sábado, 11 de abril de 2015

Petrobras: custo da corrupção pode chegar a r$ 6 bilhões

• Balanço deve ser publicado no próximo dia 20, diz fonte da estatal

Gabriela Valente, Ramona Ordoñez e Bruno Rosa – O Globo

BRASÍLIA e RIO - Técnicos da Petrobras vão fechar neste fim de semana o cálculo exato do peso da corrupção nas contas da estatal. A diretoria trabalha com uma estimativa baseada nos contratos sob investigação na Operação Lava -Jato da Polícia Federal que indicam uma perda em torno de R$ 6 bilhões. Os executivos da estatal devem receber o resultado final dos cálculos na segunda-feira. Oficialmente, o valor será apresentado e divulgado no dia 20 deste mês, quando a empresa publicará o balanço do terceiro trimestre do ano passado já auditado.

- Neste fim de semana, vão rodar todo o sistema. Só aí, vamos saber o valor. Deve ficar próximo de R$ 6 bilhões - contou uma alta fonte da instituição que pediu para não ser identificada.

Esse é o principal passo para a recuperação da credibilidade da instituição. A conta foi feita de maneira conservadora para deixar claro que a nova gestão não pretende encobrir as perdas com a corrupção, segundo essa fonte. Esse valor em análise representa cerca de 3% do valor dos ativos da estatal suspeitos de terem tido desvio de recursos, como a Refinaria Abreu e Lima (Renest), em Pernambuco, e o Comperj, em Itaboraí, no Rio de janeiro.

Grau de investimento sob risco
O anúncio previsto para o dia 20 ocorre pouco mais de dois meses após a posse da nova diretoria da Petrobras e inúmeras reuniões com técnicos, auditores e representantes da PricewaterhouseCoopers (PwC). A baixa contábil de R$ 6 bilhões foi calculada após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Securities Exchange Comission (a CVM americana) aprovarem a metodologia para calcular o custo da corrupção nos diversos projetos da estatal.

O valor é cerca de 93% menor que o apresentado pela Petrobras no dia 27 de janeiro, quando a estatal calculou uma baixa contábil de R$ 88,6 bilhões em 31 ativos. A divulgação do número desagradou ao governo e contribuiu para a queda da então presidente da estatal Maria das Graças Foster e de toda a sua diretoria.

O número apresentado na ocasião incluía, além da corrupção, outros fatores como ineficiência em projetos e mudança cambial. Na ocasião, a estatal divulgou informações financeiras sem o aval da PwC, após adiar por duas vezes a publicação dos números.

Desde o fim de outubro, a Petrobras não consegue publicar seu balanço financeiro auditado referente ao terceiro trimestre de 2014. A PwC se recusou a dar o aval para o relatório por conta das denúncias de corrupção na Petrobras que vieram à tona com a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF) e seus desdobramentos.

Com as incertezas, a Petrobras perdeu o grau de investimento pela Moody´s no fim de fevereiro. Já no fim de março a Standard & Poor"s (S&P) avisou que, se a estatal não publicar o balanço até o fim de abril, pode tirar seu grau de investimento, já que os investidores donos dos títulos emitidos pela companhia no exterior podem entrar com o pedido de calote, o que forçaria a uma antecipação do pagamento das dívidas.

A estatal vem correndo contra o tempo para tentar publicar seu balanço auditado o mais rápido possível e evitar a perda de seu grau de investimento por outra agência de risco. Muitos fundos de pensão do exterior só podem aplicar recursos em companhias que contam com grau de investimento de, pelo menos, duas agências de classificação de risco.

A próxima reunião do Conselho de Administração da Petrobras estava prevista originalmente para o próximo dia 17. Será a 12ª reunião desde o dia 31 de outubro, quando a PwC se recusou a assinar o balanço do terceiro trimestre de 2014, abrindo uma crise na estatal. Na ocasião, a PwC, segundo fontes, recusou-se a assinar o balanço alegando que o então presidente da Transpetro, Sergio Machado, não poderia assinar o balanço pode ter sido citado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, em sua delação premiada à Justiça.

Troca de todos os conselheiros
Com a chegada de Aldemir Bendine, o governo federal, controlador da Petrobras, sinalizou que também iria trocar todo o Conselho de Administração com nomes do mercado. Assim, dos sete nomes que a União tem direito de indicar, foram recém-empossados o diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, o advogado Luiz Navarro e o próprio Bendine. Para presidir o Conselho foi indicado o presidente da Vale, Murilo Ferreira no lugar de Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda.

Os mandatos de todos os dez conselheiros - os sete indicados pela União, e os três membros independentes - precisarão ser aprovados pelos acionistas em assembleia marcada para o dia 29 de abril. O mandato tem duração de um ano. Os conselheiros independentes Mauro Cunha e José Monforte já anunciaram que não vão se candidatar à reeleição. Por sua vez, o novo representante dos funcionários da Petrobras será Deyvid Barcelar, , coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP) da Bahia.

Os três atuais conselheiros independentes têm se mostrado contrários a uma série de medidas adotadas pelo governo para recuperar a estatal, como a própria nomeação de Murilo Ferreira para presidir o conselho.

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