sexta-feira, 14 de agosto de 2015

CUT defende reação com 'arma na mão'

• Em ato no Palácio do Planalto, presidente da central chamou defensores do impeachment de Dilma de golpistas

• Evento foi convocado para presidente dar demonstração de força, mas ela também ouviu críticas dos presentes

Marina Dias, Natália Cancian – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em evento nesta quinta-feira (13) no Palácio do Planalto, o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas, afirmou que, se for preciso, os movimentos sociais irão às ruas "com arma na mão" para preservar o mandato da presidente Dilma Rousseff.

"O que se vende hoje no Brasil é a intolerância, o preconceito de classe. Somos defensores da construção de um projeto nacional de desenvolvimento para todos e todas. Isso implica ir para a rua entrincheirados, com arma na mão, se quiserem tentar derrubar a presidente", disse Freitas, que é petista.

Fazendo eco ao discurso de outros dirigentes de movimentos sociais, disse que os entusiastas do impeachment são "golpistas".

Horas depois do evento, Freitas disse em sua conta no Twitter que referia-se às "armas da classe trabalhadora", que seriam "mobilização, ocupação das ruas e greve geral". "Pegar nas armas é uma figura de linguagem que usamos em assembleias", explicou.

O ato com os movimentos sociais foi promovido pelo governo na tentativa de demonstrar força da presidente diante das pressões pelo impeachment e pela renúncia ao mandato.

Dilma chegou ao encontro sob gritos da plateia de "não vai ter golpe" e "Dilma, guerreira da pátria brasileira". Mas além do desagravo, o ato foi também palco de cobranças por parte dos dirigentes dos movimentos sociais.

Principal liderança do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Guilherme Boulos fez um discurso duro e disse que "a agenda do Brasil não é a agenda do Renan", em referência ao pacote de reformas que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apresentou ao governo para retomar o crescimento econômico e superar a crise política.

Na terça (11), Dilma afirmou que as propostas eram "a agenda do Brasil" e que coincidem com medidas defendidas pelo governo.

Em meio a gritos de "fora já, fora daqui, Eduardo Cunha, junto com Levy", que vinham da plateia de cerca de mil pessoas, Boulos continuou com críticas ao ajuste fiscal promovido sob tutela do ministro da Fazenda.

"Não aceitamos que o povo pague a conta da crise. Não aceitamos nem aceitaremos o ajuste fiscal que fia os direitos trabalhistas e que corta o investimento social."

O ex-presidente Lula foi quem mais estimulou a petista a receber os movimentos sociais. Dilma não é muito afeita a esse tipo de agenda, mas aproveitou o evento para mandar recado a quem defende seu impeachment.

'Diálogo e diálogo'
Às vésperas das manifestações contra seu governo, marcadas para domingo (16), Dilma disse que não vê "nenhum problema" nos protestos contra o Planalto mas ponderou que espera "respeito e honra" dos adversários.

"Se você não respeitar o resultado do jogo, você não pode entrar no jogo", declarou.

Em menos de uma semana, esse é o quinto evento em que a presidente endurece o discurso e diz que fica até 2018. "Eu não estou aqui para resolver todos os problemas este ano. Estou aqui para resolver todos esses problemas e entregar o país muito melhor no dia 31 de dezembro de 2018", afirmou.

Citando a época em que lutou contra a ditadura no Brasil, a petista disse que não vai defender qualquer atitude contra as manifestações.

Mas ponderou: "Diálogo é diálogo, pauleira é pauleira. Não faz parte do diálogo xingar a pessoa. Não pode chamar de diálogo a intolerância. Botar bomba em qualquer lugar não é diálogo".

Foi uma referência a ataques nas redes sociais contra uma médica do programa Mais Médicos e a uma bomba caseira lançada contra o Instituto Lula há duas semanas.

Dilma ainda saiu em defesa do ajuste e disse que a "travessia" pela qual o país está passando "vai ser feita sem retrocesso das políticas sociais". "O que o governo tem que fazer também é economia. Não tem essa conversa que o governo vai sair gastando como em momentos em que tínhamos mais dinheiro."

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