sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Liberação de emendas vira moeda de troca na eleição da Câmara

• Eduardo Cunha acusa governo de prometer verbas, mas anuncia o mesmo

Fernanda Krakovics, Isabel Braga e Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - Na reta final da campanha para a presidência da Câmara, o candidato do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), acusou o governo de estar prometendo liberar as verbas das emendas ao Orçamento apresentadas por deputados novatos em troca de votos para o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Mas, para atrair votos, Cunha prometeu fazer exatamente o mesmo.

Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Ricardo Berzoini (Comunicações) têm procurado deputados na tentativa de acabar com o favoritismo de Cunha, que tem uma postura de independência em relação ao governo.

Segundo relatos de parlamentares, além da necessidade de eleger um presidente da Câmara afinado com o Planalto, faria parte das conversas a promessa de cargos e liberação de emendas ao Orçamento da União. Os ministros negam.

Diante da ofensiva do Planalto, Cunha adotou a mesma estratégia. Dizendo ter sido informado por deputados novatos de que o governo está prometendo acesso a recursos de emendas individuais do Orçamento da União de 2015, que ainda não foi votado pelo Congresso, Cunha prometeu se empenhar, se eleito, para que isso realmente aconteça. A Câmara terá 223 novatos.

- Só acredita nisso (na promessa dos governistas) quem não conhece a Casa. Quem conhece sabe que tem que haver dotação orçamentária. Temos 28 deputados novos no PMDB, e é importante dizer que não vamos votar o Orçamento se não tivermos como garantir aos novos o direito ao mesmo valor dado que o restante da bancada. Os novos deputados vão ter sua reserva orçamentária este ano - disse Cunha.

O ministro Pepe Vargas reagiu às declarações de Cunha. Por meio da assessoria, Pepe Vargas disse que considera inoportunas as acusações.

- O governo não trabalha com ameaças e nem compra deputados. Com este tipo de declaração, o deputado ofende o Congresso. Se ele supõe que um deputado decide sua intenção de voto desta forma, ele, na prática, está rebaixando o Parlamento - disse Vargas.

O ministro Jaques Wagner (Defesa), ex-governador da Bahia, tem participado da articulação política, mas quem está na linha de frente é seu sucessor, o governador Rui Costa (BA). Outros governadores petistas, como Fernando Pimentel (MG), tem buscado votos nas bancadas de seus estados.

Sábado, uma edição extra do Diário Oficial publicará a exoneração de Pepe Vargas e do ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário), ambos do PT. Eles reassumirão seus mandatos na Câmara para votar em Chinaglia.

Disputados fortemente tanto por Cunha quanto por Chinaglia, PP, PR e PRB tendem a tomar uma decisão conjunta, até como forma de se proteger das pressões. Desde dezembro, o PRB anunciou formalmente apoio a Cunha, mas o governo - que contemplou a legenda com o Ministério do Esporte - cobra apoio a Chinaglia. A tendência é que as três legendas migrem para Cunha, já que a maioria dos deputados da bancada defende essa posição.

Os líderes de PSDB, PPS e PSB reafirmaram ontem que continua de pé o acordo para apoiar o nome do deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

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