demandas. O partido carrega consigo aquilo que é essencial para um partido crescer e continuar sua trajetória: coerência, coragem e firmeza de princípios”, destacou Aécio Neves.

Diante de muitos trabalhadores ligados à Força Sindical, Aécio defendeu o resgate da indústria nacional, setor que vive uma das piores crises da história. “Quero convidar o Solidariedade para governamos juntos o Brasil e iniciarmos uma nova agenda, para que possamos tirar o Brasil da estagnação e permitir o crescimento sustentável desse país e acabar com o processo de desindustrialização que desemprega brasileiros de todas as classes, em especial no estado de São Paulo, para retomarmos também a capacidade da nossa indústria em seus mais variados setores”, ressaltou o candidato do PSDB.

Paulinho
Em seu discurso, o presidente nacional do Solidariedade, deputado federal Paulinho da Força, agradeceu o apoio de Aécio no processo de criação da legenda.

“Somos um partido que nasceu na oposição porque nenhuma de nossas causas foram atendidas pelo governo. Não conseguimos, por exemplo, uma política salarial para os aposentados”, disse Paulinho.

Salário mínimo
O presidente do Solidariedade também destacou a parceria com o PSDB na apresentação do projeto de lei que prevê ganho real do salário mínimo para os trabalhadores.

“Enfrentamos um governo que trouxe de volta a maldita inflação, que corrói o salário dos trabalhadores e trouxe de volta o desemprego, através da desindustrialização. Precisamos de mudança, mudança para valer, para garantir os bons empregos no Brasil. E para mudar o Brasil só tem uma pessoa, Aécio Neves”, ressaltou Paulinho.

'Uma coisa é a campanha nacional e outra é a estadual', diz Campos

Marcela Balbino – Folha de S. Paulo

RECIFE - O presidenciável Eduardo Campos (PSB) minimizou a formação de palanques no Rio e em São Paulo com seus principais adversários na disputa presidencial, PT e PSDB, durante uma festa de São João promovida pelo governador João Lyra Neto (PSB), em Caruaru (PE), na noite de sexta-feira (20).

À tarde, o PSB de Campos firmou uma aliança nos dois principais colégios eleitorais do país: São Paulo e Rio de Janeiro. Um pessebista será vice do governador Geraldo Alckmin (PSDB), e Romário disputará o Senado na chapa de Lindbergh Farias (PT).

Campos afirmou a jornalistas em Caruaru que as campanhas serão feitas seguindo as "ideias e o programa" do PSB. "Uma coisa é a campanha nacional e outra é a estadual", disse.

"Vamos fazer a campanha em São Paulo com os nossos companheiros, com as nossas ideias, com o nosso programa, com os partidos que estão apoiando a nossa candidatura, como vamos fazer em todos os lugares do país."

Segundo Campos, o discurso sobre os palanques regionais faz parte do passado. "Até esse termo 'subir no palanque' é velho", disse. "Tanto eu quanto a Marina temos dito que a gente vai governar o Brasil com os melhores. E nós podemos governar o Brasil com os melhores do PT, do PSDB, com os melhores que não têm partido", afirmou o pré-candidato à Presidência.

Campos se disse "tranquilo" com o apoio ao candidato do PT, apesar das recorrentes críticas que faz ao partido, do qual foi aliado ao longo da vida política, chegando a assumir o posto de ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula.

"Tenho uma relação com Lindbergh que não é de hoje. Conheço desde que ele era líder estudantil na campanha do impeachment, fazendo minha campanha para prefeito em 1992. Nem por isso deixei de apoiar o Miro [Teixeira] como nosso candidato até ele desistir", disse.

Questionado sobre o desempenho na pesquisa CNI-Ibope de intenção de voto, em que aparece com 10% das intenções, atrás da presidente Dilma Rousseff (39%) e do tucano Aécio Neves (21%), Campos se disse otimista com a vitória nas urnas.

"Com certeza vamos estar no segundo turno e vamos ganhar a eleição, porque somos o único caminho capaz de unir o Brasil em torno de uma agenda renovadora, em torno da mudança na política e com a possibilidade de preservar as conquistas que tivemos nos anos passados e afirmar novas conquistas no futuro", afirmou.

Lula ataca oposição para animar militantes

• Dilma apostou em estilo ameno, enquanto aliados fizeram investidas mais agressivas contra críticos do governo

• Insuflada pelo presidente do PT, Rui Falcão, plateia entoou coro contra a Rede Globo e a 'mídia fascista'

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O papel de cada petista na campanha ficou bem delimitado na convenção que consagrou Dilma Rousseff como candidata à reeleição. Enquanto a presidente apostou em estilo ameno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do PT, Rui Falcão, fizeram investidas mais agressivas contra os adversários.

O objetivo era despertar o engajamento da militância. Nos bastidores, o diagnóstico é que a base petista está desanimada. Apesar de não reconhecer isso abertamente, Lula deu pistas.

"O que vai ganhar nas eleições não é o tempo de televisão, não é só a qualidade da propaganda, é a adrenalina que a gente for capaz de demonstrar cada vez que a gente sair nas ruas", afirmou.

Falcão pediu a volta "do entusiasmo e da paixão da campanha de 1989", a primeira eleição presidencial de Lula. Para motivar a plateia, fez críticas duras ao que chamou de "arautos do pessimismo" --a mídia que, segundo ele, "golpeia, falseia, manipula, distorce, censura e suprime fatos no intento de nos derrotar".

Neste momento, o público, pequeno para padrões petistas, se inflamou: "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". E seguiu: "Mídia fascista, sensacionalista".

"Esse país foi a vida inteira governado por doutores, engenheiros, intelectuais", disse Lula, numa referência velada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao PSDB.

High-Tech
O evento, preparado pelo marqueteiro João Santana para servir de matéria-prima aos programas do horário eleitoral, não economizou em sofisticação. Enquanto os petistas discursavam, imagens e mensagens eram projetadas em seis telões e no púlpito.

"Esta é uma convenção elite branca'", reclamou um petista integrante do governo, vestindo uma camiseta antiga, puída, que usara na convenção de 2002, bem menos pirotécnica e pomposa.

Os militantes, símbolo da força eleitoral do PT, compareceram em número menor. O local era pequeno, e a ocupação do auditório, limitada. Enquanto as estrelas do partido discursavam, militantes barrados se aglomeravam e reclamavam do lado de fora.

Aliados se distanciam do PT nos Estados

• PMDB, PSD, PP, PR e PDT estarão do lado oposto ao de candidatos petistas na maioria dos palanques regionais

• Principal parceiro na chapa de Dilma, PMDB enfrentará o PT em 16 Estados e apoiará rivais da presidente em 8

Patrícia Britto – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Os principais partidos que prometem apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff estarão em palanques opostos aos do PT na maioria das disputas estaduais deste ano.

A Folha levantou as pré-candidaturas já anunciadas para governador, vice-governador e senador de PMDB, PSD, PP, PR, PDT e PTB, aliados do Palácio do Planalto com as maiores bancadas na Câmara dos Deputados.

Em todas essas legendas, a quantidade de candidatos que disputarão votos contra um petista supera a de nomes que deverão compor chapa com a sigla.

O PMDB lidera em número de candidaturas contrárias ao PT. No cenário atual, em 16 Estados há um peemedebista em uma chapa majoritária oposta à chapa petista.

É o que ocorre em Estados de peso eleitoral como São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Em oito Estados, além de disputar contra o PT local, o aliado apoiará um dos prováveis adversários de Dilma.

No Acre e na Bahia, peemedebistas estarão em coligação que dará palanque para Aécio Neves, que concorre à Presidência pelo PSDB.

Em Pernambuco, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, o partido dará palanque para Eduardo Campos, pré-candidato pelo PSB.

No Piauí e em Roraima, o PMDB integra alianças tanto com PSDB quanto com PSB.

Maior partido da base governista, o PMDB confirmou neste mês, com 59% dos votos na convenção, o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

O PDT já confirmou em convenção nacional o apoio a Dilma, mas terá candidatos disputando contra petistas em sete Estados e estará no mesmo palanque em três.

No Distrito Federal, o deputado Reguffe (PDT) será candidato a senador na chapa de Rodrigo Rollemberg (PSB), que dará palanque para Eduardo Campos.

Entre os dirigentes de partidos, a lógica do "cada um por si" nos Estados é justificada pelas especificidades locais. O apoio a outro presidenciável é visto como natural, sobretudo quando o aliado encabeça a chapa contra um petista.

É o caso do PMDB, de Nelsinho Trad (MS), e do PP, de Ana Amélia Lemos (RS).

"Respeitamos as alianças regionais, mesmo que elas sejam com partidos de oposição. Mas o partido está com Dilma", diz Mário Negromonte, vice-presidente do PP.

O PDT é a exceção, pois defende apoio a Dilma mesmo em casos de aliança com partidos de oposição.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, critica a intenção de Reguffe de apoiar Campos. "Ele não vai fazer campanha para ninguém [para presidente]. No máximo, que faça a campanha dele. Nacionalmente, estamos com o PT."

O PSD, que tem lançado dúvidas sobre o apoio prometido a Dilma, disputará contra o PT em ao menos dez Estados e estará junto em dois.

O PP compõe duas chapas com o PT e está contra em 12. Deverá dar palanque para Aécio em cinco Estados. Em Pernambuco, a sigla está com Campos.

Já o PR estará com o PT em três Estados e será seu adversário em cinco.

Além disso, deve dar palanque para Aécio Neves no Acre e para Eduardo Campos no Rio Grande do Norte.

Deserção
O PTB, que havia prometido apoio a Dilma mas a trocou por Aécio Neves, já dava sinais de fragilidade na aliança e deve compor palanques com os petistas somente em Pernambuco e no Piauí.

Os maiores problemas entre os dois partidos estão em Minas Gerais, Estado de Aécio, e no Pará, onde Duciomar Costa (PTB) caminha para fechar aliança com o PSB e pedirá votos a Campos.

Na Paraíba, Wilson Santiago (PTB) avança em acordo para sair candidato ao Senado na chapa tucana. Afirma, porém, apoiar Dilma.

PT insiste na Copa como cabo eleitoral

• Na convenção petista que confirmou Dilma Rousseff candidata ao Planalto, Lula e a presidente negam atritos e tentam capitalizar as primeiras semanas do Mundial, sem registros de problemas graves e com poucas manifestações

- Correio Braziliense

A convenção do Partido dos Trabalhadores (PT), que oficializou a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, na manhã de ontem, em Brasília, uniu o discurso de "criador e criatura" para capitalizar eleitoralmente o sucesso da Copa do Mundo. Após duas semanas de competição sem registro de grandes problemas, Dilma, que havia esfriado o discurso pró-Copa antes do início do Mundial em razão das ameaças de greves e manifestações, criticou os descontentes, reforçou a estratégia do "nós contra eles" e exaltou o êxito da infraestrutura brasileira para receber a competição.

O mote do Brasil provedor de um grande evento embrulhou a tese de que Dilma representa a única candidatura capaz de ampliar as mudanças em curso no país. "A Copa está dando uma goleada descomunal nos pessimistas, naqueles que diziam que ela não ocorreria. Antes de tudo, vamos amar nosso país, nossa camiseta verde e amarela, nossa seleção, e não vamos deixar jamais o ódio ganhar", discursou a presidente para delírio dos mais de 800 delegados petistas que compunham a plateia.

O discurso enfadonho e extremamente didático da presidente, que fez muitos militantes irem embora, ganhou um tom mais emotivo no fim. Sem citar o episódio em que foi xingada durante a abertura da Copa do Mundo, em São Paulo, a petista reagiu mais uma vez. "Recolhamos as pedras que lançam contra nós e vamos transformar essas pedras em tijolos para fazer o Minha Casa, Minha Vida. Vamos recolher os xingamentos, impropérios, grosserias e transformar em versos e canções de esperança sobre o futuro do nosso país. Com a força do povo, vamos vencer de novo", afirmou.

Antes de Dilma, o ex-presidente Lula, ovacionado pela militância petista, fez questão de ressaltar o seu protagonismo no processo eleitoral. Ao se referir à presidente como criatura, acabou, mesmo sem querer, reforçando a tese de que é capaz de eleger uma candidata sem luz própria. "A gente vai provar que é possível uma presidenta e um ex-presidente terminarem seu mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois, numa demonstração de que é plenamente possível o criador e a criatura viverem juntos em harmonia", discursou.

A maior estrela petista deu o mote da festa. Em vários trechos do discurso de improviso, citou a Copa do Mundo como exemplo de sucesso e da capacidade do governo brasileiro. Como de praxe, arrancou gargalhadas da plateia e atacou adversários com bom humor. "O que o país tem que mostrar já mostrou. Os estádios estão todos inaugurados, de maior qualidade, para fazer qualquer inglês morrer de inveja. Os campos estão de tão boa qualidade que a [Arena] Fonte Nova virou palco da maior quantidade de gols desta Copa. Ou seja, quem quer aprender a fazer gols vai para a Bahia", brincou.

Estrutura de luxo
A convenção do PT, milimetricamente pensada pelo marqueteiro João Santana, teve pompa e artifícios tecnológicos. Enquanto Dilma discursava num púlpito vermelho de LED, os números e avanços da sua gestão eram projetados em telões gigantes montados no fundo do palco. Com o auditório lotado, muitos militantes foram barrados na entrada. Após o início da convenção, forçaram a porta principal e conseguiram ter acesso ao local.

Para ter maior visibilidade, a organização do evento permitiu que pré-candidatos nas eleições de outubro subissem ao palco, a exemplo do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (candidato em São Paulo); do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (reeleição); da ex-ministra da Casa Civil senadora Gleisi Hoffmann (Paraná); do ex-ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel (Minas Gerais) e do senador Lindbergh Farias (Rio de Janeiro). O presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi vaiado quando a locutora oficial do evento anunciou o seu nome.

Sem fazer referência direta aos dois principais adversários, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) Dilma, assegurou que só ela é capaz de aprofundar as transformações no país. "O Brasil, temos certeza, tenho consciência disso, o Brasil quer seguir mudando pelas mãos daqueles que já provaram que têm capacidade de transformar profundamente o país e melhorar a vida do nosso povo. Nós tivemos a competência de implantar o mais amplo e vigoroso processo de mudança do país, que, pela primeira vez, colocou o povo como protagonista", disse. Lula afirmou que "na cabecinha deles, mulher nasceu para ser objeto de cama e mesa. Para a gente, mulher é agente transformador".

Logo na abertura da convenção, o presidente do PT, Rui Falcão, alfinetou Eduardo Campos. "Direitistas convictos subitamente travestiram-se em socialistas de ocasião, ornamentando novos palanques com sua ideologia de museu." A convenção também marcou o lançamento do slogan da campanha petista: "Mais mudanças, mais futuro". A militância também conheceu o jingle que vai embalar a campanha, um xote que chama Dilma de "coração valente".

"A Copa está dando uma goleada descomunal nos pessimistas, naqueles que diziam que ela não ocorreria. Antes de tudo, vamos amar nosso país"
Dilma Rousseff, presidente da República

"O seu governo (Dilma) foi um governo para todos os brasileiros. Vamos acabar com essa besteira de dizer que o presidente Lula e a presidenta Dilma trabalharam apenas para um setor"
Michel Temer, vice-presidente da República

"A gente vai provar que é possível uma presidenta e um ex-presidente terminarem seu mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois"
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República

"Direitistas convictos subitamente travestiram-se em socialistas de ocasião (para as eleições), ornamentando novos palanques com sua ideologia de museu"
Rui Falcão, presidente do PT

'Governo é tão ruim que até PT quer mudar', diz tucano

Isadora Peron e José Maria Tomazela - Agência Estado

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse neste sábado que o governo da presidente Dilma Rousseff é "tão ruim que até o PT quer mudá-lo". O tucano aproveitou o fato de receber o apoio do Solidariedade (SDD) em São Paulo no mesmo horário em que os petistas realizavam convenção nacional, em Brasília, para criticar sua adversária na eleição.

"Sabe qual é a palavra que mais se fala hoje (ontem) na convenção do PT? É mudança! A constatação que eu faço é que esse governo é tão ruim que até o PT quer mudá-lo", afirmou.

Em sua mais difícil disputa presidencial desde 2002, o PT adotará o slogan Mais Mudanças, Mais Futuro, e Dilma deve reforçar o discurso de que só quem fez no passado é capaz de fazer mais de agora em diante.

Na convenção do SDD, Aécio foi recebido com festa pelos militantes do partido criado no ano passado pelo deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, e apontado pelo anfitrião como a "pessoa certa" para fazer as mudanças. Paulinho, como prometido aos tucanos, evitou ataques diretos à Dilma.

Aécio fez um discurso inflamado, com críticas à política econômica do governo e um apelo à necessidade de retomar a ética no País. Como falava a um público formado principalmente por sindicalistas, o candidato garantiu que, se eleito, vai manter os direitos trabalhistas e resgatar a "dignidade dos aposentados".

O discurso de que Aécio seria o mais preparado para fazer as mudanças que o País precisa foi adotado por outros tucanos presentes no ato, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador José Serra. Alckmin, que também terá o apoio do SDD, disse que ele e Aécio estarão juntos para "servir ao Brasil". Serra afirmou que o PSDB confiou a Aécio a "missão de mudar o Brasil".

Campos admite falta de força nos Estados

• Pré-candidato do PSB reconhece limitações ao justificar acordos locais com PSDB e PT

Angela Lacerda, Luciana Nunes leal - O Estado de S. Paulo

CARUARU, RIO - O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, justificou ontem a aliança de seu partido com o PSDB em São Paulo e com o PT no Rio. "Não temos partidos fortes o suficiente para termos candidatos competitivos em todo o Brasil", afirmou Campos na noite de anteontem em Caruaru, no agreste pernambucano.

O PSB defende a quebra da polarização entre PT e PSDB na esfera nacional, mas o ex-governador de Pernambuco deu aval para a legenda fechar alianças com tucanos em São Paulo e petistas no Rio, respectivamente o primeiro e o terceiro maiores colégios eleitorais do País. Em São Paulo, o PSB indicou o vice na chapa da reeleição do tucano Geraldo Alckmin; no Rio, a chapa que tem o senador Lindbergh Farias (PT) na disputa ao governo contará com o deputado federal Romário (PSB) como candidato ao Senado.

Campos concedeu entrevista na noite de anteontem ao participar de festa junina promovida pelo governador João Lyra Neto (PSB), na Fazenda Macambira, a 130 quilômetros do Recife. "Não queremos ser donos da verdade, para quem só presta quem é filiado ao nosso partido", disse Campos. "Uma coisa é campanha nacional, outra é campanha estadual."

O apoio do PSB a Alckmin incomodou a pré-candidata a vice-presidente em sua chapa, Marina Silva. A ex-ministra reafirmou anteontem que, ao se filiar ao partido de Campos, deixou acertado que, nos Estados em que não houvesse consenso entre PSB e Rede - movimento do qual é líder -, seu grupo estaria livre para seguir caminho independente. Já a aliança com o PT no Rio foi chamada pelo deputado federal Alfredo Sirkis, que é do PSB, mas integra o movimento ligado a Marina, de "suruba".

Questionado se terá agenda de campanha em São Paulo ao lado de Geraldo Alckmin - o deputado federal Márcio França (PSB) é o nome mais cotado para a vice do tucano -, Campos desconversou. "Vamos fazer a campanha em São Paulo com os nossos companheiros, com as nossas ideias, com o nosso programa, com os partidos que estão apoiando a nossa candidatura, como vamos fazer em todos os lugares do País."

O ex-governador de Pernambuco avaliou que "esse discurso, esse debate sobre os palanques regionais, se acabou". "Tanto eu quanto a Marina temos dito que a gente vai governar o Brasil com os melhores e nós podemos governar o Brasil com os melhores do PT, do PSDB, com os melhores que não têm partido", reiterou o pré-candidato.

'Tranquilo'. Indagado sobre como pretende conciliar o discurso que prega o fim do ciclo do PT no governo federal com a indicação de Romário na chapa do petista Lindbergh, Campos afirmou que respeita a base partidária, que é quem vai decidir o que fazer no Rio. "Estou tranquilo. O que vamos discutir com o Rio é a crise do setor energético que atinge o Estado em cheio, é a Petrobrás com metade do seu valor, sem investir e sem pagar muitas vezes, levando empresas a fechar", disse.
Campos lembrou conhecer Lindbergh desde 1992, durante a campanha do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. O senador petista era líder estudantil e apoiou a sua candidatura - derrotada - para a prefeitura do Recife.

O ex-governador de Pernambuco disse ainda ter apoiado Miro Teixeira (PROS) para o governo do Rio até ele desistir da disputa. "Lamentamos que ele não pudesse ter tido as condições políticas de ir adiante."

Força. A coligação do PSB com o PT no Rio foi aprovada em convenção realizada ontem, um dia após a formalização da aliança com Alckmin em São Paulo. O principal argumento dos defensores da aliança foi de que é a melhor opção para fortalecer a candidatura do ex-governador.

A convenção aprovou ainda a candidatura de Romário ao Senado. Romário, porém, disse que não subirá no palanque da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, aliada de Lindbergh, e não poupará críticas ao governo federal. "Fizemos uma aliança para mudar o Rio. Continuarei sendo crítico notório do governo federal e do governo estadual. Nada mudará minha posição sobre o que tem sido feito de ruim pelo governo federal. Não estarei no palanque da Dilma", afirmou.

Lindbergh disse não haver incoerência na aliança com o PSB. "Somos companheiros de muitas batalhas. Porque temos dois candidatos a presidente somos inimigos? Não existe isso", discursou o senador petista. Lindbergh ainda apostou que o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) vai desistir de disputar o Senado. "Enfrentar o Baixinho (apelido de Romário) não vai ser fácil. Só de colocar sua candidatura, Romário, você pode estar anunciando o fim de um ciclo."

Apoio de olho no posto de vice

• Solidariedade formaliza presença na coligação de Aécio Neves e oferece nome para compor a chapa tucana na corrida pelo Planalto. Decisão sobre o número dois da campanha só deve sair no último dia de convenções, em 30 de junho

- Correio Braziliense

Em convenção nacional em São Paulo, o Solidariedade (SDD) oficializou ontem apoio à candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República. "O Solidariedade não apenas participa da nossa aliança, mas daquilo que será fundamental para os brasileiros, que é a formulação do nosso programa de governo", anunciou o presidenciável. No encontro, foi aprovada a indicação do nome do presidente da Força Sindical, Miguel Torres, para a vaga de vice na chapa de Aécio Neves.

O candidato deve anunciar o escolhido para compor sua chapa só em 30 de junho, último dia para definir as candidaturas. Na convenção, o presidenciável comparou a indecisão da escolha do vice ao time da seleção pelo "excesso de nomes qualificados". "É como o problema do Felipão: tem muita gente boa no banco para entrar e muita gente boa em campo. O que precisamos é azeitar o time. É fazer com que o vice seja complementar ao candidato a presidente e à estratégia da chapa", disse. "E, no dia 30, vamos escolher o que seja melhor para vencer as eleições", anunciou.

Presidente nacional do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva não poupou críticas ao governo do PT durante discurso de apoio a Aécio. "Estamos na oposição porque nenhuma de nossas reivindicações foi atendida", justificou. "Enfrentamos um governo que trouxe de volta a maldita inflação e o desemprego através da desindustrialização. Destruíram a Petrobras com roubalheira", criticou. Já Aécio considerou o apoio uma atitude de coragem. "O Solidariedade nasce na oposição porque compreendeu que deveria ficar ao lado dos trabalhadores e não do governo. Teve coragem!", disse. "Sabe a palavra que mais se fala na convenção do PT? Mudança. Esse governo é tão ruim que até o PT quer mudar", emendou.

Corrupção
O presidenciável ressaltou que seu governo vai tirar o Brasil da "estagnação para permitir o crescimento sustentável e acabar com o processo de desindustrialização" registrado em São Paulo. "Quero iniciar uma travessia que resgate a dignidade dos aposentados brasileiros; reconciliar o Brasil com a decência e a honestidade que abandonaram o governo federal. Vamos reestatizar a Petrobras, que o governo ocupou com um projeto de poder", atacou Aécio Neves.

O presidenciável também minimizou o fato de ter de dividir palanque com Eduardo Campos (PSB-PE) em alguns estados. "O PSDB apresentará ao Brasil um projeto que vai substituir o aparelhamento da máquina pública, a ineficiência, a visão atrasada de mundo, que se transformaram nas principais marcas do governo do PT. Da nossa parte, não há absolutamente nada a explicar". Depois do evento, Aécio ainda comemorou a adesão do PTB à campanha (Leia na página 4). Na convenção, o Solidariedade também anunciou apoio à reeleição de Geraldo Alckmin em São Paulo.

"O que precisamos é azeitar o time. É fazer com que o vice seja complementar ao candidato a presidente e à estratégia da chapa"
Aécio Neves, candidato à Presidência pelo PSDB

Luiz Werneck Vianna: O 'grande número' e a política

- O Estado de S. Paulo

Desde junho de 2013 as ruas não têm dado tréguas em suas manifestações, primeiramente sob as bandeiras dos direitos, como os de acesso à saúde, à educação e à mobilidade urbana, e, nesta segunda onda dos dias presentes, com o claro registro da dimensão dos interesses. Em poucos meses, mudaram os temas e os personagens. As camadas médias, antes com massiva participação, cederam lugar a categorias de trabalhadores demandantes de melhorias salariais, por vezes à margem da orientação dos seus sindicatos, e a movimentos sociais de extração social difusa, como os do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), boa parte deles sob a influência de partidos da esquerda radicalizada.

Os diagnósticos que nos vêm da mídia são uniformes na interpretação economicista do mal-estar reinante na população, carregando nas tintas o tema da inflação, segundo eles, palavra-chave da sucessão presidencial que se avizinha. Contraditoriamente, tal diagnóstico convive sem conflito aparente com o reconhecimento por parte de analistas de diversas orientações de que, nos últimos anos, indicadores confiáveis atestariam o alcance de setores subalternos a melhores padrões de consumo e de acesso ao mercado de trabalho. Muitos deles até sustentando que tais setores já fariam parte das classes médias. Conquanto essas duas interpretações contenham seu grão de verdade, elas apontam, como é intuitivo, para direções opostas, embora guardem em comum o mesmo viés economicista e a mesma distância quanto à política.

O fato novo que temos diante de nós vem, precisamente, dessa região oculta da Lua e se manifesta na ruptura da passividade em que se mantinha o "grande número", para flertar com a linguagem de um grande autor em suas alusões ao homem comum da sociedade de massas. As duas florações da social-democracia - a do PSDB e a do PT -, no governo por duas décadas, cada qual no seu estilo, embora a do PT venha sendo a mais desenvolta na intervenção sobre a questão social, não só têm estimulado, mesmo que indiretamente, a procura por parte dos setores subalternos da porta de acesso aos direitos da cidadania, como atuado no sentido de consolidar as liberdades civis e públicas previstas na Carta Magna de 1988. Os limites em que o governo da presidente Dilma Rousseff se manteve no curso da Ação Penal 470, o processo dito do "mensalão", em que estavam envolvidos importantes dirigentes do PT, é um exemplo disso.

A passividade do "grande número" ao longo desse período - evita-se o uso do termo multidão para manter distância das ressonâncias metafísicas com que ele, ultimamente, tem sido empregado - certamente não foi indiferente às políticas bem-sucedidas dos governos social-democratas - declarados como tal ou não - que têm estado à testa da administração pública, entre os quais a do Plano Real e a do Bolsa Família, mencionado este último apenas pela sua efetividade.

Contudo, malgrado as diferenças entre PSDB e PT, inscritas no DNA de cada um deles, ambos optaram por estilos de governo tecnocráticos. No caso do PT, bem camuflado por instituições como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, logo esvaziado, e pelas reuniões informais entre o ex-presidente Lula e as lideranças sindicais. E, sobretudo, pela incorporação de movimentos sociais ao aparelho de Estado, marcas fortes dos governos de Lula. Para os setores organizados e próximos ao partido, tais práticas podiam ser vivenciadas como um sucedâneo de democracia participativa, mesmo que suas deliberações fossem, em última instância, dependentes da discrição governamental.

Quanto aos intelectuais, em que pese a forte atração que o PT exerceu sobre eles no momento de sua fundação, incluídas grandes personalidades do mundo da ciência e da cultura, eles não encontraram em sua estrutura partidária um lugar próprio para exercer influência, rebaixados à situação de massa anônima de simpatizantes. Nessa posição marginal, eles se confortaram na crença dos poderes carismáticos da sua liderança, bafejada por sua origem operária, e hoje padecem de desencanto com a revelação dos muitos malfeitos com origem na máquina governamental.

O PSDB, por sua vez, partido formado por intelectuais, não somente os deixou à deriva, como igualmente se manteve ao largo dos movimentos sociais e do sindicalismo, confiante nos louros conquistados com os êxitos do Plano Real. Assim, se o PT se recusava a vestir a carapuça da social-democracia, que lhe cabia tão bem, o PSDB assumiu-a apenas no plano do discurso, com seu núcleo duro constituído por elites de formação e trajetória tecnocráticas. Nem um nem o outro enfrentaram o desafio da "ida ao povo". Na versão petista, o sindicalismo tem-lhe feito as vezes e, na do PSDB, a massa de consumidores. Nas favelas e nos bairros populares, em termos de organização partidária - não de voto, frise-se -, em meio a um oceano de evangélicos, não se nota a presença deles.

Nessas condições, a ativação do "grande número", a que se assiste desde junho do ano passado e, ao que parece, não vai recuar nem mesmo diante da Copa do Mundo, tem encontrado à sua frente um terreno político desertificado. Nada a surpreender quanto à sua descrença na política e à selvageria de muitas de suas manifestações, fato que o governo do PT reconhece agora, de modo tardio, atabalhoado e, como sempre, vertical, com a criação por decreto dos conselhos populares de participação na administração pública.

Seja lá o que o destino reserva a essa iniciativa discricionária, que não nos chega em momento propício, já está na hora de fazer ouvidos moucos aos ideólogos do economicismo, confessos ou encapuzados, que confundem o consumidor com o cidadão e a política com o cálculo eleitoral.

* Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador da PUC-Rio.

Merval Pereira – Sem salto alto

- O Globo

A convenção do PT que aclamou a presidente Dilma como sua candidata à reeleição trouxe a boa notícia de que o partido, fora algumas poucas exceções, decidiu não incorporar a política do ódio às elites à sua estratégia eleitoral, como sugerira o ministro Gilberto Carvalho em uma extemporânea entrevista a blogueiros chapa-branca.

Carvalho parecia fora do tom oficial, mas estava apenas alertando que o caminho escolhido estava errado, já que reconhecer os problemas é a primeira coisa a fazer para tentar superá-los.

O próprio ex-presidente Lula, com uma modéstia que não é de seu feitio, ontem comparou a candidatura de Dilma à seleção da Costa Rica, que vem fazendo furor na Copa do Mundo ao derrotar seguidamente o Uruguai e a Itália e classificar-se antecipadamente no chamado “Grupo da Morte”.

Como a presidente Dilma continua liderando as pesquisas de opinião, embora em decadência na avaliação do eleitorado, aceitar que ela já não é a favorita deve ter custado muito a Lula e ao PT. Também o ministro Gilberto Carvalho deu declarações no mesmo sentido, admitindo que é preciso reverter o quadro eleitoral, embora ele ainda seja favorável à candidata do PT: “Vocês não tenham dúvida de uma coisa, eu tenho convicção, quando a campanha eleitoral começar e nós pudermos mostrar o nosso projeto... nós vamos reverter esse processo”, disse ele.

É legítimo supor que a direção do partido sabe exatamente para que lado o vento está soprando, justamente esse vento de mudanças que o principal candidato oposicionista, o tucano Aécio Neves, anuncia que se transformará em uma tsunami que varrerá o PT do poder.

As mais recentes pesquisas eleitorais mostram uma série de visões negativas sobre todos os aspectos do governo Dilma, que aponta para novas quedas de popularidade à medida que o tempo passa. Aos que pensam em reverter esse quadro apenas com a propaganda eleitoral no rádio e na televisão, o expresidente Lula fez uma advertência: não é só com propaganda bem feita que se vencerá a eleição, mas mostrando os resultados dos 12 anos de governo do PT em comparação com os governos anteriores, especialmente do PSDB.

Fora a obsessão por Fernando Henrique Cardoso, que beira o ridículo — ontem se referiu ao expresidente tucano como “ele”, sem pronunciar o nome —, Lula deu algumas pistas interessantes sobre a eleição presidencial que se avizinha. O “nós” contra “eles” continua sendo a tática, mas, ao que tudo indica, pelo menos neste começo de campanha, a comparação será feita com dados e números, não com agressões.

Será uma tarefa difícil tentar convencer os cerca de 70% dos eleitores que querem mudanças sem a presidente Dilma que ela está capacitada a liderar esse processo de renovação, mas o slogan da campanha já mostra essa disposição: “Muda mais, Brasil”.

Pode ser um tiro no próprio pé se não convencerem os eleitores de que o país pode mudar com mais quatro anos com o PT no governo. Mas não há dúvida de que a presidente Dilma começou bem a campanha, apresentando um “Plano de Transformação Nacional”, tentando jogar para frente o debate eleitoral.

Certamente será questionada sobre sua capacitação para transformar o país, se nos últimos quatro anos não conseguiu fazer a economia se desenvolver. A desculpa dada no discurso de ontem de que ela e Lula herdaram uma herança maldita difícil de ser superada é uma desculpa esfarrapada, que certamente será contestada pelos adversários de oposição.

Mas começar a campanha sem salto alto e consciente de que esta será uma disputa presidencial mais difícil e dura que qualquer outra já travada pelo partido, como admitiram vários dirigentes petistas, mostra que o partido está em alerta e disposto a enfrentar as dificuldades, o que exige uma militância aguerrida nas ruas.

A questão é que essa militância já não tem mais aquela alma que a distinguia da dos demais partidos, assim como o PT transformou-se em mais um na geleia geral partidária brasileira. Porém, o PT é de longe o partido mais bem equipado para a disputa eleitoral, dado sua estrutura e organização nacionais e o dinheiro que vem arrecadando ao longo dos anos em que está no poder

Dora Kramer: A primeira vítima

- O Estado de S. Paulo

A frase é conhecida: "Na guerra, a primeira vítima é a verdade". A autoria é controversa, mas a aplicação cabe de maneira inquestionável à reação do PT ante a constatação do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, de que a avaliação negativa sobre o governo não é coisa só da "elite branca".

Baixou o desconforto no partido após a divulgação da conversa dele com blogueiros amigos, justamente às vésperas da convenção que oficializaria ontem a candidatura de Dilma Rousseff com ato de desagravo à presidente devido à agressão verbal sofrida na abertura da Copa.

Se de um lado Carvalho enfraqueceu o estratagema com seu testemunho imune a acusações de "golpismo", de outro o PT demonstrou que encara essa eleição como uma guerra e não se intimida em fazer da verdade sua primeira vítima.

Qualquer coisa serve para construir uma narrativa que sirva para desviar a conversa dos problemas concretos. Da economia que patina, do atendimento de saúde sofrível, da educação vergonhosa, da segurança pública abaixo da crítica, da inflação ameaçadora, do crescimento pífio, do envio da ética às favas, da transformação do Estado em aparelho partidário etc.

Os companheiros de Gilberto Carvalho acharam que ele deu munição ao adversário ao dizer aos blogueiros, em conversa transmitida pela internet, coisas que os entusiastas do "Volta, Lula" dentro do partido dizem de Dilma Rousseff com palavras muito menos gentis. Algumas não ficando nada a dever às pronunciadas naquela tarde no Itaquerão.

Ora, o primeiro a fornecer munição contra si foi o próprio governo produtor de todos os escândalos, trapalhadas políticas, desacertos administrativos e zigue-zagues na política econômica; e também o partido na aflição de ver Dilma fora da disputa pelo medo de perder a eleição. A oposição, como se sabe, em todo o período teve desempenho pífio.

O "erro" do secretário-geral for ter dito isso no momento em que os petistas acreditaram ter achado uma mina para explorar, fazendo de Dilma a vítima de falta de educação alheia. Já haviam tentado a tática dos fantasmas; ninguém deu bola, as pesquisas continuaram no mesmo diapasão negativo.

Veio em seguida a história do ódio que seria vencido pela esperança e, de novo, nada. Por último, deu-se o inusitado: vaia transformada em elogio, em trunfo eleitoral a ser explorado até o osso.

Saiu a primeira pesquisa realizada depois de iniciada a Copa e onde estava registrada aquela solidariedade toda à presidente? Pelos números, ateve-se às manifestações ao terreno da civilidade, nada tendo a ver com política ou eleições.

Na realidade, a pesquisa do Ibope mostra que, em termos de decisão de voto do eleitor, as intenções estão temporariamente suspensas, porque os interesses estão voltados para os jogos. Os candidatos, todos eles, variaram pouca coisa, para mais ou para menos. Quadro, portanto, estável.

Essa estabilidade também se repete nos índices negativos de avaliação do governo, cuja desaprovação se mantém superior (33%) à aprovação (31%). Todas as políticas públicas tiveram altas taxas de rejeição, sendo que a Saúde atingiu 78%, mesmo com toda a propaganda em torno do programa Mais Médicos.

Com Bolsa Família e tudo, a desaprovação para a área de combate à pobreza é de 53%. Os que não confiam na presidente são 52% dos pesquisados. Ela continua na frente com 39% das intenções de votos, o mesmo patamar de 2010 a essa altura do ano. Com uma diferença: estava em ascensão e representava um governo com avaliação negativa de 4%.

Dilma é conhecida por 99% dos que responderam à pesquisa, sendo que 43% dizem que não votam nela de jeito nenhum. Convenhamos, haja elite branca para dar conta disso tudo.

Essa é uma verdade expressa em números que o PT insiste em abater a golpes de invencionices que seriam apenas infantis, não fossem motivadas por boa dose de má-fé.

Eliane Cantanhêde: 'Nós' contra todo mundo

- Folha de S. Paulo

O ex-presidente Lula, como sempre a estrela da convenção do PT, ampliou indefinidamente os inimigos a serem combatidos com "adrenalina" pelos petistas: em vez de centrar fogo nos governos tucanos, em Aécio Neves e em Eduardo Campos, ele abriu a metralhadora giratória para guerrear contra os séculos anteriores, contra os 500 anos de história brasileira.

O grito de guerra, portanto, passou a ser "nós" contra todo mundo, contra tudo e todos os que não votam --ou não votam mais-- no PT e estão sendo jogados numa mesma vala comum: a "direita", os "oligopólios", os "neoliberais", a "mídia", o "capital especulativo", os "antipopulares". Se você, leitor, ousa apoiar outras candidaturas, pode tentar se encaixar num desses estereótipos.

Além de reaquecer a militância, ainda um dos bons ativos do PT, a estratégia foi também para mexer com os brios, constranger e provocar o imaginário do eleitorado mais bem informado. Afinal, quem quer, e quem pode, ser contra o povo, contra os pobres, contra a grande maioria da população brasileira?

Mas, já que mais de 70% dos eleitores defendem "mudanças", a convenção centrou o discurso e as energias na "esperança" e no "futuro" (contra os "agourentos", como disse Rui Falcão, presidente do PT).

Lula, que tratou a ele mesmo e a Dilma como "criador e criatura", precisou admitir indiretamente que nem tudo está tão bom, na medida em que prometeu: se Dilma ficar, o segundo mandato "vai ser muito melhor".

E Dilma, também para suplantar as críticas a seu governo e para dar o fecho de ouro à fala de Lula sobre a guerra contra os séculos, fez uma longa lista de programas, focando nos sociais, e jogou as expectativas na estratosfera: mais do que meras "mudanças", comprometeu-se com "um novo ciclo de desenvolvimento, um novo ciclo histórico".

O principal: Lula e Rui Falcão admitiram claramente que não será uma eleição fácil. Não será mesmo.

João Bosco Rabello: Roteiro autoritário

- O Estado de S. Paulo

Parece que na medida em que caem os índices da presidente Dilma Rousseff, o PT intensifica o discurso autoritário numa incompreensível reação à insatisfação do eleitor com o governo, com origem na baixa qualidade dos serviços públicos.

Não é perceptível o que orienta o partido a investir num discurso ideológico radical ante a cobrança por resultados que, ruins, afetam o cotidiano do cidadão. E de insistir na estratégia de encontrar bodes expiatórios para oferecer ao eleitorado.

Nessa toada, o partido já produziu o discurso do medo, depois o do ódio, apostou na divisão de classes, elegendo uma elite branca como a adversária da sua candidata, produziu um decreto criando conselhos populares para enfrentar o Congresso e, por fim, a pérola das pérolas, uma "lista negra" de jornalistas.

Sem esquecer a pauta permanente da censura à imprensa. O conjunto da obra o alinha ao discurso e prática militares dos anos da ditadura, sem a força das armas, mas com o patrulhamento ideológico que considera impatrióticos e direitistas todos aqueles que não concordam com o governo.

Os jornalistas independentes são para o PT os subversivos que conspiram contra a pátria, tal qual nos tempos de exceção.

A lista de nomes também era comum à época e os censores nas redações precisariam ser reproduzidos para que o controle da mídia, pregado pelo partido, fosse aplicado.

Não se deve duvidar do surgimento de outras listas, com profissionais de outras atividades, intelectuais divergentes, artistas, o que equivaleria a uma versão tupiniquim do macarthismo que marcou o auge do anticomunismo nos Estados Unidos, acusado de imperialista pelo PT.

É de se concluir que o poder fez mal ao PT. Os maus resultados da gestão petista, que atingem antes o País, lançaram a legenda na busca de uma narrativa para a campanha eleitoral, de forma tão errática, que o impensável aconteceu: o ministro Gilberto Carvalho, olhos e ouvidos de Lula no Planalto, desmentiu a tese do ex-presidente sobre a "elite branca", eleita como a que vaiou e xingou a presidente Dilma no estádio.

O episódio, que já valeu reprimendas ao ministro de Lula, reflete a desorientação na campanha da presidente Dilma, dividida entre os que acham que ela deve radicalizar o discurso e os que defendem que apresente realizações.

Há pouco o que mostrar e o marketing não pode tudo, especialmente vender o que não existe, mas foi anunciado. Essa realidade restringe a campanha de Dilma ao discurso propositivo, o que é insuficiente para um partido no poder há mais de uma década.

Luiz Carlos Azedo: Dilma, a candidata

- Correio Braziliense

A convenção nacional do PT confirmou ontem a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, num evento marcado pela radicalização do discurso político da legenda e da própria candidata contra os adversários. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva endossou a candidatura, mas deixou no ar, porém, a existência de divergências entre ambos. Em seus discurso, Dilma fez um apelo à militância petista: "Eu preciso, sim, de mais quatro anos para poder completar uma obra à altura dos sonhos do Brasil. Para fazer isso, eu preciso do apoio dos brasileiros, especialmente desta grande militância. Precisamos ir às ruas, contar o que fizemos e o que podemos fazer."

Dilma fez discurso de incompreendida: "Quero falar sobre as grande mudanças que vamos enfrentar. Aliás, não paramos de enfrentar desde o dia em que tomei posse. Se no início a esperança venceu o medo, nesta eleição a verdade deve vencer a mentira e a desinformação", disse. Na verdade, a petista ainda precisa provar aos eleitores que seu governo é uma continuidade dos dois mandatos de Lula, diante dos atuais índices de rejeição à candidata (43%, segundo o Ibope) e da queda na avaliação do governo (31% de ótimo e bom; 34% de regular; e 33% de ruim/pésimo), mesmo com o sucesso da Copa. Ela procurou responder ao sentimento de 45% da população de que o atual governo é pior do que o do ex-presidente Lula (em março, esse percentual era de 42%).

Não se rende
Não foi uma convenção festiva, na linha do "paz e amor" que levou Lula ao poder. Os dirigentes petistas e a própria Dilma foram duros contra a oposição e sinalizaram uma resposta ideológica na campanha aos desafios enfrentados pelo governo na economia, aos desgastes de imagem na opinião pública e à defecção de aliados da base governista. Depois de citar as contingências que enfrentou em decorrência da crise mundial, Dilma anunciou que não pretende mudar o rumo de sua política econômica.

"Não fui eleita para para trair a confiança do meu povo, para arrochar os salários do trabalhador. Essa não é a minha receita, não fui eleita para vender o patrimônio público como fizeram no passado, para mendigar dinheiro para o FMI porque não preciso colocar de novo o país de joelhos como fizeram. Fui eleita, sim, para governar de pé e com a cabeça erguida", disse Dilma. Também procurou capitalizar os desgastes do Congresso e dos políticos na sua proposta de reforma política. Na essência, é o projeto do PT para institucionalizar a sua própria hegemonia no Executivo, mesmo em minoria no Congresso.

"A transformação social promovida pelos nossos governos criou as bases para uma grande transformação democrática e política no Brasil. Nossa missão é dar vida a essa transformação, sem interromper a marcha da transformação social em curso. Eu não vejo nenhum caminho para a reforma política que não passe pela participação popular e que não desague num grande plebiscito", afirmou a presidente. O discurso do "ódio das elites" contra o PT também foi lembrado, numa referências aos xingamentos que sofreu na abertura da Copa do Mundo na Arena Corinthians, em São Paulo.

Volta, Lula!
Lula minimizou as divergências com Dilma, que nos bastidores da base governista e do próprio PT alimentaram o movimento "Volta, Lula!". "A gente vai provar que é possível uma presidenta e um ex-presidente terminarem seu mandato sem que haja nenhum atrito entre os dois, numa demonstração de que é plenamente possível o criador e a criatura viverem juntos em harmonia. Quando houver divergência entre a Dilma e eu, a divergência termina porque a Dilma sempre estará certa e eu estarei errado", afirmou o ex-presidente. Em encontros com empresários, políticos aliados e dirigentes petistas porém, Lula tem criticado a forma como Dilma conduz a economia e se relaciona com os meios empresariais e políticos. Recentemente, reuniu a cúpula da campanha sem a presença de Dilma para criticá-la.

Com a convenção, o PT só pode trocar de candidato se Dilma desistir da disputa formalmente, mas isso não enterrou de vez as esperanças da turma do "Volta, Lula!". Em termos eleitorais, o prazo para isso é 19 de agosto, quando começa o horário eleitoral; em termos legais, 15 de setembro. Por causa da queda nas pesquisas, Dilma vem perdendo apoio político. Ontem, o PTB rompeu com o governo e anunciou sua adesão ao candidato do PSDB, Aécio Neves. Por essa razão, não deixa de ser surpreendente a estrondosa vaia dos militantes presentes à convenção ao presidente do PSD, Gilberto Kassab, embora o ex-prefeito de São Paulo, até agora, tenha resistido ao assédio do candidato tucano para que indique o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para a vaga de vice na chapa do PSDB.