domingo, 8 de fevereiro de 2015

Elio Gaspari - Distritão, boa ideia para ser discutida

- O Globo

Tudo indica que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, destravará o debate da reforma política, obstruído há um ano pelo PT, que sonha com plebiscitos e votos de lista. Tramita na Câmara um projeto que pode ser discutido, emendado e aprovado até agosto deste ano.

É um assunto chato e cheio de detalhes. Um dos seus principais pontos é o sistema eleitoral para a escolha de deputados. Hoje a pessoa vota no seu candidato, e são eleitos aqueles que tiveram mais votos na totalização recebida pela chapa do partido ou da cumbuca da coligação. Poucos elegem-se só com votos dados a eles. Disso resultou que já houve gente votando em Delfim Netto e elegendo Michel Temer, ambos do PMDB. Na eleição passada Tiririca teve mais de um milhão de votos, elegeu-se deputado federal por São Paulo e carregou consigo o Capitão Augusto, que tentara fundar o Partido Militar Brasileiro.

Pela proposta da comissão da Câmara, cada estado seria dividido em distritos. Seriam de quatro a sete, e em cada um deles funcionaria o regime da cumbuca. Assim, o efeito Tiririca ficaria reduzido ao seu distrito. É uma coisa meio girafa.

Renasceu a proposta do distritão, concebida pelo vice-presidente Michel Temer. Ela está na mesa há anos e é simples. Cada estado passa a ser um distritão. Os partidos apresentam candidatos, os eleitores fazem suas escolhas e votam. Levam as cadeiras aqueles que conseguem mais votos. São Paulo, por exemplo, tem direito a 70 deputados. Elegem-se os 70 candidatos mais votados, e acabou a conversa. Assim, Tiririca pode ter um milhão de votos, mas elege só Tiririca.

O distritão pode ser uma boa ideia. Quem quiser pode também deixar tudo como está. O que parece ter desaparecido da agenda é o sonho petista do voto de lista, no qual simplesmente confisca-se o direito de o eleitor escolher seu candidato, transferindo-se essa prerrogativa, total ou parcialmente, para as direções partidárias.

A porosidade da cabeça petista
Nas manobras para a indicação do novo presidente da Petrobras, apareceram perto de dez nomes. Não se sabe de onde eles saíram, pois não incluíam o nome de Ademir Bendine, que acabou escolhido. Nessa roda de fogo, entrou o economista Paulo Leme, do banco Goldman Sachs. Ele teria a simpatia do ministro Joaquim Levy. A menos que tenha sido uma brincadeira, essa simples referência reflete a geleia em que se transformou o centro de decisões do governo.

O PT tenta associar a Operação Lava-Jato a um processo de destruição da Petrobras, de forma a permitir sua privatização. Para quem gosta de teoria conspirativa, é um bom roteiro.

Leme tem mais de 20 anos de destacada militância no mercado financeiro. Em 1998, quando o real estava indo para o ralo, a Goldman Sachs divulgou uma análise da crise, dizendo que eram "necessárias medidas de grande impacto, como a inclusão de Petrobras, Caixa Econômica e Banco do Brasil no programa de privatizações". Ele era o diretor da Goldman para a área de mercados emergentes e, segundo a repórter Vera Magalhães, estimou que a estatal pudesse valer entre US$ 20 bilhões e US$ 60 bilhões.

Naquela ocasião, o nome do doutor entrou na lista de candidatos de Arminio Fraga para a diretoria de Assuntos Internacionais do Banco Central. Foi abatido em voo pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Repetindo: Fernando Henrique Cardoso, aquele que, segundo o PT, queria vender a Petrobras.

Conta a lenda que, um dia, o governador Carlos Lacerda foi visitar o prédio da Polícia Central e, subindo as escadas do saguão, disse ao delegado Cecil Borer, que fora chefe da repressão política quando ele militava na esquerda:

— Quem diria, Borer, que um dia estaríamos aqui nesta situação... Borer teria respondido: — É. Mas quem mudou não fui eu.

Nomes na roda
No ano passado, quando o empreiteiro Ricardo Pessoa (UTC) chegou à carceragem da Polícia Federal, sabia-se que um homem-bomba entrara no elenco da Lava-Jato. Para o bem de todos (sobretudo dele), o doutor está colaborando com as autoridades.

Sabe-se agora que o petrocomissário Pedro Barusco botou um novo nome na roda, o de Zwi Zcorniki, operador do estaleiro coreano Kepell Fels. Zwi guarda uma memória bem maior que a de Ricardo Pessoa. A Receita Federal conhece-o bem, por conta de uma negociação formal feita há alguns anos.

Engenheiro que trabalha com plataformas de exploração de petróleo desde a época em que elas eram uma novidade no Brasil, sabe tudo do assunto.

É um tipo inesquecível, pelo Rolex de ouro cravejado de brilhantes que carrega no pulso.

O senador no inferno
Quem tiver três minutos para perder em busca de talento e bom humor pode entrar no Youtube atrás do vídeo em que o repentista Maviael Melo recita seu poema "Campanha eleitoral". Maviael é um pernambucano de 41 anos, poeta da grande tradição dos cordelistas nordestinos.

USP
Um dia essas denúncias de trotes violentos e estupros em universidades, inclusive na USP, cairão nas mãos de um juiz tipo Sérgio Moro. Quando os jovens delinquentes e seus pais descobrirem que poderão passar o tempo de duração do curso na cadeia, a festa acabará.

E acabarão também os ilustres professores, sobretudo da Faculdade de Medicina, que, como o petrocomissariado petista, atribuem tudo a exagero da imprensa.

Lava tudo
O PSDB sabe que não sairá ileso da Operação Lava-Jato. Suas petrofortunas recentes eram conhecidas antes mesmo do surgimento do juiz Moro.

Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e se deu conta da frequência com que sai do Planalto a informação de que a doutora Dilma ficou "contrariada", "irritada", "aborrecida", "atônita", ou mesmo "furiosa".
O cretino se pergunta: e daí?

Naufrágio
Terminado o primeiro mês do segundo mandato da doutora Dilma, uma víbora assegura ter ouvido a seguinte história de um sobrevivente da viagem inaugural do navio mais famoso da História, aquele do filme com Leonardo DiCaprio:

— Uma jovem da tripulação embarcou em Southampton, e eu lhe perguntei se estava emocionada com a viagem até Nova York. Ela me disse que achava a ideia boa, mas o que gostava mesmo era de naufrágios.

(Na vida real, a garçonete Violet Jessop já naufragara um ano antes e naufragaria novamente em 1916. Morreu em 1971, em terra firme, aos 84 anos.)

Eureka
João Carlos Meireles, secretário de Energia do governador Geraldo Alckmin, matou a charada da falta de água que a imprevidência de seu patrão cevou:

"Tem gente que acha "eu sou rico e pago quanto for por essa água", mas não é assim. É sobretudo espírito de comunidade. Mas parece que tem gente que vive no mundo de Marte e não tem solidariedade nenhuma". A culpa é do povo. Bem que ele poderia reunir a imprensa amanhã e exibir as contas de água do secretariado de Alckmin durante os últimos 12 meses.

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