domingo, 6 de setembro de 2015

Dora Kramer - Se ficar o bicho pega

- O Estado de S. Paulo

O mandato de Dilma Rousseff está por um fio. Foi o que ela ouviu cinco dias atrás de importante interlocutor político, que traçou à presidente um retrato sem retoques da situação: ou ela mostra capacidade de virar o jogo, ou será afastada do cargo antes do tempo regulamentar.

Não por possíveis desdobramentos da Operação Lava Jato e, em decorrência, do aparecimento de provas de que estaria envolvida em esquema de corrupção. O impedimento seria por incompetência. Ou, para usar a expressão corrente entre esses analistas, por falência total da gestão administrativa.

O cenário retratado à presidente traduz consenso que vem se formando nos altos escalões dos mundos político, jurídico e empresarial, onde nos últimos dias a ideia do impeachment, que havia sido afastada, voltou a ganhar força, velocidade e materialidade.

Daí a desenvoltura do vice-presidente, Michel Temer, ao se referir à hipótese do inevitável afastamento caso Dilma não melhore a relação com a opinião pública. Diante do que a presidente ouviu de abalizado aliado: o que Temer disse foi muito pouco. A ela foi dito que seu tempo está terminando. Se não conseguir reverter a situação até o fim do mês, a perda do mandato é inexorável. Por “reverter a situação” entenda-se virar o governo de cabeça para baixo.

Isso significaria afastar do Palácio do Planalto os maus conselheiros, reforçar com gestos efetivos a posição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deixar a articulação política nas mãos do vice, encontrar um interlocutor de peso junto aos movimentos sociais para assumir o lugar de Miguel Rossetto e escolher alguém para fazer funcionar a administração federal, hoje completamente paralisada. O aconselhamento pela nomeação de um “gerente” implica, na prática, a sugestão para a presidente afastar Aloizio Mercadante da Casa Civil.

O resultado dessa conversa pôde ser parcialmente observado na última quinta-feira, quando Dilma Rousseff apelou oficial e publicamente a todos os ministros que apoiem Joaquim Levy. O mesmo interlocutor que disse à presidente que seu mandato subiu no telhado esteve no dia seguinte com o ministro da Fazenda e saiu do encontro convicto de que “basta um empurrãozinho” para que Levy peça demissão. Ou seja, o ministro não fica se houver mais um episódio de desprestígio às suas posições.

A gravidade da situação relatada à presidente foi assim resumida: “Ou a senhora faz um pacto de mudança com o establishment ou o establishment político, jurídico e empresarial começará a negociar um pacto de governabilidade com Michel Temer”.

À moda de Duda. Circula no governo a informação de que os investigadores da Operação Lava Jato teriam descoberto o equivalente a R$ 50 milhões depositados no exterior por uma das empreiteiras envolvidas no petrolão, em conta de gente que atuou de maneira ativa nas campanhas eleitorais de Dilma.

Não seria a primeira vez. Na CPI dos Correios Duda Mendonça confessou que recebeu dinheiro no exterior como pagamento aos serviços prestados à campanha presidencial de Lula.

Baixo clero. Dias desses o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, chegou sem avisar ao Instituto Fernando Henrique Cardoso pedindo uma audiência ao ex-presidente. Não conseguiu.
Nessa altura dos acontecimentos, FH só fala com o PT oficial e formalmente. Mediante combinação prévia e escolha de interlocutores à altura.

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