quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Aécio vai procurar PMDB para debater saída para crise

• Tucano sugere aproximar oposição da ala do partido contrária ao governo

• Após apelo de FHC para alinhar discurso de líderes do PSDB, tucanos fazem acenos a partido aliado de Dilma

Daniela Lima, Gustavo Uribe, Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO,e BRASÍLIA - Um dia depois de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reunir os principais líderes do seu partido, o PSDB, para alinhar o discurso da oposição, o senador Aécio Neves (MG), dirigente nacional da sigla, disse que vai procurar alas do PMDB contrárias ao governo para discutir uma saída para a crise política.

O aceno ocorre menos de duas semanas depois que os peemedebistas começaram a dialogar com outros partidos e líderes empresariais sobre as condições que o vice-presidente Michel Temer teria para governar se o agravamento da crise levar ao afastamento da presidente Dilma Rousseff.

"Faremos uma reunião com os líderes dos partidos de oposição, inclusive com setores do PMDB, e com os juristas que têm expressado, de forma muito clara, também, a sua posição em relação à solução dessa crise", avisou Aécio, em entrevista nesta terça-feira (18), em Brasília.

"Nesse instante, é absolutamente fundamental que todos voltemos os olhos aos tribunais. Seja o Tribunal de Contas, seja o TSE [Tribunal Superior Eleitoral], para que não sofram qualquer tipo de constrangimento", concluiu.

O TCU (Tribunal de Contas da União) retomará em breve o julgamento das contas de Dilma, em que foram apontadas irregularidades como as chamadas pedaladas fiscais. O TSE investiga suspeitas de abuso na campanha do PT no ano passado. As duas frentes podem abrir caminho para o impeachment de Dilma.

A disposição de Aécio em conversar com o PMDB representa um recuo da ala que o apoia no tucanato. Há duas semanas, seus apoiadores defenderam a renúncia de Dilma e Temer e a convocação de novas eleições como único caminho para sair da crise.

A sugestão foi mal recebida no partido, e um dos porta-vozes desse movimento, o senador Cássio Cunha Lima (PB), reconheceu nesta terça que não foi "feliz na declaração".

Assim como Aécio, outros líderes tucanos que também estiveram com Fernando Henrique nos últimos dias passaram a falar abertamente sobre a fragilidade do governo e a aproximação com o PMDB.

Em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, na noite de segunda (17), o senador José Serra (SP) disse achar "difícil" que Dilma consiga se manter no poder até o fim de seu mandato, em 2018. Ele afirmou que, se ela for mesmo afastada do cargo, o PSDB deverá atuar para dar sustentação ao novo governo.

"Como foi com Itamar Franco", concluiu Serra, lembrando a coalizão política formada antes do afastamento de Fernando Collor em 1992 para dar apoio ao seu vice.

A adesão do PSDB a um eventual governo Temer não é consenso no partido. Tucanos como o senador Aloysio Nunes (SP) acham que a legenda não deveria ocupar cargos numa administração liderada pelos peemedebistas.

Também convocado por FHC para amarrar o discurso tucano, o governador paulista, Geraldo Alckmin, manteve o tom cauteloso ao comentar o assunto nesta terça e recorreu à memória para falar do impeachment de Collor.

"Se surgir uma proposta de impeachment, o partido [PSDB] tem o dever de analisá-la", disse, ressalvando que o tema deve ser tratado "à luz dos fatos" e que hoje, sem o parecer do TCU sobre as pedaladas, "não existe" algo que justifique o afastamento.

Por fim, ao defender o impedimento como instrumento constitucional, lembrou: "Eu já votei a favor do impeachment no caso do presidente Collor".

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