quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Luiz carlos Azedo - E nada impede que possa piorar

• Dilma Rousseff age em relação à Petrobras como se os interesses do governo e do partido dela estivessem acima dos interesses dos cidadãos brasileiros, os verdadeiros donos da empresa

- Correio Braziliense

As ações da Petrobras fecharam em queda ontem, com perda de 11,21% das ações preferenciais, cotadas a R$ 9,03; e de 10,48% das ordinárias, a R$ 8,63. Durante o pregão da Bovespa, chegaram a perder quase 12%. Foi a maior queda desde outubro de 2014, em valores nominais — uma desvalorização da ordem de R$ 13,9 bilhões da empresa num único dia.

Na tarde de terça-feira, em reunião ministerial, a presidente Dilma Rousseff tratou os problemas da empresa como se a crise estivesse controlada, pelo simples fato de que depende apenas de sua caneta a manutenção ou não da atual diretoria da Petrobras, que vive a correr atrás dos fatos negativos. Na madrugada de ontem — ou seja, na calada —, a diretoria da estatal divulgou o balanço trimestral do ano passado sem considerar o rombo causado pelo esquema de corrupção flagrado pela Operação Lava- Jato, da Polícia Federal.

A Petrobras é uma empresa pública, o governo é o acionista majoritário, mas deve seguir as regras do jogo das sociedades anônimas. Na Bolsa, tem papéis ordinários e preferenciais. As ações ordinárias dão ao acionista poder de voto em assembleias, enquanto as preferenciais dão prioridade na distribuição de dividendos, porém sem direito a voto. Os investidores estão de olho no balanço, que determina o preço das ações, e podem recorrer à Justiça caso sintam-se lesados. É o que ocorre nos Estados Unidos e que pode resultar em multas pesadíssimas.

Chantagens
Dilma Rousseff age em relação à Petrobras como se os interesses do governo e do partido dela estivessem acima dos interesses dos cidadãos brasileiros, os verdadeiros donos da empresa, e dos direitos dos acionistas minoritários. Estão mais do que evidentes as chantagens que está sofrendo dos ex-diretores da empresa envolvidos na Operação Lava-Jato. A direção da empresa nunca se antecipa às denúncias, age sempre reativamente.

A divulgação do balanço trimestral na madrugada de ontem chega a ser um escárnio. A diretoria da Petrobras havia prometido contabilizar as perdas decorrentes do esquema de propina descoberto pela Lava- Jato. O relatório encaminhado pela diretoria da empresa ao Conselho de Administração da Petrobras, presidido pelo ex-ministro Guido Mantega, indicava a necessidade de uma baixa contábil de R$ 88,6 bilhões nos ativos da companhia referentes às perdas com corrupção ligadas à Operação Lava-Jato.

Mantega e a ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior, que também faz parte do conselho, porém, questionaram os números e barraram a inclusão das perdas no balanço trimestral. O discurso oficial é de que a metodologia adotada para o cálculo não era adequada. A estatal supostamente não sabe como calcular as perdas com corrupção, “pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes, impossível de serem quantificadas individualmente”.

A desculpa dada pela presidente da estatal, Graça Foster, sobre o ocorrido na reunião, depois de 12 horas de discussão, é meio esfarrapada: “Aprofundaremos outra metodologia que tome por base valores, prazos e informações contidos nos depoimentos em conformidade com as exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC), visando a emissão das demonstrações contábeis revisadas”.

Enquanto não se chega a um acordo sobre o rombo causado pela corrupção, as notícias negativas sobre a empresa se sucedem. No próprio balanço de ontem, a Petrobras comunica que duas refinarias Premium que não saíram do papel, no Ceará e no Maranhão, geraram uma baixa contábil de R$ 2,707 bilhões: R$ 2,111 bilhões da Premium I e R$ 596 milhões, da Premium II. Só isso seria suficiente para derrubar a diretoria, quando nada por incompetência.

O lucro líquido da Petrobras no trimestre passado foi de R$ 3,087 bilhões, valor 38% inferior ao segundo trimestre deste ano. Se fossem contabilizados os US 88,6 bilhões de prejuízos causados pelo esquema de corrupção investigados pela Lava-Jato, a estatal desmentiria a famosa frase de John D. Rockfeller, o dono da lendária Standard Oil Company , monopólio que a Suprema Corte dividiu em 34 empresas: “O melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor, uma empresa de petróleo mal administrada”.

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