sexta-feira, 13 de março de 2015

Temendo protestos, Dilma cancela ida a BH

• Estão previstos para hoje atos em 27 capitais organizados pelas centrais sindicais

Simone Iglesias e Luiza Damé – O Globo

RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO - O Palácio do Planalto cancelou ontem à noite a viagem que a presidente Dilma Rousseff faria nesta sexta-feira a Belo Horizonte. Ela participaria de um evento de apresentação do balanço da campanha Justiça Pela Paz em Casa, no Tribunal de Justiça, mas, segundo um integrante do palácio, o temor de vaias e fortes manifestações contrárias à presidente levou ao cancelamento. Segundo esse integrante do governo, teria sido detectado um “clima político tenso” na capital mineira, onde Dilma perdeu as eleições do ano passado para o tucano Aécio Neves (PSDB).

Oficialmente, a Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto informou que Dilma cancelou a viagem porque sua mãe, Dilma Jane, não está bem de saúde. Por esse motivo, a presidente deverá passar a manhã de hoje no Palácio da Alvorada, acompanhando a mãe.

O governo chegou a pedir à Central Única dos Trabalhadores (CUT) para que cancelasse a manifestação de hoje, conforme revelado pelo O GLOBO. O ministro Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), a pedido da presidente Dilma, se reuniu com dirigentes da CUT na segunda-feira e conversou por telefone pedindo "reiteradas vezes" a suspensão, para evitar que ela sirva de base para levar mais manifestantes contra o governo às ruas no dia 15, segundo relatou um ministro próximo à presidente. Em nota, o ministro nega que tenha pedido para a CUT cancelar a manifestação. Estão previstos para hoje atos em 27 capitais organizados pela garantia dos direitos trabalhistas.

Os atos de domingo, dia 15, também preocupam a presidente. A três dias das manifestações contra o governo programadas para todo o país, Dilma voltou a dizer ontem que protestos fazem parte da democracia, mas frisou que não tolerará violência. Ela participou da inauguração da primeira etapa das obras de expansão do Porto do Rio.

— Sou de uma época que a gente não podia manifestar, e, quando se manifestava, ia preso. Era um Brasil ditatorial. O povo brasileiro foi para as ruas e conseguiu transformar esse grande país numa das maiores democracias do mundo. Manifestação no Brasil, a gente tem de olhar com absoluta tranquilidade, todas as pessoas têm direito de criticar, mas nenhum de nós pode aceitar que isso se transforme em violência — afirmou.

Perguntada sobre a possível participação de partidos de oposição nos atos de domingo, ela disse, em tom de brincadeira, que essa apuração “cabe à imprensa investigativa”.

O ministro Relações Institucionais, Pepe Vargas, disse ontem que a defesa do impeachment “cheira a golpe”. Afirmou, porém, que o governo respeita manifestações “pacíficas e ordeiras”:

— Há uma presidente no exercício do seu cargo ungida pelas urnas, e falar em impeachment é desrespeitar a vontade majoritária da população brasileira que foi às urnas, é algo que cheira a golpe. Isso é inadmissível.

Falcão critica impeachment
Em vídeo divulgado ontem em uma rede social, o presidente do PT, Rui Falcão, mandou um recado aos grupos que organizam os protestos de domingo para pedir o impeachment da presidente. Ele afirmou que, se quiserem chegar à Presidência da República, esses movimentos terão que esperar até 2018:

— Sabemos que alguns grupos organizados têm se aproveitado de um momento de dificuldades passageiras para espalhar seus métodos antidemocráticos. Esses grupos terão que esperar a eleição de 2018 e lá disputar seus planos nas urnas — afirmou Falcão.

Falcão pediu aos militantes que “não abaixem a cabeça”:

— O PT reforça a orientação à militância que está saindo às ruas a não aceitar provocação de extremistas, mas tampouco abaixar a cabeça.(Colaboraram Bruno Rosa, Letícia Fernandes e Silvia Amorime Simone Iglesias)

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