segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

PT do Senado vê problemas na articulação política do governo

Raquel Ulhôa – Valor Econômico

Com menos de 15 dias do novo mandato da presidente Dilma Rousseff, lideranças do PT no Senado criticam a articulação política do governo. Alertam que, se persistir a falta de diálogo com a base aliada, os problemas no Congresso serão grandes. Consideram o ministério sem peso político para garantir apoio parlamentar ao governo e se preocupam com o movimento atribuído ao Palácio do Planalto de estímulo à criação de partidos.

A bancada do PT não foi chamada para conversar sobre a eleição da Mesa Diretora do Senado ou a escolha do novo líder do governo. O PT reivindica a função - que era ocupada por Eduardo Braga (PMDB), ministro de Minas e Energia.

"Não custa nada permitir que o diálogo flua de forma mais fácil. É muito melhor isso do que ligar no dia da votação e dizer: levante o braço, aperte o botão", afirma o senador Walter Pinheiro (PT-BA). "Um erro no início da jornada pode custar a jornada toda", diz.

Para Jorge Viana (PT-AC), a interlocução tem que melhorar com todos os aliados: "Tem sido um desastre. Tem que melhorar, conversando mais, usando mais a bancada. Temos bons parlamentares no Senado, que estão subutilizados. A gente tem que usar melhor os aliados, conversar mais com a base, senão ela fica distante e vira um problema."

Petistas experientes consideram arriscado o movimento atribuído ao núcleo palaciano, mais especificamente a Aloizio Mercadante (Casa Civil), para criar partidos. O objetivo seria reduzir a influência do PMDB, mas o parceiro do PT costuma dar troco no Legislativo, quando contrariado pelo governo. A articulação passaria pela nomeação de Gilberto Kassab (PSD) e Cid Gomes (Pros) para ministérios fortes - Cidades e Educação, respectivamente. E de Antônio Carlos Rodrigues, vereador do PR de São Paulo, ligado ao ex-deputado Valdemar Costa Neto, para a Pasta dos Transportes. Valdemar articula a criação do MB (Muda Brasil) e Kassab, a refundação do PL (Partido Liberal).

"Se o Palácio quiser entrar no jogo de criação de partido, tem que aprender que é possível dialogar com todo mundo e não escolher um lado para detonar o outro. No fim, os dois que estão brigando vão escolher o Palácio como inimigo", diz Pinheiro.

Para Pinheiro, a correlação de forças no Senado mudou. A oposição estará fortalecida pelo resultado da eleição - o tucano Aécio Neves teve mais de 48% dos votos válidos para presidente - e com novos senadores, como José Serra (PSDB-SP), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Antonio Anastasia (PSDB-MG).

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), espera que a bancada seja convidada para conversar até 31 de janeiro, quando se reunirá para discutir eleição da Mesa Diretora e a composição dos cargos na Casa. "Queremos que a relação do governo com a bancada melhore. Nesses quatro primeiros anos, ficou bastante a desejar", diz. Na sua opinião, poderia haver entendimento com o PMDB em torno da liderança do governo.

Viana também defende a possibilidade de o PT ocupar a liderança do governo no Senado e, como os colegas, faz questão de dizer que não é para concorrer com o PMDB "e sim para somar forçar" na articulação da base - tarefa que considera "impraticável", com o modelo "ultrapassado e vencido" de coalizão.

"Nessa confusão toda de 28 partidos [na Câmara], o partido do governo fica muito fragilizado, perde a interlocução e, às vezes, é vítima de desencontro. Sou simpático à ideia de pensar em ter o líder nosso, para que a gente faça uma melhor interlocução, use melhor a base do próprio governo."

Petistas temem reflexos da insatisfação com a formação do ministério. Radiografia feita por eles mostra uma equipe que representa partidos ou forças políticas derrotados em suas respectivas bases, com pouca capacidade de somar apoio parlamentar. Entre as exceções, com influência nas bancadas - ou em parte delas -, apenas Kassab, Cid Gomes e Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), do PCdoB. Citam a presença de petistas derrotados em estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, além de aliados que perderam no Amazonas, Pará e Pernambuco.

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