terça-feira, 10 de março de 2015

Rubens Barbosa - Plano inclinado

- O Estado de S. Paulo

Como já é evidente, a desorganização da economia nos últimos quatro anos é responsável pela drástica queda do crescimento, pela alta da inflação e pela crise em alguns dos principais setores industriais. Para tentar controlar os prejuízos ao país, a presidente Dilma, numa manobra tática pensando no futuro do PT em 2018, sem alternativa, decidiu recorrer a um economista ortodoxo que está aplicando de forma mais radical políticas que a oposição estava propondo durante a campanha eleitoral e, com isso, recuperar a estabilidade econômica nos próximos anos.

O dano sistêmico - consequência das necessárias medidas de ajuste - combinado com a crise financeira da Petrobras - derivada da má gestão e da corrupção desenfreada - está contagiando a economia com um todo.

Na área de óleo e gás, as consequências em cadeia são maiores pelo peso da Petrobras na economia e pelo efeito multiplicador em outros setores. A empresa representa cerca de 2% do PIB e 10% do investimento total. O corte de quase 30% do orçamento de US$ 220 bi no período 2014/18 pelas restrições de crédito poderá implicar uma queda de 15% nos investimentos de infraestrutura no país e já está tendo forte impacto econômico, social e político. A suspensão de projetos, que representam 2,3% do PIB, vai afetar um terço dos investimentos da indústria, inclusive a naval.

Na infraestrutura, as empresas construtoras envolvidas na Operação Lava-Jato estão com crescentes problemas de liquidez e foram responsáveis por 10% do desemprego em janeiro. A paralisação de obras públicas contratadas e o não pagamento pelo governo já geraram demissões em massa. Segundo estimativas de especialistas, dezenas de milhares de empregos foram perdidos e outro tanto ocorrerá no corrente ano na área de construção pesada. Cinco por cento da população estão ligados, direta ou indiretamente, a esses projetos.

No setor automotriz, a forte queda das vendas no mercado interno (27%) e a redução das exportações para a Argentina fizeram com que as montadoras sofressem um aperto financeiro e demitissem 12,4 mil trabalhadores em 2014, além de gerar prejuízos e problemas em toda a cadeia produtiva. Com projeções de queda entre 5% a 10% no mercado de veículos, pela restrição de crédito, maior endividamento das famílias, com a taxa de juros e a inflação mais elevadas, a turbulência no setor deverá estender-se até 2016.

Na área de defesa, a paralisação de projetos que envolvem a indústria nacional está provocando prejuízos e demissões. Os principais programas estratégicos foram incluídos no PAC, o que não impediu que os pagamentos da Base Industrial de Defesa tenham sido suspensos. O cancelamento do PAC agrava ainda mais o problema.

O duro programa de ajuste é essencial para reorganizar a economia e deve ser apoiado, mas seu custo deve ser compartilhado pelo governo com a redução significativa dos gastos públicos. Nesse contexto, é muito importante não se perder a dimensão do crescimento econômico. O risco que corremos hoje é de a dose para combater a doença matar o paciente.

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