domingo, 17 de maio de 2015

Campanha de Fachin rompe com tradição

• Advogado escolhido por Dilma deixou de lado discrição dos antecessores em esforço para vencer resistências no Senado

• Indicado ao STF buscou apoio de líderes religiosos e mobilizou amigos e redes sociais para assediar senadores

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O advogado Luiz Fachin rompeu com a cartilha de silêncio e discrição seguida por juristas que concorreram antes dele a uma vaga na mais alta corte do país, o STF (Supremo Tribunal Federal).

Não há relato de outro indicado que tenha feito vídeos e criado um site para defender sua nomeação, nem que tenha buscado contato com líderes religiosos para desmentir boatos sobre sua trajetória.

Escolhido pela presidente Dilma Rousseff após mais de oito meses de indefinição, Fachin foi sabatinado pelos senadores por 11 horas na semana passada. O plenário do Senado deve votar sua indicação na próxima terça (19).

Outros ministros buscaram assessores para se preparar para a sabatina, mas nunca alguém mobilizou uma equipe tão grande como agora.

Carmem Lúcia, em 2006, e Luís Roberto Barroso, em 2013, contaram com a ajuda informal do jornalista Irineu Tamanini para lidar com a mídia entre a indicação e a nomeação. O serviço era basicamente mantê-los longe de entrevistas. Ambos foram orientados a só receber jornalistas após a posse.

Quem atua no meio enumera regras ao indicado, como nunca se deixar ser chamado de ministro antes da nomeação, não conceder entrevistas antes da posse e mostrar respeito por ritos e protocolos.

Além de senadores, Fachin esteve com com líderes religiosos. Falou com d. Sérgio da Rocha, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, e igrejas evangélicas. O pastor Silas Malafaia, que o acusou de ser defensor da poligamia, disse numa rede social ter sido procurado por ele. Pessoas próximas contam que o advogado, ao lado da mulher, a desembargadora Rosana Amara Girardi, também visitou os bispos Robson e Lúcia Rodovalho, da Sara Nossa Terra.

Fachin contratou em abril uma assessoria, a F7 Comunicação, do jornalista Samuel Figueiredo. Pouco depois, sua família recrutou um escritório para monitorar menções ao seu nome nas redes sociais. E um designer para fazer o site pró-Fachin.

Associou o trabalho da F7 à consultoria do jornalista Gustavo Krieger, um dos responsáveis pela comunicação da campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB), em 2014.

Segundo Figueiredo, o escritório da família de Fachin pagou. Especulações sobre o custo da equipe apontaram cifras próximas de centenas de milhares de reais. "Até gostaria de ganhar quanto dizem, mas os valores não são esses", diz Figueiredo. Uma pessoa com acesso à equipe disse que o custo da campanha deve ficar em menos de R$ 100 mil.

Figueiredo já havia trabalhado para Luiz Fux, o primeiro nomeado por Dilma, em 2011. Mas a situação não se compara, diz: "O cenário político hoje é um pouco mais conturbado". No momento, Dilma enfrenta seu maior desgaste político.

'Fachinês'
Só para a sabatina --a mais longa em 20 anos--, foram dez horas de treinamento. Os assessores disseram a Fachin para ser didático, paciente, respeitoso e polido. E pediram para evitar o "fachinês", apelido ao hábito de usar termos empolados ou conhecidos só no universo jurídico.

Houve uma campanha para mobilizar amigos e aliados na internet e nos contatos com senadores. O empenho foi registrado por Antonio Anastasia (PSDB-MG). Na sabatina, ele disse que recebeu inúmeras mensagens do meio jurídico pedindo apoio a Fachin.

No dia da arguição, a equipe que monitora as redes contou 110 mil citações a Fachin. Segundo o estudo, um número superior aos registrados por Dilma e Aécio no dia de lançamento de suas candidaturas presidenciais, em 2014.

Para especialistas em gestão de imagem, a maratona de Fachin pode lhe deixar uma herança incômoda, ainda que ele tenha sucesso no final: a de um ministro considerado frágil pela quantidade de ajuda que precisou buscar.

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