quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Bernardo Mello Franco - A lorota venceu

- Folha de S. Paulo

É possível encher o espaço desta coluna com declarações da presidente Dilma Rousseff e seus aliados contra a ideia de cortar ministérios. A sugestão circulou em diversos momentos, mas sempre foi tratada com desprezo no Planalto.

Uma boa oportunidade surgiu depois dos protestos de junho de 2013, quando a popularidade presidencial sofreu o primeiro tombo. Pressionada pelas ruas, Dilma foi aconselhada a enxugar a máquina em sinal de austeridade. "Há um consenso hoje na questão do número exagerado de ministérios", disse o então presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, sugerindo o fim de 14 pastas.

A presidente escalou Jaques Wagner, então governador da Bahia, para responder em seu nome. "Não é reduzindo ministério que se dá eficiência à máquina pública", disse ele. Dois anos depois, o peemedebista e o petista esqueceram a divergência e foram premiados com a mesma moeda. Hoje, eles são 2 dos 38 ministros do governo Dilma.

O tema voltou na campanha de 2014, quando Aécio Neves e Marina Silva prometeram passar a navalha na Esplanada. Como nenhum deles se encorajou a nomear as pastas que seriam sacrificadas, a presidente se sentiu à vontade para contra-atacar.

"Tem gente querendo reduzir ministérios. Um deles o da Igualdade Racial, outro o que luta em defesa das mulheres. Eu acho um verdadeiro escândalo querer acabar", disse, em setembro. No mês anterior, ela definira a promessa dos adversários como uma "cegueira tecnocrática".

Reeleita, Dilma teve nova chance de reduzir o time, mas bateu o pé. "Outra lorota", disse em novembro, ao ser questionada sobre os rumores de que enxugaria o segundo escalão. Ela insistiu que a medida não geraria "economia real" para o governo.

Ao voltar atrás, Dilma deixou duas hipóteses em aberto. Ou mentiu antes, ao dizer que não precisava cortar ministérios, ou mente agora, ao agir contra suas convicções. Em qualquer dos casos, a lorota terá vencido.

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