quinta-feira, 19 de março de 2015

Jarbas de Holanda - PMDB. Como explorar dependência de Dilma, mas distinguir-se dela e do PT

 O “Fora Dilma” e o “Fora PT”, predominantes nas grandes manifestações de 15 de março, em todo o país, acentuaram muito a fragilidade política do governo, tornando sua continuidade, quase por inteiro, dependente do respaldo do PMDB. Respaldo que o comando do partido nas duas casas do Congresso tratará de explorar com a afirmação de seus interesses fisiológicos na máquina administrativa, mas combinando isso com objetivos eleitorais próprios, bem como com clara distinção quanto ao petismo. E respaldo que, assim, extrapolará os limites da concessão de papel importante aos peemedebistas em reforma ministerial de emergência que o ex-presidente Lula está impondo a Dilma, com a finalidade de salvar seu mandato e com o cálculo de recomposição de aliança para o pleito nacional de 2018.

Quanto ao cenário de continuidade do governo (malgrado a amplitude da cobrança social de impeachment ou de renúncia da presidente), a persistência dele reflete o entendimento políticopartidário dominante, inclusive pela direção do PSDB, de que não há, ou ainda não há, evidências de comprometimento direto de Dilma com o megaescândalo da Petrobras; de que o novo governo está apenas começando, e, sobretudo, de que é elevado o potencial de agravamento, ainda maior, dos problemas da economia que pode ser gerado por um processo parlamentar do gênero. Cujo desencadeamento só poderia, ou poderá, ocorrer com base numa ampla negociação suprapartidária sobre o chamado day after. O que coloca na ordem do dia a articulação de Lula para uma reforma ministerial baseada na concessão de protagonismo ao PMDB. E vai abrindo espaço para a alternativa de um entendimento com o PSDB e seus aliados oposicionistas em torno de um governo de transição anticrise, que articularia o esforço para a viabilidade do ajuste fiscal a uma reorientação de objetivos da política econômica.

Mas esse cenário (de continuidade) terá de resistir a fatores contrários de bastante peso, com efeitos já visíveis e a se manifestarem daqui para a frente. Entre os quais cabe destacar o avanço das investigações da operação Lava-Jato (a partir do ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras, Renato Duque, já de volta à prisão, e do tesoureiro do PT, João Vaccari) que chegam mais perto de Lula e de Dilma; a crescente repercussão dos trabalhos da CPI da Câmara sobre o petrolão; o impacto de novas pesquisas de avaliação do governo – a primeira do Datafolha, divulgada hoje, mostrando que a reprovação já chega a 62% (com a taxa de apoio caindo para apenas 13%) e grande salto também do pessimismo sobre a economia; e a repetição em abril das manifestações de protesto. Investigações, índices de pesquisas e novas manifestações que poderão levar o PMDB a passar a admitir a necessidade de afastamento da presidente, articulando-se nesse sentido com o PSDB.

Dilma refém do ministro da Fazenda – A combinação da crise política com a piora dos indicadores da economia tornou a presidente dependente ou refém, também, do ajuste fiscal proposto pelo ministro Joaquim Levy, um “capitalista infiltrado no governo do PT”, segundo o presidente do MST, João Pedro Stédile. Esvaziados pelo Congresso os projetos esquerdistas de reforma política, dos “conselhos populares” e do “controle social” da mídia, e com um verdadeiro combate à corrupção assumido pelo Ministério Público e pelo juiz Sérgio Moro, o que resta à presidente é associar-se a esse ajuste, passando a apostar na aprovação das duras e impopulares medidas correspondentes. Ainda que resistindo ao reconhecimento da responsabilidade do seu primeiro mandato no descalabro das contas públicas (que torna o ajuste indispensável), e decerto tendo que ler com grande constrangimento declarações do ministro (como as que fez anteontem na Associa- ção Comercial de São Paulo), assinalando a incompatibilidade entre a democracia e o “capitalismo de estado”. Tão intensamente buscado pelo intervencionismo estatizante posto em prática nos últimos quatro anos.

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Jarbas de Holanda é jornalista

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