quinta-feira, 2 de julho de 2015

Delator diz que doação fazia parte de 'lobby' do PT

Fausto Macedo, Mateus Coutinho e Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo

CURITIBA - O lobista Julio Gerin Camargo confirmou à Justiça Federal o pagamento de propina em contratos que intermediou na Petrobrás, via Diretoria de Serviços, que teriam como destino o PT. Ouvido pelo juiz federal Sérgio Moro, o delator disse que fez "doações" ao PT a pedido do ex-tesoureiro João Vaccari Neto para "estar bem com o partido". "O doutor Vaccari me procurou nos anos de 2008, 2010 e 2012 dizendo que precisava de doações, como todo partido precisa, e seu eu podia ajudar e cooperar. E evidentemente era o interesse meu, que obtinha sucesso com os contratos (da Petrobrás), de estar evidente favorável ao poder", afirmou Camargo, em depoimento na tarde desta terça-feira, 30, em Curitiba, sede da Lava-Jato, ouvido em processo em que Vaccari e o ex-diretor de Serviços da Petrobrás, Renato Duque, são réus acusados de ocultação de propina desviada de contratos da Petrobrás ao PT por meio de uma gráfica de São Paulo.

No entender da força-tarefa que comanda a operação, a "doação" também pode ser entendida como "propina". Camargo foi questionado pelo procurador Roberson Pozzobon se os pedidos de doação ao PT de Vaccari eram explicitamente associados por ele aos contratos e o que ele quis dizer ao citar "estar bem com o poder". "O PT era e é o partido do governo. E o partido que nomeava então seus diretores na Petrobrás, ou então, quando eram indicados por outros partidos, o PT, no final, ou a presidente da República tinha que aprovar esses nomes. Então, evidentemente, fazia parte de um lobby você estar bem com o partido." Camargo diz nunca ter havido por Vaccari citação nominal aos contratos.

O ex-tesoureiro, preso em Curitiba desde março, nega envolvimento em esquemas criminosos. Segundo ele, toda doação do partido foi legal. Os pedidos diretos partiram de Duque. O lobista confirmou que a Diretoria de Serviços era da cota do PT, no esquema controlado por PT, PMDB e PP de loteamento de diretorias por meio das quais eram arrecadados de 1% a 3% de propina. "Era um coisa conhecida dentro da Petrobrás que a Diretora de Serviços foi indicada pelo PT". Camargo afirmou que chegou a encontrar algumas vezes com Duque e Vaccari em restaurantes.

O delator confirmou ao juiz Sérgio Moro que pagamentos de propina intermediados por ele seguiram dois caminhos: depósitos no exterior e entregas em reais no Brasil, retirados no Rio e São Paulo. "As reuniões eram presenciais e basicamente eram feitas em restaurantes, uma ou duas vezes na própria Petrobrás. Tudo era acertado de maneira bastante amistosa." Camargo era parceiro do empresário Augusto Mendonça Ribeiro, dono do grupo Setal. Para desviar recursos de obras da Petrobrás de forma aparentemente legal, Vaccari e Duque teriam usado dois contratos de prestação de serviços ideologicamente falsos" feitos entre duas empresas do Grupo Setal e a Editora Atitude.

Assim, emitiram "18 notas fiscais frias" que cobriram "22 transferências bancárias fraudulentas" entre o grupo e a editora. O PT afirmou na noite de ontem que não iria comentar o depoimento de Camargo. Os advogados de Vaccari e de Renato Duque negam que as acusações contra seus clientes, que se encontro presos pela Polícia Federal em Curitiba.

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