terça-feira, 23 de junho de 2015

Para Planalto, críticas de ex-presidente desagregam

Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - A avaliação interna no Palácio do Planalto é de que os posicionamentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias, com críticas duras ao governo e ao PT, só contribuiram para agravar a crise que contamina o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Num cenário de queda de popularidade, novas prisões de executivos na Operação Lava-Jato e disseminação de boatos até sobre a saúde de Dilma, sobressai a percepção de palacianos e governistas de que os comentários de Lula desagregam num momento em que governo e partido deveriam enfrentar juntos a turbulência.

O Valor apurou que Lula já havia usado, em ocasião anterior, a expressão "volume morto", em uma análise reservada da conjuntura com Dilma e um grupo seleto de ministros há algumas semanas, em Brasília. Segundo uma fonte que testemunhou o episódio, Lula recorreu à metáfora para afirmar, na presença de Dilma, que o PT e o governo já estavam no "volume morto", e que abaixo disso, "só o pré-sal", em alusão ao petróleo das águas profundas.

As críticas de Lula têm trazido constrangimento aos petistas que integram o governo. O jornal "O Globo" revelou que no sábado, em um encontro com religiosos no Instituto Lula, que o ex-presidente afirmou que "Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto", e ele também se vê na mesma situação. Ontem, em evento público, no Instituto Lula, o ex-presidente afirmou que o PT envelheceu, perdeu a utopia e hoje só pensa em cargo (ver reportagem nesta página).

Um ministro que participa das reuniões de coordenação política no Planalto disse aoValor, em condição de anonimato, que a atitude do ex-presidente de fazer críticas - e muitas delas levadas a público por interlocutores ou diretamente pela imprensa - apenas "desagrega politicamente", fragilizando, simultaneamente, o PT e o governo. "Uma coisa é enfrentar a crise com unidade, outra, mais difícil, com desagregação política", lamentou.

Ontem a presidente Dilma reagiu com irritação aos boatos que circularam nas redes sociais no fim de semana, de que teria sido internada, após supostamente ingerir grande quantidade de remédios. Os boatos espalharam-se com a divulgação da pesquisa Datafolha de que 65% dos brasileiros rejeitam o governo e apenas 10% o consideram ótimo e bom.

"Fui informada de um boato que eu estava internada", disse a presidente aos jornalistas ao final da solenidade de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar. "Vocês acham que eu estava?", tripudiou, apontando para a sua nova silhueta, com ar saudável, que conquistou após uma dieta aplicada e os passeios de bicicleta.

Coube ao ministro da Secretaria da Aviação Civil - que acumula funções de articulador político - minimizar ontem os efeitos da nova pesquisa Datafolha. Em entrevista após reunião da coordenação política, Padilha ressaltou que o levantamento tem aspectos positivos. Segundo ele, houve melhora discreta na avaliação da economia e do combate à inflação. Ele disse que há expectativa no governo de que esses aspectos positivos reflitam na imagem de Dilma, embora o processo seja lento. "Isto não acontece por milagre, existe um governo, existe a chefia de um governo, que precisa capitalizar esse aspecto positivo", ponderou. "Queríamos que fosse ontem, vamos trabalhar para que seja hoje, no menor espaço de tempo possível", afirmou.

Padilha reconheceu, contudo, que o governo atravessa um momento desfavorável, que não favorece a pronta recuperação da imagem da presidente. "Quando se tem o clima que nós estamos convivendo hoje no Brasil, essas coisas caminham de forma lenta".

O ministro acrescentou que os últimos episódios da Operação Lava-Jato - as prisões dos executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez - não deverão impactar o novo pacote de infraestrutura lançado no início do mês. "Temos um programa de concessões em andamento que não tem absolutamente nada a ver com a Operação Lava-Jato, são concessões futuras", sublinhou. "Temos um Programa de Investimentos e Logística (PIL) que não pode de forma nenhuma ser comprometido por isso ou aquilo da Lava-Jato, até porque se trata de operação futura", enfatizou.

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