sábado, 27 de junho de 2015

Citados por empreiteiro negam irregularidades nas doações

• Ministros, tesoureiros e senadores aliados e da oposição se defendem

Luiza Damé, Cristiane Jungblut, Sérgio Roxo, Silvia Amorim e Tatiana Farah – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO- Citados na delação premiada do dono das construtoras UTC e Constran, Ricardo Pessoa, como beneficiários de doações de recursos desviados da Petrobras, os ministros Edinho Silva (Comunicações) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) negaram qualquer irregularidade.

Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha de Dilma em2014, disse, em nota, que se reuniu três vezes com o empresário para tratar de doações à campanha eleitoral de 2014. Segundo ele, a primeira vez, quando conheceu Pessoa, foi no comitê da campanha da reeleição de Dilma, em Brasília. O ministro disse ainda que, "o empresário, após o primeiro contato, organizou o fluxo de doações em três parcelas que totalizaram R$ 7,5 milhões".

Edinho acrescentou que as contas da campanha de Dilma foram auditadas e aprovadas por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral. "Reafirmo que todas as doações da campanha de 2014 foram feitas dentro da legalidade", disse.

Também por meio de nota, Mercadante disse desconhecer o teor da delação premiada de Pessoa, mas confirmou que a UTC e a Constran fizeram doações de R$ 250 mil, cada uma, para a sua campanha, a governador de São Paulo em 2010. Mercadante afirmou que as doações foram devidamente contabilizadas e declaradas à Justiça Eleitoral, como demonstrado na prestação de contas que foi aprovada.

Petistas citados no depoimento de Pessoa também negaram ter recebido dinheiro do empreiteiro de forma ilegal. O advogado do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, Luiz Flá-vio Borges D"Urso, afirmou que seu cliente nunca intermediou o recebimento de doações oriundas de caixa dois:

— O Vaccari nunca transacionou caixa dois. Toda a solicitação que ele fez de doação ao partido ou a quem quer que seja sempre foi doação oficial. Não procede (essa acusação).

Ex-tesoureiro da campanha da presidente Dilma em 2010, José de Filippi Júnior também disse ter recebido apenas doações legais. "Durante a campanha de 2010 mantive contatos de forma transparente com diversas empresas em busca de doações eleitorais, portanto, legalmente registradas, incluindo o senhor Ricardo Pessoa"," diz nota divulgada por Filippi, que hoje é secretário de Saúde da gestão petista em São Paulo.

Em nota à imprensa, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reafirma "que as doações e despesas de sua campanha foram devidamente declaradas à Justiça Eleitoral".

A assessoria de imprensa do ex-ministro José Dirceu afirmou que o petista recebeu R$ 3,08 milhões da UTC por um contrato de sua empresa, JD Consultoria e Assessoria. O contrato foi firmado em fevereiro de 2012 e renovado por duas vezes, em 2013 e 2014. Ainda segundo a assessoria, Dirceu foi contratado pela empreiteira para prospecção de negócios no exterior, sobretudo no Peru e Espanha.

Também citado por Pessoa, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) disse que recebeu uma doação legal de R$ 300 mil da UTC e que em 2010, ninguém poderia saber da ligação destas empresas:

— Nunca vi esse cara (Ricardo Pessoa) nem mais gordo, nem mais magro. E não tinha condição de influenciar na Petrobras, dada minha notória oposição ao governo. Não tenho, portanto, nada a esconder quanto a esse episódio, tampouco estou sendo acusado.

Já a assessoria do senador Benedito de Lira (PP-AL), informou que ele recebeu uma doação de R$ 400 mil da Constram, o que foi declarado na prestação de contas de 2010.

O advogado do senador Edison Lobão (PMDB-MA), Antonio Carlos de Almeida, o Kakay, disse que pedirá acesso ao teor da delação premiada. Ele lembrou que já pediu o arquivamento da primeira denúncia contra Lobão, justamente pela contradição entre depoimentos. Para Kakay, as delações têm perdido "credibilidade"

Os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Collor (PTB-AL) não responderam.

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