sábado, 23 de maio de 2015

Descontente e resfriado, Levy falta a cerimônia sobre Orçamento

• Fazenda afirmou que falta se deve apenas a doença; Levy defendia valor maior, para mostrar gravidade do momento

• Antes do evento, Dilma se reuniu com o ex-presidente Lula por quase cinco horas na Granja do Torto

Natuza Nery, Valdo Cruz e Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Divergências quanto ao tom do anúncio e o tamanho do corte nas despesas do governo levaram o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a faltar à divulgação oficial do bloqueio de R$ 69,9 bilhões no Orçamento.

O titular da Fazenda tradicionalmente é o principal personagem desse tipo de evento, mas Levy, segundo a Folha apurou, preferiu "marcar posição".

O Ministério da Fazenda informou que o ministro não compareceu ao evento pelo "único" motivo de estar resfriado. Mas, nos bastidores, a informação era a de que o chefe da equipe econômica, que passou os últimos meses negociando os temos do ajuste fiscal, foi voto vencido na discussão sobre a mensagem que seria dada à imprensa.

Ele defendia que se expusesse um cenário mais "sombrio" sobre a situação do caixa do governo, indicando que há risco real de uma reavaliação das receitas do governo, com elevação de tributos.

Sem a presença de Levy, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, assumiu sozinho a apresentação dos cortes aos jornalistas.

Como atestado de que a falta à solenidade não era esperada, uma plaquinha com o nome do ministro da Fazenda marcava seu lugar na sala em que foi feita a entrevista.

Não é pelos R$100 mi
Levy nos últimos dias chegou a afirmar que "o piso" para o contingenciamento de gastos era de R$ 70 bilhões --a Fazenda defendia um número ainda maior, mais próximo a R$ 80 bilhões.

Reservadamente, auxiliares presidenciais avaliaram que, do ponto de vista fiscal, não há diferença em relação aos R$ 69,9 bilhões anunciados por Barbosa. O próprio Levy concorda que o tamanho do bloqueio é forte.

Entretanto, do ponto de vista simbólico, foi passada a mensagem de que seu número não vingou.

"Não leiam isso como mais que uma gripe", tentou justificar Nelson Barbosa na coletiva de imprensa. Levy acompanhou o anúncio de seu gabinete, a poucos metros dali.

Dilma com Lula
Antes do anúncio do corte, a presidente Dilma se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília por quase cinco horas na Granja do Torto.

Esse foi o segundo encontro entre Dilma e Lula em uma semana. Segundo a Folha apurou, Lula falou sobre o impacto social e econômico do corte, que preocupa o ex-presidente pois atinge programas que sempre foram marcas petistas.

Apesar das críticas, foi feito um balanço de que "o pior já passou" e que, a partir do segundo semestre, a presidente precisa entrar em uma agenda positiva e retomar aparições públicas.

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