sexta-feira, 26 de junho de 2015

Vinicius Torres Freire - O tempo fechou, as contas não

- Folha de S. Paulo

• Economistas de Dilma 2 até que jogam bem, mas saem perdendo no primeiro tempo do ajuste fiscal

Os investimentos do governo federal foram cortados com machadadas bárbaras até maio; gasta-se menos com servidores. Mas não adianta: o esforço de arrumação das contas do governo, o dito ajuste fiscal, escoa pelo ralo aberto pelas maluquices e irresponsabilidades de Dilma 1 e nos gastos sociais, das contas da Previdência em particular. Sim, as contas da Previdência, essa que sofre ataques terroristas do Congresso.

É o resumo da ópera do resultado das contas federais em maio, divulgado ontem. Trata-se de atestado de que o primeira carga de cavalaria do ajuste fiscal falhou. Não foi por culpa dos economistas de Dilma 2.

No entanto, foram esses economistas que divulgaram um plano fiscal, faz apenas um mero mês, em que se previa um aumento de receita de mais de 5% em 2015. A receita está caindo, 3%, neste ano.

Uma previsão tão furada implica o seguinte: 1) Houve politiquice ou ingenuidade na calibragem da máquina de cuspir números da equipe econômica; 2) Não é possível aparecer com outra estimativa tão errada; 3) Será preciso aparecer com outra estimativa, aprovar um novo plano de gastos no Congresso e recauchutar não apenas o plano fiscal, mas criar um plano econômico de maior fôlego, até para sustentar o ajuste fiscal de curto prazo.

Desmoralizações sucessivas das cartas de intenções fiscais do governo vão criar ainda mais problemas e descrédito. Cartas de intenções furadas fazem parte da triste e ruinosa memória dos anos 1980.

O problema vai ser aparecer com uma meta fiscal mais realista e sugerir, assim, a ministros "políticos" e ao Congresso doidivanas que há mais dinheiro para torrar.

Gasto social
A despesa com investimento ("obras") caiu 37% de janeiro a maio (na comparação com janeiro a maio de 2015). O tombo foi de 40,5% no caso das obras do PAC, deserdado por sua mãe, Dilma Rousseff. Foi um corte de R$ 14,3 bilhões. O gasto com pessoal caiu um tico, R$ 1,4 bilhão. O gasto com subsídios para a energia caiu muito, R$ 2,3 bilhões (a conta repassada para as tarifas de luz).

Apesar de arruinar mais a atividade econômica, o talho no investimento, inevitável, não bastou para compensar a alta da despesa social. Sim, a despesa social cresce, em parte de modo quase vegetativo.
A despesa com a Previdência cresceu R$ 7,7 bilhões. A cobertura do buraco deixado pelas desonerações sobre a folha (contribuição patronal ao INSS) levou outros R$ 4,4 bilhões. Também foi pesada a conta da transferência social de renda pelo avesso, por assim dizer.

Trata-se da graciosa concessão de subsídios a empresas por meio de juros baratinhos do BNDES. O governo fez dívida cara, mais de meio trilhão de reais (TRILHÃO, sim) a fim de financiar empresas a juro real quase zero. A despesa com a diferença de juros pagos e recebidos entra na conta de subsídios: aumento de R$ 2,9 bilhões no gasto.

E aí foi consumido o dinheiro que não se gastou em obras.

Houve ainda aumento de despesa com seguro-desemprego e com benefícios para pessoas muito desamparadas (idosos sem renda alguma, incapazes de trabalhar etc.), mais R$ 1,1 bilhão.

Caíram os gastos discricionários com educação e saúde.

Mas a conta não fecha.

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