sábado, 21 de março de 2015

Para FHC, corrupção é ‘quase um bebê’

• Em resposta à declaração de Dilma pós-protestos, ex-presidente diz que esquema de desvios na Petrobrás sob investigação é ‘fato novo’

- O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) rebateu a afirmação da presidente Dilma Rousseff (PT) de que a corrupção é uma “senhora idosa” no País. Em entrevista à Globo News, anteontem, o tucano disse que o caso de corrupção na Petrobrás traz algo novo em termosdecorrupção– uma organização estabeleceu um sistema de sustentação de partidos e ligação a empresas para abastecer caixas de legendas. “Isso é um fato novo. Essa corrupção não é uma senhora idosa, é uma mocinha, um bebê quase”, disse o tucano.

FHC repetiu a declaração dada ao longo da semana de que, pela proporção quea corrupção ganhou na Petrobrás, acha impossível que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma não soubessem. A declaração de Dilma foi feita um dia após os protestos de domingo contra o governo. Ao dizer que práticas de desvios são antigas no País, ela rebateu tentativas da oposição de associar corrupção ao seu governo. O ex-presidente afirmou que, em sua gestão, a indicação política para cargos de diretoria na estatal, feita por partidos da base,era mais incomum.Ele disse se lembrar de duas indicações políticas – de José Coutinho Barbosa e do hoje senador petista,mas à época integrante do PMDB, Delcídio Amaral.

‘Fora Dilma’. Embora diga que torce para que Dilma termine seu mandato, FHC disse que o impeachment, diferentemente do golpe militar defendido por alguns grupos, é um instrumento da democracia. E comparou os pedidos de afastamento da petista àqueles vistos em seu segundo mandato (1999-2002). “Esse ‘Fora Dilma’ é como o‘ Fora FHC’. A Dilma hoje simboliza, é alvo dessa irritação. Mas não creio que seja transcrito em passos exatamente para tirá-la do poder.Vai depender da comprovação de delitos e da opinião pública”, avaliou.

Diferenças. Mas o tucano ponderou ver diferenças entre as crises enfrentadas por Dilma e por ele. “Foi diferente. No meu governo eu perdi popularidade, mas não credibilidade, continuei com apoio do Congresso, de setores econômicos.” FHC foi mais crítico ao governo Dilma, mas não deixou de citar Lula. Disse que “dói” pensar que o País não soube aproveitar o boom das commodities da década passada para dar um impulso de desenvolvimento. “Me dói como brasileiro ver a perda de oportunidades históricas e a responsabilidade é do partido que está no poder, sem dúvida.”

Ele disse ainda que, no primeiro momento de crise do governo Dilma, havia uma sensação de que a gestão Lula tinha sido boa e ela havia conduzido mal a sucessão. Mas que, agora, a população passa a identificar como um processo somado e não quer “nem um nem outro”.

Sobre a volta da ditadura defendida por alguns grupos, FHC avaliou que é resultado da falta de coordenação entre as forças políticas. Esse vácuo permite, segundo ele,o alastramento de ideias radicais.“Essa irritação é natural,mas não creio que isso vá prosperar.”

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