quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Inflação, ajuste e PIB fraco devem afetar mercado de trabalho em 2015

• Expectativa de analistas e de setores é que taxa de desemprego aumente e que renda caia

• Avaliação é que serviços e comércio sentirão mais os efeitos da crise, com a queda no consumo das famílias

Claudia Rolli – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - De um lado, um cenário de inflação em alta, crescimento fraco e dificuldade de caixa. De outro, a expectativa de um ajuste fiscal "firme", com corte de gasto e menos dinheiro para investir --no setor privado ou no público.

Resultado: um mercado de trabalho mais enfraquecido em 2015, com elevação do desemprego, queda na renda e reestruturação nas empresas com ajustes mais intensos na produção e mais demissões.

A avaliação é de economistas e representantes de entidades da indústria, do comércio e do setor de serviços consultados pela Folha.

Para os mais otimistas, a taxa de desemprego deve subir para 5,2% neste ano. Na previsão dos mais pessimistas, chegará a 6%.

Os dados mais atualizados do IBGE para 2014, até novembro, mostram que o desemprego para seis regiões metropolitanas é de 4,8%.

Desde janeiro, o saldo de novos empregos (trabalhadores admitidos menos demitidos) foi de 938 mil --e deve fechar o ano em 700 mil, segundo a previsão do governo. Metade do que o Brasil criava há poucos anos.

A deterioração no mercado formal de trabalho fica mais evidente ao observar os dados de novembro, quando foram criadas 8.400 vagas com carteira assinada --queda de 82% ante novembro de 2013, quando se registrou a geração de 47,5 mil vagas.

"Como os salários estão evoluindo em um ritmo mais fraco e sofrem o impacto da inflação mais alta, a tendência é que mais pessoas voltem a procurar emprego para elevar a renda familiar", diz Rafael Bacciotti, economista da consultoria Tendências.

"Como a geração de vagas é baixa e" insuficiente para absorver toda a força de trabalho, a taxa de desemprego sofre" essa" pressão. Não vimos esse movimento em 2014, mas devemos ver em 2015."

Impacto no bolso
Se o desemprego sobe, o efeito é imediato no bolso do trabalhador.

"O poder de barganha nas negociações salariais fica reduzido em um cenário mais adverso para o emprego. Com isso, a renda deve crescer menos", diz o economista Fábio Romão, da LCA.

Na previsão da consultoria, o rendimento médio real do trabalhador deve crescer 1,5% em 2015, patamar mais baixo desde 2005. Em 2014, a alta deve ter sido de 2,7%.

Ajuste pesado
A indústria deve ainda perder força no emprego, mas o ajuste mais "pesado" já ocorreu, avaliam os economistas.

Com férias coletivas, licença remunerada, cortes e programas de demissão voluntária, a indústria automobilística é uma das que mais se reestruturaram em 2014.

Em 2015, o setor industrial deve continuar encolhendo --o corte deve chegar a 65 mil vagas, na projeção da LCA. O número corresponde a um terço do previsto para 2014, quando o setor deve fechar 188 mil empregos formais.

"Para ter a dimensão do que isso significa, em 2013, a indústria fechou o ano com criação de 91 mil vagas", ressalta Romão.

O comércio e o setor de serviços devem sentir mais, nos próximos meses, os efeitos do enfraquecimento da economia --uma vez que o consumo das famílias deve continuar em queda.

Fábio Pina, economista da Fecomercio-SP, projeta desaceleração brusca na abertura de vagas no comércio.

"No máximo, 50 mil vagas em 2015, o que corresponde a um terço dos empregos gerados no setor em 2013."

Não à toa as centrais sindicais querem implementar com o governo um programa de proteção do emprego.

A principal medida é a redução da jornada de trabalho em até 30%, com diminuição de salários, nas empresas afetadas pela crise econômica.

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