terça-feira, 28 de julho de 2015

Dilma agora responsabiliza Lava-Jato por queda do PIB

Na conta da Lava-Jato

Simone Iglesias, Luiza Damé e Catarina Alencastro – O Globo

• Ao pedir empenho de ministros para domar a base, Dilma culpa investigação por queda no PIB

BRASÍLIA - Após meses culpando a crise internacional pela retração da economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff responsabilizou ontem a Operação Lava-Jato por causar este ano a queda de um ponto percentual no PIB. A avaliação foi feita na reunião com 12 ministros e o vice-presidente Michel Temer, encarregado da coordenação política, ontem à tarde, quando Dilma cobrou apoio no Congresso.

O comentário, segundo dois ministros presentes à reunião, ocorreu logo após explanação do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, sobre o cenário econômico e as perspectivas "sombrias", se as medidas de ajuste fiscal não forem aprovadas no Congresso.

- Para vocês terem uma ideia, a Lava-Jato provocou uma queda de um ponto percentual no PIB brasileiro - afirmou a presidente.

Dilma não detalhou o cálculo, mas disse que a crise afetou a economia:

- Em condições normais, a reação seria mais ágil. Mas, em função das consequências para (...) o setor do petróleo, foi prejudicial (para a economia) - concluiu.

Dilma cobra fim de traições na base
A situação econômica foi apresentada para frisar a necessidade de o Congresso aprovar as medidas econômicas apresentadas pelo governo. Dilma convocou a reunião para cobrar de ministros indicados pelos partidos aliados que seus parlamentares votem a favor do governo.

Dilma se mostrou insatisfeita com o grau de infidelidade da base, que levou a seguidas derrotas na Câmara e no Senado no primeiro semestre. Por isso, pediu "rapidez" e "responsabilidade" nas votações e determinou aos ministros que procurem os deputados e senadores de suas relações para influenciá-los a votar a favor do governo.

Do PMDB, participaram Eliseu Padilha (Aviação Civil), Kátia Abreu (Agricultura), Edinho Araújo (Comunicação Social) e Hélder Barbalho (Pesca); do PSD, Gilberto Kassab (Cidades) e Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa); do PCdoB, Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia); do PTB, Armando Monteiro (Desenvolvimento); do PRB, George Hilton (Esporte); e do PR, Antonio Carlos Rodrigues (Transportes).

O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, ambos do PT, também participaram. Dilma quer que esse grupo reduza ao máximo as dissidências.

- Foi uma reunião para dar um freio de arrumação nas relações com as bancadas. O recado aos ministros foi duro, porque o governo não pode deixar a economia sair do controle. É preciso compromisso dos partidos aliados, que eles impeçam uma pauta-bomba na Câmara e no Senado com medidas que aumentem as despesas - disse uma fonte do governo.

O mapa da infidelidade será distribuído por Padilha aos ministros que estiveram ontem com Dilma. Esse levantamento servirá como base para as negociações, principalmente para a distribuição de cargos no governo.

O GLOBO revelou sábado levantamento do governo, mostrando o índice de infidelidade por partido. O que mais traiu na Câmara foi o PP e, no Senado, o PRB. O segundo mais infiel nas duas Casas foi o PDT. Ontem, os ministros do PP, Gilberto Occhi (Integração Nacional), e do PDT, Manoel Dias (Trabalho), não compareceram à reunião, assim como Henrique Alves (Turismo), considerado muito próximo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os três tinham agendas fora de Brasília durante a reunião.

Antes desse encontro mais amplo, a presidente já havia se reunido de manhã com seu núcleo de coordenação política. Escalado para falar pelo governo, Eliseu Padilha disse, ao comentar a baixa popularidade da presidente, que o governo está se esforçando para entender o momento político e econômico. Segundo ele, embora o governo esteja adotando medidas para reativar a economia, essa percepção demora a chegar à sociedade.

- Vivemos um momento político e economicamente com algumas interrogações. O governo está fazendo o máximo para decifrá-las - afirmou.

Vídeos de Dilma nas redes sociais
Sobre o rompimento de Eduardo Cunha com o governo, Padilha disse confiar que ele manterá o equilíbrio institucional que o cargo exige. Ainda precisam ser votadas propostas do ajuste fiscal, como o projeto elevando a tributação de empresas sobre a folha de pagamentos das empresas, que precisa passar pelo Senado. Outro tema relevante para o governo é a prorrogação da Desvinculação de Receitas Orçamentárias (DRU), que lhe permite usar livremente até 20% das receitas das contribuições sociais, exceto as previdenciárias.

Ao fim do dia, Temer disse apostar no "espírito público" dos parlamentares para desarmar a chamada pauta-bomba que está sendo montada por Cunha.

- O objetivo da reunião é exatamente fazer a integração dos ministros e do Executivo com o Congresso. Toda a pauta da reunião foi exatamente esta: temos que dialogar com o Congresso. Essa foi a tônica da primeira reunião (coordenação) e da reunião agora à tarde - afirmou Temer.

Numa ofensiva de mídia e de aproximação com o Congresso, Dilma marcou um jantar para a próxima segunda-feira, no Palácio da Alvorada, com todos os deputados, senadores e presidentes dos partidos aliados. Serão cerca de 400 convidados. Paralelamente, começarão a ser divulgados nas redes sociais vídeos gravados sábado. Em cinco filmes de 30 segundos a um minuto, Dilma fala sobre as crises políticas e econômicas, intolerância, as Olimpíadas de 2016, o plano de exportações e o desemprego.

O governo cogitou ontem cancelar a reunião com os governadores, agendada para quinta-feira. Dilma não gostou da interpretação de que, no encontro, pediria que os governadores influenciassem suas bancadas para aprovar suas contas de 2014, que estão sendo questionadas no Tribunal de Contas da União (TCU), entre outras razões, por causa das "pedaladas fiscais". Porém, no fim da tarde, um auxiliar presidencial garantiu que a reunião está mantida.

Dilma também pretende anunciar no encontro que não vetará a proposta que permite aos estados usar parte dos depósitos judiciais como receita. A medida dará fôlego aos estados. O governo conta com a pressão dos governadores para ajudá-lo a articular propostas de interesse do Planalto.

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