quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Depois da ressaca

• O desafio das decisões econômicas do ano que se inicia após o turbulento 2014

Lucianne Carneiro – O Globo

O ano de 2014, com eleições acirradas, foi marcado por turbulências econômicas, com fortes alterações no dólar, no petróleo, na Bolsa, denúncias de corrupção na Petrobras e alta na inflação, afetando as expectativas de famílias, empresários e investidores. E 2015 também promete fortes emoções. A economia brasileira tem pela frente grandes desafios: reorganização das contas públicas, atividade econômica fraca, confiança do empresário e do consumidor em níveis baixos, o que compromete os investimentos, e uma inflação que terá de absorver pressões represadas, como das tarifas de energia e do reajuste de combustíveis. Até o mercado de trabalho, que vinha se mantendo resguardado da desaceleração, deve sofrer uma piora: espera-se que a taxa de desemprego, ainda que permaneça em um patamar relativamente baixo, registre um aumento gradual.

Em meio à crise de corrupção da Petrobras, o governo precisa, urgentemente, retomar a credibilidade fiscal, sob o risco de perder o tão estimado grau de investimento das agências de classificação de risco, que garante ao Brasil o título de bom pagador e acesso aos mercados internacionais com juros mais baixos e melhores condições de financiamento. Neste esforço, duas ações são fundamentais: um forte ajuste fiscal, para que o país volte a fazer superávits primários para reduzir sua dívida líquida, e um combate mais austero da inflação, o que demanda um Banco Central mais independente das questões políticas. Neste cenário, a queda dos preços dos principais produtos exportados pelo país e a recente alta da cotação do dólar — que tende a se manter em 2015 — são problemas extras.

Depois de recuarem em 2014, os investimentos devem reagir em 2015, mas ainda será uma recuperação modesta, sem condições de compensar a queda registrada no ano que terminou ontem. Um dos principais obstáculos será a confiança dos empresários, que permanece baixa. Também dificultam a decisão de investimento os estoques elevados e a capacidade ociosa na indústria.

Há alguma expectativa, no entanto, de continuidade no programa de concessões, o que poderá estimular investimentos em infraestrutura:

— Quem vai sustentar o investimento é a infraestrutura. Vemos uma retomada do programa de concessões em 2015. As concessões de rodovias foram bem, e há outros lotes. Ainda há as ferrovias e os portos — afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.

No entanto, em um contexto de desaceleração da atividade econômica, não há como o mercado de trabalho se manter intacto. A deterioração observada no segundo semestre, com menor geração de vagas, especialmente as formais, deve permanecer em 2015. A taxa de desemprego, por sua vez, deve subir, ainda que tenda a continuar em níveis baixos, considerando-se a série histórica.

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