quinta-feira, 18 de junho de 2015

Pressão no desemprego

Cássia Almeida, Lucianne Carneiro e Simone Iglesias – O Globo

• Para analistas, restrição no seguro pago a demitidos elevará procura de vagas

RIO e BRASÍLIA - As restrições nas regras de concessão do seguro- desemprego devem acabar empurrando mais gente para a fila do desemprego, sobretudo trabalhadores jovens. Isso porque, explicam analistas, de um lado, aqueles que deixam de ter direito ao benefício precisam acelerar o retorno à busca por uma vaga. Ao mesmo tempo, a medida pressiona a renda das famílias, o que incentiva outros integrantes — como filhos, cônjuges e aposentados, por exemplo — a voltarem a disputar um lugar no mercado de trabalho.

— Dado o cenário de mercado de trabalho ruim, essas restrições no seguro desemprego neste momento tendem a reforçar esse aumento da população economicamente ativa ( aquela que está trabalhando ou em busca de trabalho) — afirma o professor e pesquisador do Ibre/ FGV Rodrigo Leandro de Moura.

Economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC- Rio, José Marcio Camargo afirma que a exigência de 12 meses de trabalho para acesso ao seguro- desemprego aproxima o Brasil de outros países e melhora o funcionamento do mercado de trabalho, mas, neste momento de piora do cenário, deve atingir principalmente os jovens.

— Os jovens são aqueles com a maior rotatividade no emprego. Isso é bom, porque estão buscando melhores vagas, mais produtivas, como quem troca de casamento em busca de uma relação melhor. Só que em geral eles também são os mais atingidos pelo desemprego, porque têm menos qualificação e treinamento. São os primeiros a serem demitidos e os últimos a serem contratados — disse Camargo.

Para o economista, melhor seria se a regra para a primeira solicitação do seguro- desemprego fosse de nove meses, aumentando para 12 meses no segundo pedido e 18 meses no terceiro. Com isso, avalia Camargo, o impacto seria menor entre os jovens.

CAGED de maio virá pior
Ontem, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, ainda afirmou que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ( Caged) registrou aumento do número de desempregados no país em maio, em comparação aos meses anteriores. Dias assegurou, no entanto, que a situação é temporária e que acredita em uma melhora de cenário a partir do segundo semestre.

— Esperamos que, com esses programas novos que o governo lançou, os empregos que foram sustados sejam recuperados. Dentro da perspectiva de quem, em 12 anos, gerou milhares de empregos novos, não vai deixar de continuar buscando o crescimento— afirmou.

De acordo com o ministro, o Caged de maio será anunciado na semana que vem. Em abril, foram fechadas 97.828 vagas com carteira assinada, o que representou uma queda de 0,24% no total de empregos formais do país. Foi o primeiro resultado negativo para abril desde o início da série histórica do Caged, iniciada em 1992, e reflete a queda na atividade econômica do país.

Moura, do Ibre/ FGV, acredita que as mudanças no segurodesemprego vão reduzir os gastos com o benefício em um primeiro momento, mas não é possível estimar esse efeito diante do perfil diferente do Brasil nesse aspecto.

— No mundo, em épocas de boom econômico, os gastos com seguro- desemprego caem. E isso não ocorre no Brasil porque há incentivos, como esse acesso mais fácil ao benefício e ao FGTS — explicou o pesquisador.

" Aumento sistemático’
A avaliação de Moura é que, a médio e longo prazos, o mercado de trabalho pode ter uma melhoria de produtividade, com uma esperada redução da rotatividade dos trabalhadores.

Camargo, por sua vez, ressalta que é difícil estimar qual será o efeito líquido das mudanças nos gastos do governo. Por um lado, as restrições tendem a reduzir a rotatividade. Por outro, o aumento do desemprego deve levar à elevação nos pedidos do benefício.

— A tendência do emprego é de queda. Após um ano de economia estagnada, os efeitos no mercado de trabalho começaram no segundo semestre do ano passado, e devemos ter aumento sistemático do desemprego nos próximos meses, que deve continuar em 2016 — explicou o economista.

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