quinta-feira, 4 de junho de 2015

Vinicius Torres Freire - Operário em desconstrução

• Desastre das demissões se concentra em trabalhadores da construção; setor público corta vagas

- Folha de S. Paulo

O desemprego aumenta por qualquer medida que se faça do mercado de trabalho, está claro. Mas, de um ano para cá, o número de pessoas empregadas aumentou ainda em 629 mil. Muito ruim, pois nessa conta de um ano o aumento da população ocupada fora de 1,67 milhão, até abril de 2014.

O impressionante é que o grosso da letargia no mercado de trabalho veio de praticamente dois setores. Da construção, de onde desapareceram 609 mil empregos, queda de 7,6%, e do setor público, que perdeu 560 mil vagas, baixa de 9,5%.

Os dados são da Pnad Contínua trimestral, a nova pesquisa de emprego e renda do IBGE, que começou em 2012, estatística da qual não se conhecem todas as manhas, por ser tão nova.

Não se trata de dizer que a recessão está concentrada na construção, até porque o ritmo de criação de empregos em outros setores, embora ainda positivo, desacelera. No entanto, a gente pode especular se a crise seria algo menor caso não houvesse essa hecatombe entre os operários da construção.

O caso tem interesse particular porque, como se sabe, parte do colapso das obras se deve à desordem provocada pela crise na Petrobras e pelo escândalo de corrupção nas empreiteiras, o caso Lava Jato. Noutra parte, a recessão das obras deve-se ao corte de despesas devido ao arrocho fiscal e aos atrasos de pagamentos de obras, que vinham, aliás, desde 2014, provocado pela desordem das contas do governo Dilma 1. Enfim, é possível que o enxugamento na construção se deva em parte menor ao fim das obras da Copa.

Considerados os motivos, a incompetência e a baderna na administração pública, do descontrole de gastos à má gestão na Petrobras, para não falar em corrupção, parecem ter parte importante no afundamento rápido da economia.

Curiosamente, pelo menos enquanto não se divulgam dados mais detalhados, ainda cresce o emprego na indústria, tal como medido pela Pnad Contínua, assim como no setor de "serviços prestados principalmente às empresas". Ao que parece, o colapso na indústria de veículos e conexas, na de bens de capital e de eletrônicos é muito maior e mais relevante do que no de outros setores industriais pelo país.

Por falar nisso, apesar da tendência de baixa geral, a situação de emprego e renda no Brasil além das grandes metrópoles parece um tanto melhor. Mas a tendência é, inegável, de baixa.

O desemprego aumenta, apesar do crescimento da ocupação, porque mais gente voltou ao mercado de trabalho. Uma relativa folga da renda das famílias permitia, até 2013, que alguns de seus membros deixassem de procurar emprego, em parte para estudar ou estudar com mais tranquilidade.

Outro sinal dessa degradação das condições de vida é o aumento do número de trabalhadores domésticos. Até o trimestre encerrado em abril do ano passado, o número desses empregos vinha caindo ao ritmo anual de 2,4%. Agora, em abril de 2015, sobe 0,9%, tendência que começou em junho de 2014.

A renda sobe menos que a inflação, na média. A soma de todos os rendimentos, que crescia qual ao dobro do ritmo da inflação, agora só empata com a alta de preços. Infelizmente, a julgar por indícios estatísticos, a coisa tem sido pior, até junho.

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