segunda-feira, 13 de abril de 2015

Novos protestos contra governo têm adesão menor

• PM calcula 700 mil nas manifestações. Organização fala em 1,5 milhão

• Mobilização chegou a 252 cidades de 24 estados e do Distrito Federal, mas ficou aquém da que reuniu 2 milhões de pessoas em 15 de março

Pela segunda vez em menos de um mês, brasileiros saíram às ruas de todo o país para protestar contra a presidente Dilma Rousseff e contra os escândalos de corrupção. Desta vez, as manifestações tiveram adesão menor e mobilizaram cerca de 700 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar, contra 2 milhões que foram às ruas em 15 de março. Mas os organizadores dos protestos comemoraram o aumento de 147 para 252 no número de cidades que fizeram atos, o que, para eles, indica uma disseminação do sentimento de insatisfação com o governo. Como em 15 de março, os políticos de oposição preferiram não participar, e foram criticados pelos organizadores. Muitos manifestantes pediram o impeachment de Dilma e pequenos grupos voltaram a pedir intervenção militar. Desta vez, o governo não deu entrevistas para comentar a mobilização, mas a presidente usou uma página nas redes sociais, administrada pelo PT, para afirmar que o combate à corrupção é uma "ação permanente da sua gestão".

Menos pessoas, mais cidades

  • Menores que as de 15 de março, manifestações reuniram 700 mil em 218 municípios

Cássio Bruno, Letícia Fernandes, Lauro Neto, Renato Onofre, Sérgio Roxo, André de Souza, Renata Mariz e Washington Luiz - O Globo

RIO, SÃO PAULO E BRASLIA- Menos de um mês após as grandes manifestações de 15 de março, os brasileiros voltaram às ruas ontem em 24 estados e no Distrito Federal para protestar contra a presidente Dilma Rousseff e contra os escândalos de corrupção no país. Desta vez, os protestos foram menores e mobilizaram cerca de 700 mil pessoas, contra as 2 milhões que foram às ruas mês passado. Mas o número de cidades com atos aumentou de 147 para 218, indicando que as demonstrações de insatisfação com o governo estão mais pulverizadas.

Como em 15 de março, os atos tiveram como mote central as críticas ao governo Dilma. Muitos manifestantes pediram o impeachment da presidente, inclusive em faixas e cartazes, mas esta não era a reivindicação de todos os que estavam nas ruas. O PT e o governo foram responsabilizados por escândalos de corrupção como o revelado pela Operação Lava-Jato. Pequenos grupos pediram a intervenção militar, e houve outros protestos pelos motivos mais variados.

Assim como em março, os políticos ficaram em segundo plano ontem. Nenhum deles se arriscou a discursar em cima de carro de som. Os poucos que foram, como o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP), ficaram no chão. Os maiores líderes da oposição acompanharam tudo de casa.

Desta vez, o governo não se pronunciou. Mas, no Facebook, em perfil de Dilma administrado pelo PT, a presidente afirmou: "A guerra contra a corrupção deve ser, simultaneamente, uma tarefa de todas as instituições, uma ação permanente do governo e também um momento de reflexão da sociedade de afirmação de valores éticos".

Em SP, o protesto reuniu 275 mil pessoas na Avenida Paulista, segundo a PM. O número ficou bem abaixo daquele do ato do dia 15, quando um milhão de pessoas esteve na rua, também segundo a PM. Embora com adesão menor, os organizadores dos grupos Vem Pra Rua e Brasil Livre, que estimaram o público em 800 mil pessoas, comemoravam a pulverização do movimento pelo país.

— O nosso objetivo era mesmo ter número maior de cidades. E chegamos ao triplo (em relação ao dia 15). É mais importante para a gente estar em mais cidades do que ter um grupo grande, mas localizado — afirmou Kim Kataguari, um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL).

Ontem, novamente, a bandeira e os gritos de "fora, Dilma" e "fora, PT" dominaram o ato na capital paulista. A manifestação foi pacífica. Segundo a PM, apenas uma mulher foi detida por tirar a roupa. Chamou a atenção uma enorme bandeira verde e amarela com a palavra "impeachment" em preto, estendida na Avenida Paulista.

Em minoria, grupos que defendem intervenção militar no país também marcaram presença. Paralelamente ao ato da Paulista, um grupo de caminhoneiros que protestava contra o governo Dilma percorreu ruas da capital paulista. O Solidariedade, partido de Paulinho, foi a única legenda a levar bandeiras para a avenida e recolheu assinaturas em favor do impeachment.

Sobrou até para políticos de oposição no protesto na Avenida Paulista. Kim Kataguiri, do MBL, disse no carro de som que o PSDB faz uma oposição passiva. Outro coordenador do grupo, Renan Santos, foi ainda mais incisivo:

— Vamos ter de perder tempo para construir uma oposição. Ninguém está aqui para fazer fotografia. Estamos aqui para derrubar a presidente.

Havia dois carros de som pedindo intervenção militar. Num deles, os oradores vestiam roupas de camuflagem. Um deles usava capacete de combate. O veículo tocava uma paródia da música "Pra não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré. Noutro carro, com faixas em inglês, um orador falava em inglês e era traduzido por um jovem.

No Rio, vestidos de verde-amarelo e com faixas pedindo o impeachment de Dilma e, em menor número, a intervenção militar, milhares de pessoas ocuparam a orla de Copacabana. A PM, que colocou na rua cerca de 800 policiais, recusou-se a dar estimativa oficial de público, mas o comando do Batalhão de Grandes Eventos da PM disse de manhã ao site G1 que cerca de 10 mil pessoas estiveram no ato. Já os organizadores divergiram: para Maria Fernanda Gomes, coordenadora municipal do Movimento Brasil Livre, a estimativa ficou em 20 mil, mas Rizzia Arrieiro, porta-voz do Vem Pra Rua, falou em 110 mil participantes.

Por três horas, manifestantes cantaram o Hino Nacional, puxado por dois carros de som. Uma das críticas nos cartazes era ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Dias Toffoli. Ele vai se transferir para a Segunda Turma do STF, onde deve presidir e julgar parte dos inquéritos da Operação Lava-Jato. Toffoli foi advogado do PT e indicado ao STF pelo ex-presidente Lula. Aliado de Dilma, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), também foi alvo do ato. Houve vaias ao ex-presidente e aplausos ao juiz Sérgio Moro e à PM.
O humorista Marcelo Madureira fez um discurso pedindo a saída de Dilma e a prisão de Lula, e chamou o PT de "câncer do Brasil". Já dom João de Orleans e Bragança, da família real brasileira, também no protesto do Rio, disse ser contra o impeachment.

O ato foi pacífico na maior parte do tempo, mas houve casos isolados de confusão. Em três momentos, a PM interveio para que pessoas contrárias ao protesto não fossem agredidas. Um homem chegou a sair escoltado por policiais após provocar os manifestantes. Em Niterói, pelo menos 600 pessoas participaram de protesto pacífico contra o governo.

Em Brasília, cerca de 25 mil manifestantes, segundo a PM, saíram pela Esplanada dos Ministérios. Os organizadores estimaram em 70 mil a 80 mil pessoas. Muitos pediam que os militares tirassem Dilma do poder, mas negavam apoiar uma ditadura, defendendo uma "intervenção militar constitucional".

Mesmo com número menor no ato de ontem, o representante do MBL, Paulo Pagini, considera que a marcha mobilizará o governo:

— Foi um sucesso, acho que eles (os políticos) ouviram agora. Estamos pedindo a moralização. Mudar a política, mudar a situação de reeleição.

Quando volume considerável de manifestantes se concentrou na Esplanada, um militante ao microfone, em um dos cinco carros de som do ato, atribuiu a participação à ajuda divina, dizendo que "mais cedo tinha pouca gente, Deus pôs um dedo e encheu". Em seguida, ele puxou um Pai-Nosso. A maioria dos manifestantes próximos ao carro de som acompanhou a oração de mãos dadas.

A área do Congresso, ponto final do ato, foi cercada por cordões de isolamento atrás do espelho d"água. Mesmo assim, um grupo conseguiu entrar no espelho d"água com a bandeira do Brasil. Os prédios do Itamaraty e do Ministério da Justiça também foram protegidos. No fim da manhã, duas pessoas foram detidas: uma portava um facão quando se envolveu numa briga de trânsito, nas imediações do ato; a outra tinha sinais de embriaguez.

Em duas capitais — Fortaleza e Campo Grande — o número de manifestantes aumentou ontem em comparação com 15 de março.

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