domingo, 2 de agosto de 2015

Merval Pereira - Provocação

- O Globo

Por mais que os petistas e seus apaniguados nas redes sociais queiram transformar em grave ato terrorista a bomba caseira que atingiu a sede do Instituto Lula em São Paulo, é preciso ter cautela para caracterizá-lo dessa maneira. O filme da explosão, feito por uma câmera de segurança, é impactante. Mas quando se vê o resultado do “atentado”, a sensação é de que o teor explosivo do artefato era mínimo.

O buraquinho na porta de metal da garagem do prédio é tão ridículo que, se não soubéssemos que foi provocado por uma bomba, poderíamos achar que um motorista desastrado causou a mossa ao realizar uma manobra de marcha à ré.

Mas não façamos como o próprio PT que, na campanha eleitoral de 2010, tentou desmoralizar uma agressão sofrida pelo então candidato tucano José Serra, menosprezando uma clara ação contra a pessoa do candidato oposicionista.

Ao agir assim, o PT estimulou a agressividade de sua militância, em vez de coibi-la.
Assim como Lula comparou o candidato do PSDB à Presidência da República ao ex-goleiro da seleção do Chile Roberto Rojas, que simulou ter sido atingido por um rojão em partida válida pelas eliminatórias da Copa do Mundo, em 1989, no Maracanã, adversários do PT já estão comparando a “bomba caseira” a um simples rojão atirado contra o Instituto Lula.

Não importa se foi um rojão ou uma bomba caseira, nem mesmo se o estrago feito foi pequeno ou grande. O que importa é que aparenta ser uma clara agressão a um símbolo do PT e ao próprio ex-presidente Lula, e essa atitude não deve ser tolerada em uma democracia.

A Polícia Federal deve investigar a fundo para identificar os agressores. Mas também não é aceitável querer transformar o episódio em um grave atentado terrorista da direita odienta, nem aproveitá-lo para tentar reverter o ambiente político desfavorável aos petistas.

Se persistirem nessa toada, vão estimular a versão de que se tratou de uma ação auto-infligida justamente com o fim político de angariar apoios num momento em que o PT, e mesmo o ex-presidente Lula, estão em situação delicada diante das diversas delações premiadas que estão em curso.

A negociação que está sendo feita pelo ex-diretor da Petrobras Renato Duque, homem de confiança do ex-ministro todo poderoso José Dirceu, confirmada por seus advogados, é a que mais se aproxima do PT. Enquanto permanece a possibilidade de o ex-diretor da empreiteira OAS Leo Pinheiro realmente fechar um acordo com o Ministério Público Federal para uma delação premiada em que a figura central seria o ex-presidente Lula.

Assim como são minoritários os que seguem o deputado Bolsonaro e pedem a volta dos militares nas manifestações contra o governo da presidente Dilma, também esses “terroristas” de bombas caseiras não representam a imensa massa que saiu às ruas no início do ano, e se prepara para voltar a ela em 16 de agosto.

Fez bem, portanto, o governo de não dar a dimensão política que os petistas gostariam, embora, a começar pela presidente Dilma nas redes sociais, tenha repudiado o indício de intolerância na disputa política. Mesmo que essa intolerância seja uma marca registrada dos militantes petistas, não pode ser a característica permanente de nossa luta política.

Vamos aguardar as apurações policiais para ver onde está a origem desse “atentado”, e circunscrevê-lo ao que realmente representa, uma provocação. Basta ver o “estrago” causado para ter certeza de que o “atentado” não passou de uma ação premeditada para criar uma repercussão política sem causar danos maiores.

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