quarta-feira, 3 de junho de 2015

Míriam Leitão - É dose de juros

- O Globo

Tudo indica que o Banco Central vai subir os juros de novo, hoje, para 13,75%, apesar da alta do desemprego e da contração do PIB. Até meados de fevereiro, a percepção era que a Selic não chegaria a 13%. Hoje, cresceu o número de projeções acima de 14%. A dificuldade do governo em aprovar o ajuste fiscal fez o BC endurecer o discurso. O tarifaço da energia e seus efeitos na inflação foram subestimados.

O economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, avalia que nos últimos dois meses houve uma forte mudança de postura do Banco Central no combate à inflação. Isso aconteceu a partir do momento em que o governo passou a ter mais dificuldade na condução do ajuste fiscal, com votações apertadas no Congresso, menor apoio político e queda na arrecadação. Diante disso, o BC repensou o ciclo de alta dos juros.

- Desde o anúncio de Levy para a Fazenda, o mercado apostou num ajuste fiscal forte, com ênfase no corte de gastos. Quando esse cenário ficou menos provável, aumentou a desconfiança. O BC, com medo de perder a condução das expectativas, adotou um discurso mais duro, indicando uma alta maior dos juros - explicou Senna.

O tarifaço da energia elétrica foi subestimado tanto pelo mercado quanto pelo Banco Central. Isso também ajuda a entender os motivos da alta maior da Selic agora. Em janeiro, o Boletim Focus estimava inflação de 6,56% para 2015. Hoje, prevê 8,39%. Já o BC só viu que o problema existia no Relatório de Inflação de março, quando subiu sua estimativa para 7,9%. Até dezembro, acreditava que o IPCA deste ano seria de 6,1%. O risco de uma taxa tão alta é que ela chegue à casa dos dois dígitos e dificulte ainda mais a recuperação da economia no ano que vem.

- Minha projeção é de IPCA entre 8,5% e 9% este ano, mas isso com um ciclo maior de alta nos juros. Se o BC não tiver mão firme agora e não conseguir conduzir as expectativas, a inflação pode perfeitamente ir a dois dígitos - disse José Júlio Senna.

O economista prevê que ainda haverá muitas revisões para baixo no PIB deste ano. Classifica como "freio nas quatro rodas" essa desaceleração e avalia que é fundamental destravar as concessões.

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