sábado, 4 de julho de 2015

Aécio diz duvidar que petista chegue ao fim do mandato

Entrevista – Aécio Neves: 'Dilma a cada dia perde capacidade de governar'

Maria Lima e Patricia Cagni - O Globo

BRASÍLIA - O presidente do PSDB, Aécio Neves, será reconduzido ao comando do partido amanhã, para um mandato de mais dois anos, com o desafio de manter a legenda como contraponto ao PT e voltar a ocupar a Presidência da República em 2018. Ou até antes, se a Justiça Eleitoral acatar ação dos tucanos para anular a diplomação da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer. Em entrevista ao GLOBO, Aécio diz ter dúvidas sobre se Dilma completa o mandato. Falando como candidato, diz que o PSDB está pronto para assumir a Presidência em 2018.

Como o senhor vislumbra os próximos 90 dias da presidente Dilma? Ela permanece no cargo ou não?

Na minha posição, preciso de muita cautela e muita responsabilidade. Até porque, quando eu falo, fala o PSDB, que é o maior partido de oposição. Junto ao TCU nós mostramos que a presidente cometeu, de forma reiterada, inclusive este ano, crime de responsabilidade. Por outro lado, temos ações junto à Procuradoria Geral da República que, na verdade, demonstram que houve cometimento de crime comum. Agora, ingressamos com outra ação por crime de extorsão com base na delação do senhor Ricardo Pessoa, quando diz que o tesoureiro da campanha condicionava a manutenção dos contratos da UTC e Constran na Petrobras às doações para a campanha eleitoral da presidente Dilma. Existe um processo no TSE, para o qual vai haver uma oitiva de Ricardo Pessoa no próximo dia 14, em que nós denunciamos, entre várias outras irregularidades, o uso de propina da Petrobras na campanha da reeleição da presidente em 2014. O governo e o PT começam a ver não só na oposição, mas também em setores importantes da base, uma completa incredulidade em relação à capacidade de Dilma de governar o Brasil até o fim do mandato. Porque aí não é mais questão de gostar da presidente, é questão de governabilidade. O Brasil tem desafios enormes a serem enfrentados, e só se enfrenta com governo. Ou ela tem a capacidade de retomar o posto, de reassumir o comando do país - e eu tenho dúvida se ela terá - ou temos que estar abertos a novas opções.

O PSDB se planeja para esse cenário?

O PSDB não escolherá o cenário. A questão depende das condições políticas e sobretudo jurídicas, não é? O PSDB tem que estar preparado para qualquer cenário. Mas repito: a minha posição será sempre de muita cautela. Mas o que é perceptível - e não adianta tapar o sol com a peneira - é que a presidente a cada dia perde a capacidade de governabilidade. Eu não me movo, hoje, como candidato de 2018. Como não fiz lá atrás. Eu sou presidente do PSDB. Meu papel é organizar o partido, criar condições para que o PSDB esteja mais fortalecido do que nas últimas eleições. Quero que o PSDB esteja preparado para 2018, ou para o momento em que for necessário, independente de quem seja o candidato. É um privilégio do PSDB ter nomes como Geraldo Alckmin, José Serra, Aloysio Nunes, Fernando Henrique, Marconi (Perillo). Meu papel é garantir a unidade do partido. E democraticamente vamos agir no momento certo, não antes de 2017, para definir quem terá a responsabilidade de disputar as eleições. A não ser que o calendário eleitoral se antecipe.

O senhor acha que a presidente Dilma termina o mandato?

Tenho enormes dúvidas. Eu dou a ela, ainda, a opção da dúvida. Porque é muito pouco tempo. E o Brasil, tradicionalmente, tem um presidencialismo muito forte, não? Mas estou percebendo um governo cada vez mais amedrontado, sem articulação política, sob pressão permanente do Congresso. O governo está tão fragilizado que se assusta com qualquer grito que venha do Congresso. E isso não é bom para o país, me preocupa. Confiança, credibilidade, os interlocutores do governo não dispõem mais desse ativo. É extremamente preocupante. Porque a presidente da República nunca fez esse papel, e não sei se, nesse momento, terá condições de fazê-lo.

O senhor acha que o Lula vai ser candidato nas próximas eleições?

Venha Lula, venha quem vier, o ciclo de poder do PT se encerrou. Porque eles não têm mais o que dizer para as pessoas. O PT, em uma próxima eleição, estará envergonhado. O PT vai passar por um estágio, que eu espero que seja longo, como oposição. Recuperar suas teses originárias, voltar a ser o partido representante de um segmento importante da população brasileira, da classe trabalhadora, com interlocução adequada com os sindicatos. Faz falta ao Brasil um partido da classe trabalhadora. Mas é preciso um partido legítimo, sério, honrado. O PT virou o partido do capital. O capital distribuído para alguns poucos.

Houve questionamentos em relação à posição do PSDB em votações como fator previdenciário, fim da reeleição, aumento do Judiciário. A bomba não vai estourar lá na frente?

Nós temos que compreender que o PSDB tem no Congresso uma bancada completamente plural, que tem que ser respeitada em seu espaço de expressão. Mas nós teremos sempre, e isso está no nosso DNA, a responsabilidade fiscal como o indutor, o pilar fundamental da recuperação da economia e dos avanços do país. Agora, não cobrem de nós a condução dessa agenda, que ela é de responsabilidade do governo. O que não é aceitável é o PT, que é responsável por essa gestão calamitosa da economia, que custa hoje à classe trabalhadora um preço altíssimo, não é possível que ele se abstenha de assumir o seu papel, e cobre da oposição esse papel.

O PSDB ajudou a aprovar o aumento do Judiciário.

Nós votamos, mas é praticamente impossível de ser implementado. Isso aconteceu no momento em que o governo se omitiu. Essa mágica o PT não vai conseguir ter. Ele quer ser governo no momento da distribuição dos cargos, e quer ser oposição no momento de falar com a sociedade. Essa vai ser a fotografia do fim do governo: 62 a 0 em uma matéria dessa relevância? Hoje há um vácuo de poder no Brasil, é isso é grave, me preocupa muito porque não existe espaço vazio na política. Com essa ausência de autoridade, essa incapacidade de reação do governo, é fácil que haja um protagonismo do Congresso. E em alguns momentos eu confesso: é sem conexão com a realidade. Às vezes, talvez até a sem responsabilidade que deveria ter.

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