quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Governo usa bancos públicos para ajudar setor automotivo

Por Eduardo Campos, Eduardo Laguna e Felipe Marques – Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O governo, por meio dos bancos públicos, costurou um pacote de ajuda ao setor automotivo via linhas de crédito, que começou a ser anunciado ontem.

A Caixa vai oferecer ao menos R$ 5 bilhões até o fim do ano em capital de giro e financiamento à produção em condições especiais. Hoje, o Banco do Brasil também anunciará medidas mais abrangentes do que as anunciadas pela Caixa, alcançando também as concessionárias de automóveis. 

Outras ações serão anunciadas nas próximas duas semanas, incluindo uma tentativa de "desburocratizar" a contratação de crédito a veículos e condições especiais no financiamento de tratores agrícolas, apurou o Valor.

Esse modelo, segundo Miriam Belchior, presidente da Caixa, deverá se expandir para a indústria da construção civil e para outros setores como eletroeletrônicos, telecomunicações, papel e celulose, fármacos e químicos. Ela afirmou que antes de fechar o acordo com o setor automobilístico teve a anuência dos Ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Casa Civil, e que o lançamento decorreu de uma "posição de consenso do governo".

A iniciativa dos bancos públicos remete ao uso do sistema estatal para alavancar a venda de veículos, no passado recente, assim como inúmeros segmentos da economia tiveram isenção de tributos para baixar preços e estimular o consumo. Uma política polêmica que não gerou o crescimento esperado.

Atualmente, os bancos públicos respondem por 55% do crédito no país de R$ 3,1 trilhões ou 54,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

"O convênio que assinamos tem grande importância para a cadeia produtiva do setor automotivo e isso faz parte de uma linha mais geral de ter os bancos públicos trabalhando para dar melhores condições para todas as cadeias produtivas do país", disse a presidente da Caixa, durante cerimônia de assinatura do convênio firmado com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).

O setor automotivo passa por uma retração da atividade. Produção e vendas recuaram e as demissões já passam de 10 mil trabalhadores este ano.

A Caixa acredita que as novas linhas tendem a aumentar a competição no setor e que o movimento do banco público pode ser acompanhado pelos privados.

Questionada se o movimento feito ontem representa uma mudança de foco dos bancos públicos de atuar no financiamento ao consumo para o financiamento ao investimento, Miriam disse que "é melhor consultar o governo". "Estamos fazendo agora esse estímulo à produção."

Entre as linhas anunciadas pela Caixa, uma é totalmente nova, que permite antecipação de recursos com base nos contratos firmados entre o fornecedor e a montadora.

Outra atenderá aos mais de 590 associados das três entidades em operações de capital de giro e investimento, com taxa de juros a partir de 0,83% ao mês, com recursos do FAT. Para conseguir a taxa mínima, o prazo da operação precisa ser curto e as empresas tem que se comprometer com a manutenção do patamar de empregos. Em outra linha semelhante a Caixa vai cobrar 1,59% mais TR, com funding próprio.

Outras linhas anunciadas envolvem recursos do FAT e BNDES, mas não são propriamente novas. O que se fez foi melhorar o canal de acesso para os recursos do Pró-Transporte, que é destinada à renovação de frotas de ônibus, e ao financiamento de aquisição de máquinas e equipamentos novos e usados, com juros a partir de 1,5% ao mês mais TR.

De acordo com a presidente da Caixa, o trabalho do banco é "oferecer linhas de crédito para passar por esse momento de travessia que o país atravessa com pouco mais de tranquilidade".

O presidente da Anfavea, Luiz Moan, disse que as linhas em condições especiais valem tanto para pessoas jurídicas como para as pessoas físicas equiparadas a PJs, como autônomos e produtores rurais. Ele destacou que elas atenderão à produção de ônibus, utilitários e máquinas agrícolas, que são bens de capital. "São investimentos produtivos no país."

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