quarta-feira, 8 de abril de 2015

Após recusa, Dilma escala vice na articulação política

Dilma transfere ao vice a articulação do governo

• Escolha foi feita às pressas, depois que outro peemedebista recusou o cargo

• Correligionários avaliam que Temer não tem mais poder sobre o partido e terá dificuldades na missão

Valdo Cruz, Mariana Haubert, Bruno Boghossian - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA- Diante da recusa do ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) em assumir a pasta que cuida da articulação política do governo, a presidente Dilma Rousseff transferiu as funções para o vice-presidente Michel Temer (PMDB).

A novidade, acertada de última hora, foi a solução para, nas palavras de assessores, acabar com a "confusão" criada pela própria presidente ao fazer um convite pessoalmente a Padilha sem ter certeza de que ele aceitaria.

Elogiada publicamente pelos peemedebistas, a escolha de Temer foi questionada reservadamente por colegas de partido. A avaliação é que o vice, hoje, não tem mais poder sobre o partido e terá dificuldades na nova missão

Durante o primeiro mandato e no início deste segundo, o vice foi mantido à distância das principais decisões políticas do governo.

Padilha havia sido convidado na segunda (6) para substituir o ministro petista Pepe Vargas (Relações Institucionais), mas recusou alegando motivos pessoais. Na verdade, ele enfrentou resistências por parte dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Os dois preferiam não ter um peemedebista no comando da articulação política para seguirem atuando com liberdade e autonomia em relação ao governo Dilma.

A mudança, avaliam peemedebistas, leva o partido para dentro da crise política e ainda coloca em risco o mote da independência, principal bandeira da vitoriosa campanha de Cunha na Câmara.

À noite, Cunha disse que o fato de Temer assumir a articulação política "não vai alterar absolutamente nada" a independência da Casa.

Renan e Cunha têm criado dificuldades para Dilma desde o início do ano Legislativo. O primeiro devolveu a medida provisória que desidratava a desoneração da folha de pagamento. Cunha, além de impor diversas derrotas, derrubou o ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), em sessão tumultuada na Câmara.

A decisão sobre Temer na articulação política foi anunciada por Dilma aos líderes governistas do Congresso durante reunião no Planalto.

Segundo assessores presidenciais e peemedebistas, a medida foi acertada, mas tomada no "timing" errado.

Na avaliação deles, Dilma deveria ter feito a troca logo após as eleições no Congresso. Agora, Temer terá de apaziguar os ânimos na sua sigla e garantir o ajuste fiscal.

Um peemedebista disse que a pacificação passa pela nomeação de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para um ministério sem afetar o espaço de Renan no governo.

O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) afirmou que o governo vai extinguir a Secretaria de Relações Institucionais e sua estrutura será transferida para a vice-presidência. Com isso o governo passa a ter 38 ministérios.

Pepe Vargas, que deverá ser nomeado para a Secretaria de Direitos Humanos, órgão vinculado à Presidência, no lugar de Ideli Salvatti, passou pelo constrangimento de tomar conhecimento do convite de Dilma a Padilha pela imprensa.

Irritado, tentou falar com a presidente desde segunda. Sem sucesso, decidiu pedir demissão do cargo. Depois de muita insistência, ele foi recebido pela presidente no final da manhã.

Colaboraram Ranier Bragon e Márcio Falcão, de Brasília

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