terça-feira, 10 de março de 2015

José Casado - A agonia de um partido

• Exemplo da corrupção na Petrobras, o PP respira no ritmo agonizante da ‘maior base parlamentar do Ocidente’ — legado de Lula que Dilma ainda sonha em preservar

- O Globo

Na quinta-feira 7 de abril de 2005, Lula foi a Roma assistir ao funeral do Papa João Paulo II. Levou na comitiva o deputado Severino Cavalcanti, católico praticante, expoente do Partido Progressista (PP) em Pernambuco. Estavam em conflito. Lula fantasiava com a “maior base parlamentar do Ocidente” em torno de seu projeto para reeleição, no ano seguinte. Na presidência da Câmara, Severino estabelecera um preço para apoiá-lo. Combinaram uma parceria durante o voo.

Seis semanas depois, floresciam aflições no outono de Brasília. Acuado por denúncias de corrupção nos Correios, o deputado Roberto Jefferson, líder do Partido Trabalhista Brasileiro, deflagrou uma crise com o governo e pôs no alvo o chefe da Casa Civil, José Dirceu. Na terça-feira 17 de maio, enquanto a oposição viabilizava uma CPI, Lula pediu a José Múcio (PTB-PE) que desse um recado a Jefferson: “Nós temos que ser parceiros”.

No dia seguinte, Severino Cavalcanti foi à ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e cobrou: “Quero o cargo que o presidente me ofereceu durante a viagem a Roma.” Dilma desconversou: “Podemos ver outra diretoria”. Ele insistiu, relatou a repórter Maria Lima: “O que o presidente me ofereceu foi aquela diretoria que fura poço e acha petróleo. É essa que eu quero.”

O rústico Severino frustrou-se na arrogância. Lula escolhera negociar com o deputado paranaense José Janene, líder do Partido Progressista. No outono anterior, em maio de 2004, Janene encenara uma “rebelião” do PP, com meia dúzia de votações contra o governo. Lula chamou o parceiro. Presenteou-lhe com a nomeação de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras. O PP alinhou-se e o compromisso foi resguardado por Dilma na Presidência até o outono de 2012.

Costa contou à polícia que assumiu sob uma regra: 3% de cada contrato da estatal divididos entre o PP (1%) e o PT (2%). O operador financeiro do PP, Alberto Youssef, confirmou.

Severino renunciou quatro meses depois do encontro com Dilma, flagrado na cobrança de um mensalinho da concessionária do restaurante da Câmara. A CPI dos Correios fez o mensalão emergir, engolfando alguns do PP de Janene, do PT de Lula e do PTB de Jefferson. Na Petrobras, porém, já estava tudo dominado.

Em 2006, ano da reeleição de Lula, Janene levou Costa a uma reunião na Braskem, cujo controle é partilhado pelo grupo Odebrecht (50,1%) e Petrobras (47%). A petroquímica desejava preços menores nas matérias-primas (nafta e propeno) que comprava da estatal monopolista. Acertaram-se e, segundo Costa e Youssef, sobrou para o PP um suborno anual de US$ 5 milhões. A Odebrecht nega tudo.

No ano da eleição de Dilma, jorravam propinas. Costa e Youssef faziam um periódico “batimento das contas” da campanha de 2010. Anotavam: “28,5 PP”, significando R$ 28,5 milhões para os candidatos “progressistas”.

O PP é caso exemplar da máquina político-empresarial que drenou a Petrobras. Está com 60% dos seus senadores e 45% dos deputados federais sob investigação, além de dois ex-ministros, um vice-governador e oito ex-parlamentares. Moribundo, respira no ritmo agonizante da “maior base parlamentar do Ocidente” — um legado de Lula que Dilma ainda sonha em preservar.

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