sexta-feira, 13 de março de 2015

Celso Ming - Recados da Ata do Copom

• O Banco Central não compra o diagnóstico da presidente Dilma de que a atividade econômica e a inflação estão piorando no Brasil em razão da crise externa

- O Estado de S. Paulo

A inflação está muito mais forte do que o esperado, mas está sob controle. É o recado do Banco Central transmitido pela Ata do Copom divulgada nesta quinta-feira.

O Banco Central não compra o diagnóstico da presidente Dilma de que a atividade econômica e a inflação estão piorando no Brasil em razão da crise externa. Ao contrário, avisa que “as perspectivas indicam recuperação da atividade em algumas economias maduras e intensificação do ritmo de crescimento em outras”. Também não atribui nossas mazelas aos estragos produzidos pela escassez de chuvas. Os efeitos da estiagem não são sequer mencionados na ata.

A inflação está acelerando, mas este é o resultado do processo saudável de dois realinhamentos: o dos preços internos aos preços externos por meio do avanço do câmbio (alta do dólar); e o dos preços administrados aos preços livres. Ficou implícita a conclusão de que tanto o atraso do câmbio quanto o dos preços administrados (25% da cesta de consumo) foi o resultado da política econômica anterior.

De todo modo, esse realinhamento concorrerá para que, mais à frente – indica o Banco Central – a inflação seja contida. Em dezembro, o presidente Alexandre Tombini assegurava que, em 2016, a inflação voltaria a convergir para a meta de 4,5%. Essa aposta se mantém, mas como aposta e não como certeza. Ficou a impressão de que a convergência para a meta, se vier, vai ficando para 2017.

O relativo otimismo do Banco Central em relação ao comportamento da inflação baseia-se em três pressupostos, que têm lá alguma fragilidade. O primeiro é o de que o governo conseguirá fazer o ajuste fiscal necessário para obter a sobra de arrecadação de 1,2% do PIB em 2015 e de 2,0% em 2016. Esse não é ainda dado de realidade que se pode assegurar.

O segundo pressuposto em que se apoia o otimismo do Banco Central é a relativa desaceleração do consumo e da expansão do setor de serviços, fato que tenderá a tirar gás da inflação.

E o terceiro é o de que a economia global vai melhorar, fator que pode empurrar as exportações – que, por sua vez, podem ser ajudadas pela forte desvalorização cambial.

Logo depois da reunião do dia 4, quando o Copom aumentou os juros em 0,5 ponto porcentual para 12,75% ao ano, alguns analistas imaginaram que nova dose de 0,25 ponto porcentual em abril que conduzisse ao número redondo de 13,0% ao ano encerraria o ciclo de alta.

Não há suporte para suposições desse tipo. Ao contrário, a ata deixa aberta a porta para que o ajuste monetário continue, especialmente quando o patamar dos 8,0% em 12 meses for atingido.

Está para começar o processo de alta dos juros nos Estados Unidos, processo que pode desviar recursos externos da rota para o Brasil. Se a relativa escassez de moeda estrangeira se configurar, o Banco Central pode ter outro motivo para puxar ainda mais pelos juros, de maneira a atrair mais capitais externos.

A cotação cambial tomada como referência na ata foi R$ 2,85 por dólar. É patamar que ficou para trás. O preço do dólar está agora nas alturas dos R$ 3,14. Não deixa de mostrar certo atraso da leitura da realidade feita pela ata.

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