sexta-feira, 31 de julho de 2015

Celso Ming - O recado do Banco Central

- O Estado de S. Paulo

Está agora aberta a temporada para as apostas sobre quando o Banco Central começará a baixar os juros básicos (Selic), hoje nos 14,25% ao ano, nível mais alto dos últimos sete anos. Cá entre nós, nem o Banco Central sabe.

Este não é um assunto de interesse só dos banqueiros e dos que vivem de aplicações financeiras. Mexe com a vida de todos porque determina em boa medida como se comportará a produção, os investimentos, o emprego, os salários, o crédito e o consumo.

Aviso aos navegantes menos atentos: o comunicado do Copom divulgado após a reunião de quarta-feira não disse que acabou o aperto dos juros; ao contrário, disse que o aperto aumentou (mais meio ponto porcentual) e vai seguir "por um período suficientemente prolongado", para assegurar a convergência da inflação para a meta de 4,5% ao ano até o fim de 2016.

Ainda pelos termos do comunicado, não dá para dizer que essa escrita foi gravada em pedra e será cumprida à risca. Lá ficou dito que o Copom tomou essa decisão "avaliando o atual balanço de riscos". Eventual mudança para mais ou para menos nesse balanço de riscos poderá mudar também a intensidade do aperto.

Entre os possíveis fatores que, em princípio, poderiam agravar o quadro inflacionário e que, portanto, poderiam alterar esse balanço estão: uma grave crise política; a disparada do dólar no câmbio interno; o aprofundamento do rombo fiscal muito além do previsto (veja o Confira); e imediato rebaixamento da nota da dívida brasileira pelas agências de classificação de risco. Puro chute: deve ter lá uns 25% a 30% de probabilidade para acontecer.

Há outro conjunto de fatores que podem atuar na direção oposta: mais recessão, aumento do desemprego, queda do consumo (e, portanto, dos preços) e mais rápida recuperação das contas externas, que provoque forte entrada de moeda estrangeira e derrube as cotações do dólar. Há perto de 40 a 45% de probabilidade de acontecer. Não é desprezível a hipótese de que ocorra uma mistura das duas influências.

A Ata do Copom, a ser divulgada na próxima quinta-feira, poderá esclarecer o que pensa o Banco Central a respeito dessas e de outras variáveis. Mas, independentemente do que disser a ata, é de esperar que a autoridade monetária fique de olho no vaivém das expectativas. Quando ficar mais claro que os formadores de preços passaram a acreditar em que a inflação embicará para os 4,5% ao ano em dezembro de 2016, conforme quer o Banco Central, o Copom poderá começar a aliviar a política monetária.

Como você pode conferir no gráfico aí no centro, o atual ciclo de alta de juros começou em abril de 2013, deu uma parada à altura dos 11,0% aparentemente para não interferir nas eleições e, agora, chegou ao pico. Quando a escalada começou, a inflação, com os truques conhecidos de represamento dos preços administrados, era de 6,5% e os juros reais (descontada a inflação) eram de apenas 1%; hoje, a inflação é de 8,9% em 12 meses e os juros reais, à altura dos 5,0%. Como a maior parte do serviço do realinhamento dos preços antes atrasados já foi feita, há razões para esperar pelo recuo consistente da inflação.

Aumenta o rombo
O rombo já era esperado. Mas não que fosse tão grande. Ao final do primeiro semestre do ano passado, havia um superávit de R$ 17,4 bi. O primeiro semestre deste ano fechou com um déficit de nada menos que R$ 1,6 bi. As despesas continuam aumentando, mas o problema maior está na derrubada das receitas, de 3,5% no semestre (em relação ao mesmo período de 2014). Deve-se não apenas ao recuo do PIB, mas, também, ao não recolhimento de impostos pelas empresas.

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