sexta-feira, 17 de abril de 2015

Bernardo Mello Franco - Brasília, 2015

- Folha de S. Paulo

Aconteceu há poucas semanas, em um restaurante frequentado por políticos na orla do lago Paranoá. Um dirigente do PT almoçava com jornalistas quando foi saudado efusivamente por um senhor engravatado. Quando o homem se afastou, o petista fez a inconfidência: não tinha ideia de quem havia cumprimentado. O ilustre desconhecido era Vinicius Lages, agora ex-ministro do Turismo.

Indicado por Renan Calheiros, o alagoano foi o sexto titular da pasta, criada há 12 anos para aumentar a oferta de lotes na Esplanada. A média de permanência dos ministros é inferior a 25 meses. Lages ficou apenas 13. A dificuldade dos políticos para memorizar seu rosto retrata, ao mesmo tempo, a desimportância de sua gestão e do cargo que ocupou.

O novo ministro, Henrique Eduardo Alves, é mais um que assume sem conhecer o setor. Foi nomeado porque perdeu a eleição para o governo do Rio Grande do Norte e ficou sem emprego público pela primeira vez em quatro décadas, após 11 mandatos consecutivos de deputado. Sua principal tarefa nada tem a ver com turismo. O que Dilma Rousseff espera é usá-lo para amaciar as relações com a bancada do PMDB na Câmara.

A escolha agradou a Michel Temer e Eduardo Cunha, mas enfureceu Renan. O governo ofereceu ao menos cinco órgãos federais para realocar seu pupilo --da Infraero, que cuida dos aeroportos, à Conab, que regula o preço de frutas e hortaliças. O presidente do Senado não aceitou nenhum deles. Agora ameaça retaliar com um veto à indicação do novo ministro do Supremo Tribunal Federal.

Assim caminham as instituições brasileiras em 2015, 194º ano da Independência e 127º da República.

Levy Fidelix, que agora tenta levar Jair Bolsonaro para o PRTB, encerrou o programa da sigla com uma ode a Tiradentes. Em algum lugar, o herói da Inconfidência deve estar se perguntando onde foi que errou.

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