sexta-feira, 10 de abril de 2015

Temer: 'Dilma me pediu ajuda para governar'

• No Rio, presidente confirma que "autonomia está dada" para vice fazer articulação política com Congresso

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO - Recém-nomeado para fazer a articulação política do governo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) afirmou ontem que terá autonomia para agir com o Congresso, inclusive oferecendo cargos e fazendo nomeações que contemplem a base aliada. Temer teve um encontro privado com o ex-presidente Lula, que havia aconselhado a presidente Dilma Rousseff a dar mais espaço ao PMDB e mais poder ao vice-presidente. Temer também conversará com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na próxima semana, para discutir reforma política.

Após o encontro com Lula, o vice-presidente negou que o país viva um momento de ingovernabilidade e atribuiu à sua experiência parlamentar o convite para assumir a coordenação política.

- Ela (Dilma) me disse: Somos parceiros, você vai me ajudar a governar. E e é isso que estou fazendo - resumiu.

Questionado pelos jornalistas sobre a autonomia que teria na função de articulador político, Temer foi taxativo:

- A presidenta me deu poderes para tanto. Evidentemente, que eu sempre conversarei com ela, afinal, ela é a presidenta da República. Eu tenho autonomia para fazer todos os levantamentos, todos os estudos (de mapeamento de cargos), não apenas nesse ponto, que eu diria que é de menor relevância, mas no diálogo com o Congresso Nacional. É o que me cabe e eu farei com muito prazer.

No Rio, para entregar unidades do Minha Casa Minha Vida, a presidente afirmou que Temer tem a autonomia de seu cargo para renovar o diálogo do governo com o Congresso.

"Ele é do coração do governo"
- O vice-presidente, assim como qualquer outra pessoa que integre o governo, leva em consideração que a nossa base é integrada por diversos partidos. Então, dado que os nossos compromissos são comuns e ele os conhece todos, até porque participou desses compromissos, a autonomia dele está dada pelo fato de que ele integra o governo. Ele é do coração do governo, não é uma pessoa estranha. Ele vive o dia a dia do governo - disse Dilma.

A presidente buscou reforçar a intenção de que dividirá com os aliados, sobretudo com o PMDB, as decisões que vinha centralizando. Dilma procurou mostrar que confia na habilidade de Temer para obter uma trégua ao governo.

- É bem sintética a minha avaliação: a (expectativa em relação a Temer é a) melhor possível. Tenho certeza que Michel Temer tem todas as condições: tem a autoridade de ser o vice-presidente e a experiência de vida, inclusive tendo sido presidente da Câmara Federal. E, de outro lado, ele tem uma imensa capacidade para o diálogo, para o consenso, para construir toda a relação que é necessária para uma coalizão da envergadura da nossa - elogiou a presidente.

Segundo Temer, a reunião com Lula, que aconteceu no instituto do ex-presidente, foi marcada pela reforma política. Mas Temer admitiu que Lula falou sobre a nova função do peemedebista.

- Delicadamente, ele me disse que talvez eu me saia bem - comentou.

Temer minimizou o potencial de conflito com os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, ambos do PMDB e que estão em rota de colisão com o governo.

- Eles são meus companheiros, né? Meus amigos. E nós temos estabelecido muito bem essa conceituação institucional. O Congresso Nacional tem suas competências e as exerce com muita sobranceria. De outro lado, evidentemente, o Executivo não governa sozinho, governa com o Congresso.

Raupp presidirá PMDB
Temer disse que a decisão sobre sua saída da presidência do PMDB só deve ser tomada na próxima semana. Sua intenção de colocar o senador Romero Jucá (RR) em seu lugar se frustrou ontem diante da sinalização da segunda vice-presidente do partido, deputada Irís de Araújo (GO), de que não abriria mão do cargo. Com isso, o primeiro vice, o senador Valdir Raupp (RO), que concordara em ceder a prerrogativa para Jucá, assumirá a presidência do PMDB na próxima semana. Raupp é um dos citados nos inquéritos da Lava-Jato como receptor de doações de empresas investigadas.

Outro revés para o governo foi a aprovação, na Câmara, de uma emenda que abre o sigilo das operações do BNDES. Ela ainda será analisada pelo Senado. Por outro lado, o governo conseguiu enterrar mais uma CPI, a dos fundos de pensão, com a retirada de assinaturas dos cinco senadores do PSB. Interlocutores garantem que Temer comandou a operação que levou ao arquivamento da CPI. Em nota, os senadores do PSB alegaram que a criação de mais uma CPI poderia tirar o foco de temas mais importantes para tirar o Brasil da crise econômica, e que irão focar em três CPIs: Zelotes, HSBC e extermínio de jovens.

No fim da tarde de ontem, Temer assumiu a presidência da República interinamente, em razão da viagem de Dilma para a Cúpula das Américas, no Panamá. ( Colaboraram Alexandre Rodrigues, Simone Iglesias e Maria Lima)

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