terça-feira, 4 de agosto de 2015

Os punhos de petista e o fim do mito da perseguição política

Marcelo de Moraes – O Estado de S. Paulo

Em 15 de novembro de 2013, quando foi preso por causa da condenação no chamado escândalo do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu se deixou fotografar erguendo o punho. No gesto, repetido pelo também condenado José Genoino, Dirceu tentou transformar essas prisões num protesto político.

Evocava seu passado - e o de Genoino - de ex-militantes combatentes da ditadura militar para justificar que a prisão pelo mensalão não passaria de uma espécie de revanchismo político contra a chegada do PT ao Palácio do Planalto. Menos de dois anos depois, Dirceu volta a ser preso, mesmo estando cumprindo pena de prisão domiciliar por causa do escândalo anterior.

Agora, foi detido pela Polícia Federal, na 17.a fase da Operação Lava Jato, batizada como Pixuleco. Nas fotos não há mais punhos erguidos, nem protestos. A cara é de desânimo. E o decreto de prisão que o juiz federal Sérgio Moro redigiu é contundente no seu conteúdo, afirmando que, mesmo durante o julgamento do mensalão, "reforça os indícios de profissionalismo e habitualidade na prática do crime".

A nova prisão de Dirceu tem o devastador efeito de uma pá de cal no seu mito. Durante o julgamento do mensalão, seus aliados e admiradores cultivaram uma ideia de que o então ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa pesara na mão no relatório contra os políticos petistas, especialmente no caso do ex-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Essa corrente acreditava firmemente que Dirceu e outros petistas foram condenados no mensalão sem provas. Em suma, uma injustiça. O protesto dos punhos cerrados ajudou a inflar, por algum tempo, essa ideia de que por trás da condenação estava uma fortíssima disputa política e ideológica.

O famoso "nós contra eles", uma espécie de pai do "Fla x Flu" que marcou a última campanha presidencial entre petistas e tucanos. Num eco dentro do Congresso, o então vice-presidente da Câmara, o deputado André Vargas (ex-PT-PR), também ergueu seu punho ao lado de Joaquim Barbosa, solidário aos companheiros presos. Assim como Dirceu, Vargas também não tem mais nenhum motivo para erguer seu punho, já que teve seu mandato cassado e foi preso por causa de seu envolvimento nas investigações conduzidas pela Lava Jato.

A prisão de ontem enterra esse mito. Segundo Moro, Dirceu está sendo preso acusado de receber propinas, dentro do esquema de desvio de recursos no escândalo da Petrobrás. Segundo essas investigações, seu nome aparece no esquema depois de delação feita por Milton Pascowitch, supostamente pela simulação de contratos de consultoria de sua empresa. Como político, Dirceu teve papel central na chegada do PT ao poder.

Com extrema habilidade, foi um de seus principais organizadores e coordenou a campanha vitoriosa de Lula em 2002, iniciando um ciclo de quatro triunfos seguidos na disputa pela Presidência da República. Principal dirigente do PT, fortaleceu a estrutura da legenda e soube preparar o terreno, com alianças políticas mais ao centro, para que Lula chegasse ao poder depois de três tentativas frustradas. O desfecho inesperado dessa trajetória é um baque que o PT terá dificuldades para assimilar.

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