domingo, 28 de junho de 2015

Após reunião com Dilma, ministros atacam delação

- O Globo

• Aloizio Mercadante desiste de viajar aos EUA com presidente para reforçar defesa de doações de campanha

Para rebater as acusações do empreiteiro Ricardo Pessoa, o ministro Aloizio Mercadante cancelou sua ida aos EUA com a presidente Dilma, que chegou ontem a Nova York.  

BRASÍLIA- Depois de serem convocados para uma segunda reunião de emergência com a presidente Dilma Rousseff em menos de 24 horas por causa das revelações da delação premiada do dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, investigado na Operação Lava-Jato, os ministros Edinho Silva (Comunicação Social), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) elevaram ontem o tom da reação do governo. Em duas entrevistas coletivas ontem, eles disseram que há um vazamento seletivo para desgastar o PT e a presidente Dilma Rousseff, o que consideram inaceitável.

Mercadante desistiu até de acompanhar Dilma na viagem oficial aos Estados Unidos para reforçar a linha de defesa de que as doações eleitorais citadas pelo empreiteiro, incluindo para a campanha de reeleição da presidente, são legais e aprovadas pela Justiça Eleitoral. Os ministros pontuaram que outros partidos, como o PSDB, também receberam recursos da UTC. A presidente chegou a atrasar a decolagem por causa da articulação da reação do governo. Mercadante disse que cancelou sua viagem para dar as explicações e por causa da agenda importante de votações no Senado na próxima semana:

— Eu queria estar aqui. E a presidente nos disse: façam todos os esclarecimentos. Meu governo tem que ter atitude.

Num tom político mais forte do que o dos comunicados do governo no dia anterior, Mercadante disse que há um vazamento "focado no PT" e que não há base para se falar em impeachment de Dilma por causa das contas de campanha ou mesmo das chamadas pedaladas fiscais:

— Não haverá base jurídica (para o impeachment). Neste episódio, serão demonstradas as mais absolutas lisura, legalidade, transparência, correção. É evidente que há uma ênfase ao ataque ao PT, uma leitura focada numa disputa que não parou desde o fim das eleições. E, ao que me consta, Aécio recebeu R$ 4,5 milhões.

O ministro Edinho Silva foi na mesma direção, numa reação a declarações em favor do impeachment de integrantes da oposição, como o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO)
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— O que estamos enfrentando é o vazamento seletivo, algo que precisa ser provado. Não sei se há campanha aberta contra o PT. O que não pode haver é nenhum tipo de manipulação. Utilizar instrumentos institucionais, como a delação, para luta política é inaceitável — disse Edinho.

Ex-tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, Edinho Silva disse ter recebido autonomia de Dilma para assumir a defesa das denúncias e se disse "indignado". Afirmou que, caso sejam verdadeiras as declarações atribuídas a Pessoa, pedirá para ser ouvido nos autos e também a anulação da delação premiada. Ao seu lado, o ministro Cardozo disse que os citados querem acesso ao depoimento e que é preciso ter cuidado com a delação premiada, porque a pessoa quer obter benefícios e pode "mentir sobre tudo". Ele lembrou que benefício pode ser suspenso se ficar comprovado que o depoente mentiu.

— A presidente Dilma está absolutamente tranquila com as justificativas dos ministros citados na delação de Ricardo Pessoa — disse Cardozo.

Edinho Silva disse que as contas de Dilma foram "rigorosamente auditadas e aprovadas por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)". Ele disse que as doações de Pessoa, que somaram R$ 7,5 milhões, representaram apenas 2% das doações feitas à campanha da reeleição de Dilma. E contou que se reuniu por três vezes com o empreiteiro e com "dezenas" de outros empresários.

— Causa-me indignação a tese de criminalização seletiva das doações da nossa campanha (de Dilma, em 2014). E acho estranho suspeitas colocadas apenas sobre as doações legais da campanha da presidente Dilma, enquanto outros partidos também receberam — disse Edinho. — Caso se confirmem as mentiras divulgadas pela imprensa, tomarei medidas pela minha honra que farão cessar os benefícios da delação premiada.

Edinho disse que seu cargo está sempre à disposição da presidente Dilma e defendeu seu assessor Manoel de Araújo Sobrinho, citado por Pessoa como quem recebia os recursos. Manoel trabalha com Edinho há 20 anos e atualmente é o seu chefe de gabinete na Secretaria de Comunicação Social da Presidência.

— Ele (Manoel) cuidava da parte burocrática das doações. Faço questão que fique no cargo até para eu ter alguém da minha confiança na condução do Ministério.

PF achou cartão na sede da Galvão
Antes da Secom, Sobrinho foi assessor especial na Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência, até maio de 2014. Ele deixou o cargo para integrar a coordenação do comitê financeiro da campanha de Dilma. Um cartão com a inscrição "Manoel Araújo" foi apreendido pela Polícia Federal (PF) na sede da Galvão Engenharia no Itaim-Bibi, em São Paulo, como integrante da coordenação do comitê financeiro da campanha de Dilma.

Mercadante admitiu que recebeu R$ 500 mil da Constran, do grupo UTC, em sua campanha para o governo de São Paulo em 2010, mas de forma legal. Segundo ele, foram duas parcelas de R$ 250 mil, entre 29 de julho e 27 de agosto de 2010, com os devidos recibos apresentados ao TSE. Pessoa disse que uma das parcelas não foi declarada. Mercadante confirmou que recebeu a visita de Pessoa quando se recuperava de uma cirurgia. Disse que os dois se conheceram naquela ocasião, falaram apenas sobre programa de governo, e Pessoa ofereceu contribuição.

— Eu agradeci. Que entrasse em contato com minha campanha, desde que fosse dentro da legislação.

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