quinta-feira, 30 de abril de 2015

Brasil vive pior desaceleração econômica em 20 anos, diz FMI

• Fundo recomenda ajuste fiscal para que país retome o crescimento

Flávia Barbosa – O Globo

Crise sem fim

WASHINGTON - O Brasil está vivendo a mais séria desaceleração econômica em mais de duas décadas, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI) no relatório "Perspectiva Econômica Regional: Hemisfério Ocidental", divulgado ontem. Ainda assim, a equipe do economista-chefe do organismo multilateral para a região, Alejandro Werner, afirma que a receita para que o país recupere credibilidade e destrave as engrenagens do Produto Interno Bruto (PIB) é levar a cabo o ajuste fiscal e monetário.

Em linha com os analistas de mercado semanalmente consultados pelo Banco Central (BC), o FMI projeta para o Brasil em 2015 contração de 1% do PIB. Em 2013, a economia cresceu 2,7%. Em 2014, o quadro foi de estagnação, com expansão de 0,1%. O Fundo prevê uma recuperação modesta em 2016: 1%.

Pela série histórica do IBGE, se confirmada, a contração de 1% do PIB será a mais acentuada em 25 anos. Em 1990, ano do confisco implementado pelo então presidente, Fernando Collor, a economia desabou 4,35%. Houve outras duas recessões: em 1992, o PIB encolheu 0,54%; e em 2009, em meio à crise financeira global, recuou 0,2%.

Falta confiança à indústria
O Brasil passa "pela mais séria desaceleração econômica em mais de duas décadas", afirma o FMI. "O investimento privado continua a ser um importante empecilho, à medida que, aos problemas de competitividade de longa data, somaram-se termos de troca mais fracos (no comércio exterior, após o fim do boom das commodities até 2010) e elevada incerteza".

A confiança dos empresários está abalada, e eles temem assumir riscos. Isso se deve, além dos entraves macroeconômicos, a dois motivos principais, avalia o Fundo: "os desdobramentos da investigação na Petrobras e o impacto da seca prolongada na oferta de energia". A petrolífera tem grande influência sobre a cadeia industrial brasileira. E o escândalo de corrupção afeta as principais construtoras do país e outros fornecedores de serviços. Já a energia é um dos principais cálculos de projeção de custos e viabilidade de empreendimentos.

Pesa ainda o ânimo das famílias, que piorou muito "devido à inflação elevada, às condições de crédito mais apertadas e à incipiente deterioração do mercado de trabalho". Nestas condições, a tendência é frear compras, contribuindo para a contração econômica.

O ajuste implementado pelo governo para levar a inflação de volta à meta - com alta dos juros desde o ano passado - e reequilibrar as contas públicas - com cortes de gastos - vai acentuar a desaceleração econômica em 2015, reconhece o FMI. Mas não deve ser evitado. "O movimento das autoridades é criticamente necessário para conter a elevação da dívida pública e restituir a confiança no arcabouço da política macroeconômica", escreveu a equipe de Werner, segundo a qual o aperto da política monetária é "adequado", já que se espera uma inflação encerre 2015 a 8% (o centro da meta é 4,5%, e o teto, 6,5%).

Também são importantes para o comportamento futuro da economia os reajustes de tarifas públicas e preços administrados (como energia e gasolina), após longo período represados, e a desvalorização do real frente ao dólar - isso impacta a competitividade e a expectativa de retorno nas decisões sobre novos projetos.

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