sábado, 22 de agosto de 2015

Renan foi denunciado, mas não cobram sua saída, afirma Cunha

• Acusado de receber propina do petrolão, presidente da Câmara nega intenção de renunciar

• Presidente do Senado foi acusado em 2013 de receber recursos de empreiteira para pagar pensão a uma filha

Andréia Sadi, Alexandre Aragão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Denunciado pela Procuradoria-Geral da República, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse à Folha nesta sexta (21) que tem "plenas condições'' de comandar a Casa e comparou a sua situação com a de Renan Calheiros, presidente do Senado (PMDB-AL).

Renan foi acusado em 2013 de falsidade ideológica e suposta prática de peculato e agora também é investigado na Operação Lava Jato.

"Ninguém cobra a saída do Renan. Tem uma denúncia proposta pelo Supremo Tribunal Federal há dois anos e meio e até hoje não foi decidida. E eu acho que ele tem total condição de presidir o Senado'', disse Cunha.

A acusação de 2013 contra Renan trata de suspeitas de que uma empreiteira pagava pensão a uma filha que ele teve fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso. O caso tramita até hoje no Supremo sob segredo de Justiça, sem decisão.

Nesta quinta-feira (20), a Procuradoria-Geral da República denunciou ao STF a primeira leva de políticos alvos da Lava Jato. Cunha foi acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sob a suspeita de ter recebido US$ 5 milhões em propina.

Mesmo denunciado, o peemedebista disse que não renunciará ao cargo de presidente da Câmara. Um grupo de deputados de diferentes partidos, liderados pelo PSOL, fará um manifesto pedindo o seu afastamento.

Nos bastidores, integrantes do governo e o comando do PT também desejam a saída de Cunha, que rompeu com o Planalto em julho, mas acham difícil que ela ocorra imediatamente. Para ministros, o governo passa a rivalizar com um "inimigo enfraquecido", mas ainda muito influente na Câmara.

Cunha disse que o governo pode "perder as esperanças'' de desestabilizá-lo e afirmou que não vai retaliar ''quem quer que seja'', mas alfinetou o governo. ''Quem provavelmente está fazendo esse movimento é quem deve estar preocupado com as consequências da minha atuação."

Questionado se era uma referência ao andamento de um pedido de impeachment, respondeu: ''Não necessariamente''.

'Guerreiro'
Cunha participou nesta sexta de evento na Força Sindical, em São Paulo, onde foi recebido aos gritos de "Cunha, guerreiro do povo brasileiro". "Não há uma única prova contra mim nas páginas da denúncia", afirmou.

O peemedebista disse ser "muito estranho" que a denúncia contra ele tenha saído no mesmo dia em que ocorreram atos em defesa do governo em todo o país.

"É muito estranho que num dia em que tem evento daqueles que recebem dinheiro público, pão com mortadela [...], querem achar que toda essa lama tenha que ir para o colo de alguém que não participou dela", disse, afirmando que houve "truques de comunicação" para atingi-lo. "Graças a Deus a gente não tem pena de morte no Brasil", completou Cunha. "Senão pediriam a minha morte [na denúncia]."

Integrantes da Força Sindical ecoaram o discurso do peemedebista, dizendo que ele é alvo de perseguição do PT e do Planalto. Gritavam: "Ai, ai, ai, agora a Dilma cai" e "Cunha é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo".

Colaborou Márcio Falcão

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