sábado, 28 de março de 2015

PIB cresce 0,1%, e país adia recessão para 2015

Recessão adiada

• Levy admite "forte desaceleração" na economia neste início do ano

• Investimentos têm pior resultado desde 1999. Consumo das famílias registra 11ª alta seguida, mas analistas preveem queda nos próximos trimestres

• A economia brasileira escapou por pouco de ficar no terreno negativo em 2014, quando o PIB subiu 0,1%, segundo o IBGE. Analistas, porém, estimam que já neste trimestre o país enfrentará uma recessão, com o PIB acumulado em 12 meses registrando queda de 0,7%. O ministro Joaquim Levy disse que o país está em "forte desaceleração".

Cássia Almeida, Rennan Setti, Clarice Spitz, Lucianne Carneiro e Marcello Corrêa – O Globo

• PIB fica parado em 0,1% em 2014. Para o início deste ano, até Levy vê "desacelerada forte"

O crescimento inesperado de 0,3% do último trimestre de 2014, frente aos três meses anteriores, salvou o país da recessão. A economia brasileira ficou estagnada ano passado, com alta de apenas 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços). O dado positivo continuou vindo das famílias brasileiras, que aumentaram seu consumo pelo 11º ano seguido, informou o IBGE ontem.

Já o investimento, que terminou 2014 com a maior queda em 15 anos, deve amargar novo recuo. Os números piores do início deste ano vão empurrar a economia mais para baixo, desta vez ao terreno negativo, com queda na economia acumulada nos 12 meses encerrados em março. Assim, a recessão que era esperada para ano passado foi adiada para o primeiro trimestre de 2015.

— Quando se olha o comportamento do PIB frente a igual período de 2013, são três trimestres negativos seguidos. Paramos de crescer no primeiro trimestre de 2014. Como o início deste ano deve ficar negativo também, só adiamos a recessão — afirmou o economista Estêvão Kopschitz, do Ipea.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, endossa as opiniões de que o primeiro trimestre será difícil. Ele diz que o país iniciou 2015 "sem impulso" e que a economia deve ver uma "desacelerada forte" nesses primeiros meses.

— A economia deu uma desacelerada forte no começo do ano porque havia uma série de questões. Essas questões estão sendo respondidas e, nesse sentido, a gente vai também construindo essa estratégia da retomada do crescimento, certamente a economia vai responder. Porque o principal fator era a incerteza que havia na virada do ano —afirmou Levy, depois de participar de reunião do Conselho de Administração do BNDES, no Rio.

O ministro tem razão. Se o ano começasse em abril de 2014 e terminasse em março deste ano, a economia teria registrado recessão de 0,7%, calcula o economista Igor Velecico, do Bradesco. E o pior momento ainda está por vir. O economista estima recuo de 1% no segundo trimestre. Segundo ele, a economia se estabiliza no segundo semestre, e a confiança dos empresários será retomada ano que vem.

— Estamos tendo uma deterioração mais importante no primeiro trimestre de 2015, com a destruição forte de empregos formais e a redução da atividade. No segundo semestre, com o ajuste fiscal, vão se tirar os problemas da sala para se investir em 2016 — disse Velecico.

Levy já vê recuperação nas exportações, ajudando no crescimento.

— O resultado do PIB mostrou que a gente está em uma transição. Primeiro, uma desaceleração, mas, principalmente, uma transição. Este ano, esperamos uma recuperação das exportações e que, portanto, o setor externo possa ajudar o crescimento da economia. Nos últimos anos não foi assim. Então, essa pode ser uma mudança positiva, o setor externo contribuindo para o crescimento do PIB — avaliou o ministro.

Em relação aos investimentos que caíram 4,4% no ano passado, ele espera uma recuperação no segundo semestre deste ano.

— O investimento foi realmente um pouco mais fraco no ano passado. Há um esforço para que a gente veja, mais para a segunda metade do ano, uma recuperação. Talvez o próprio caso da exportação possa criar uma demanda para o investimento. Firmas que talvez queiram se aparelhar, não só para exportar mas também para atender ao mercado local. Vamos procurar expandir essa tendência —disse Levy.

Na avaliação da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, o prognóstico para os próximos trimestres é de taxas negativas no PIB. O Boletim Focus, pesquisa do Banco Central com cem instituições financeiras, prevê retração em todos os trimestres de 2015.

— Vivemos um quadro recessivo do setor privado, mas não dá para dizer que chegamos ao fundo do poço. Ainda teremos choques pela frente e devemos ter queda da economia nos 12 meses encerrados em março. A questão não é saber se vai ser negativo, mas o quão negativo será — afirmou Zeina.

Professor de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Victor Leonardo de Araújo destaca que o país conseguiu evitar um recuo do PIB por pouco:

— A economia brasileira escapou da recessão por um triz.

Sem fazer projeções, o professor da FEA/USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, afirma que o ano de 2015 já começou em recessão, e os números vão mostrar isso:

— É muito claro que a economia este ano já vive uma recessão. Isso tem que entrar na conta do Banco Central. Está combinado que a Taxa Selic (os juros básicos) sobe mais 0,75 ponto percentual para 13,5% ao ano. Mas não dá para aumentar além disso se a economia já está se contraindo. Ganha em inflação, mas arrebenta o país.

PIB per capita caiu 0,7%
O IBGE revisou a maneira de calcular o PIB, com isso, constatou-se que o tamanho da economia brasileira é maior, chegando R$ 5,5 trilhões. O instituto agregou investimentos com pesquisa e desenvolvimento, exploração mineral e está medindo melhor a construção civil e gastos com saúde. Como os números anteriores foram revistos, consultorias e bancos ainda estão recalculando suas projeções para 2015. Por enquanto, a expectativa se mantém em recessão de cerca de 1% este ano.

Em 2014, o PIB per capita, que é o valor de R$ 5,5 trilhões dividido pela população, caiu 0,7%, alcançando R$ 27.229, a primeira queda desde 2009.

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