quarta-feira, 17 de junho de 2015

Lula atuou por construtoras no exterior

Aguirre Talento, Gabriel Mascarenhas, Rubens Valent – Folha de S. Paulo

• Ex-presidente e seu colega Kirchner fizeram 'intervenção decidida' pela Odebrecht em Quito, mostram telegramas

• Outros documentos divulgados nesta terça pelo Itamaraty indicam atuação para negócios de empresas na Argélia

BRASÍLIA - O então presidente Lula e seu colega argentino Nestor Kirchner fizeram "uma intervenção decidida" para ajudar a empreiteira Odebrecht a se associar a uma firma argentina com vistas à construção de uma hidrelétrica no Equador.

A informação consta em telegramas de embaixadas brasileiras e do Itamaraty entre 2003 e 2010, material que expõe a ação do governo brasileiro em benefício de empresas brasileiras como forma de ampliar a influência do país.

São 2.136 páginas de telegramas reservados que foram reclassificados e divulgados nesta terça (16), após requerimento da revista "Época".

Em 2005, o embaixador brasileiro em Quito (Equador), Sergio Augusto Sobrinho, comemorou a ação de Lula e Kirchner em prol de uma demanda da Odebrecht, que procurava se associar à empresa argentina IMPSA.

Ele escreveu ao então chanceler Celso Amorim: "Estou seguro de que a flexibilização na postura da IMPSA e a aceitação, por parte da empresa argentina, da proposta de texto elaborado pela Odebrecht não teriam sido possíveis sem a intervenção decidida de Vossa Excelência e dos presidentes Lula e Kirchner".

Sem a concordância da IMPSA, a Odebrecht não conseguiria assinar um memorando que lhe permitiria participar da concorrência da hidrelétrica de Toachi-Pilatón, obra com custo total estimado em US$ 452 milhões.

Em 2007, mostram telegramas, a Odebrecht conquistou o contrato. Mas no ano seguinte, após divergir do governo local, deixou o país.

Material da embaixada em Argel (Argélia) deixa explícitas as intervenções a favor da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. Em 2006, o embaixador Sérgio França Danese relatou ter dito a interlocutores da Odebrecht que poderia mostrar às autoridades argelinas "as vantagens políticas de contar com empresas brasileiras": "Será a forma de viabilizar o entendimento, oferecido pelo presidente Bouteflika [...], de que a Argélia aplicaria também parâmetros políticos para favorecer empresários brasileiros".

Outro lado
A assessoria de Lula disse que não comentaria. Diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Itamaraty, Rodrigo Azevedo disse que uma das funções de sua área é colaborar para a expansão das empresas brasileiras no exterior. Ele afirmou ainda que não há privilégio a nenhum grupo.

A Andrade não se manifestou. A Odebrecht" informou que os fatos "situam-se no âmbito da missão dos serviços diplomáticos de todo e qualquer país do mundo".

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