quarta-feira, 22 de abril de 2015

Bernardo Mello Franco - Quem quer dinheiro?

- Folha de S. Paulo

O autógrafo de Dilma Rousseff oficializou a primeira contribuição dos políticos ao ajuste fiscal: triplicar a verba pública destinada a eles mesmos, por meio de repasses do fundo partidário.

O governo previa gastar R$ 289,5 milhões com as legendas, valor semelhante ao liberado nos últimos anos. O Congresso ignorou a crise e elevou a despesa para R$ 867,5 milhões. Com a base parlamentar em frangalhos e a popularidade na lona, Dilma sancionou a mudança. O jamegão mostra, ao mesmo tempo, a fraqueza política da presidente e a dificuldade que ela ainda terá para aprovar suas medidas de arrocho.

O aumento do repasse aos partidos desmoraliza o discurso de austeridade do governo. Após prometer uma "pátria educadora" e tesourar R$ 7 bilhões da educação, Dilma dá sinal verde à farra do fundo.

É como se a presidente vestisse o terno do apresentador Silvio Santos e saísse atirando aviõezinhos de dinheiro para o ar. A diferença é que as verdinhas, em vez de alegrar as "colegas de auditório", engordarão os bolsos dos dirigentes partidários.

Vai sobrar para todo mundo, inclusive para quem não tem voto. Sem uma única cadeira no Congresso, PCB, PSTU, PCO e PPL levarão R$ 1,4 milhão cada um. Outras oito siglas nanicas, com até três deputados, dividirão um bolo de R$ 51,4 milhões. Embora a economia esteja parada, criar partido político continua a ser um bom negócio no Brasil.

A emenda que turbinou o fundo partidário foi apresentada pelo senador Romero Jucá, do PMDB. Ele afirmou que é o "início da discussão do financiamento público das campanhas", mas se esqueceu de dizer que em 2015 não haverá eleições.

O fim das doações privadas é uma ideia interessante, mas não deve ser decidida com uma canetada no Orçamento. Por enquanto, os políticos ficam com o melhor dos mundos: aumentaram os repasses do Tesouro e continuarão a passar o chapéu entre bancos e empreiteiras.

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