sábado, 8 de agosto de 2015

Base aliada quer 'começar do zero'

• Na avaliação de alguns líderes de partidos que apoiam o governo Dilma Rousseff, está faltando comando para unificar a tropa

Por Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA - Na semana em que a Câmara retomou seus trabalhos e a base aliada deu mostras de que unidade é apenas uma palavra perdida pelo salão verde. Líderes de partidos que, formalmente, ainda declaram apoio à presidente Dilma Rousseff avaliam que a situação está cada dia mais difícil e que nem mesmo a utilização de truques antigos, como liberação de cargos ou emendas, pode surtir algum efeito entre os liderados. A frase que tem sido repetida por vários deles é a mesma: começar do zero. O que significaria, na opinião deles, uma reforma ministerial, com enxugamento de pastas, por exemplo.

Para uma liderança, a distribuição de cargos, atualmente, significa apenas dar emprego a um aliado, uma vez que o governo não tem recursos para beneficiar as bases eleitorais. Outro líder de partido tem a mesma visão:

– Os ministérios são empresas em concordata, sem capacidade nenhuma de investimento.

Na avaliação de alguns desses líderes, está faltando comando para unificar a tropa. Eles elogiam a atuação do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), mas o veem como um pregador no meio do deserto, em que as palavras se perdem no vazio.

– Isso aqui está parecendo cavalo sem rédeas – resume um dos líderes da base.

– No plenário, é difícil conter o estouro da boiada – complementa.

Ele conta que, na quarta-feira, o PSDB e o DEM, além de outras lideranças, haviam se posicionado contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que vincula o salário da Advocacia-Geral da União (AGU), da carreira de delegado da Polícia Federal, da Polícia Civil e procuradores a 90,25% do subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A oposição queria a retirada de pauta do tema, mas o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conhecedor do regimento interno, disse que isso só seria possível se houvesse verificação de presença. Como ninguém aceitou fazer o pedido e enfrentar a fúria das galerias, a PEC foi à votação e até mesmo o PT se viu obrigado a votar favoravelmente.

O líder avalia que o governo tem sido derrotado porque não consegue impor sua pauta, uma vez que perdeu a força na Câmara.

– O que derrota governo é a pauta da Casa. Todas as derrotas do governo foram pela pauta.

O líder do PR, Maurício Quintela Lessa (AL), jura que sua legenda continua fiel ao Palácio do Planalto, embora tenha se reunido com Cunha e a oposição na segunda-feira, depois de sair de um jantar com Dilma. No encontro com o presidente da Câmara, entre vários assuntos, ficou decidido que o PT ficaria fora dos comandos das CPIs que seriam instaladas na Casa. Mas Lessa nega que a reunião tenha tido esse propósito.

– É comum, depois das sessões, líderes irem na Casa do presidente da Câmara para conversar. Não tratamos de tirar o PT do comando das CPIs. Apenas expressei o desejo da minha bancada de ter uma participação maior nas comissões.

Lessa afirmou que antes do recesso conversou com Guimarães e teria dito que era importante manter um rodízio nos comandos das CPIs, assim como na relatoria de Medidas Provisórias, por exemplo. Além disso, garante, esse mesmo desejo foi expressado ao vice-presidente Michel Temer. Os dois, nas palavras de Lessa, concordaram com o pleito.

– Com o PT na relatoria da CPI, a investigação não se legitima – disse ele.

O líder do PP, Eduardo da Fonte (PE), que também estava na reunião com Cunha, afirmou que continua apoiando o governo.

– Temos responsabilidade com o país. A bancada está disposta a apoiar o governo e o Brasil – disse.

Eduardo da Fonte também negou que tenha tramado para deixar o PT de fora dos comandos da CPI.

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