domingo, 13 de setembro de 2015

Indústria prevê tombo ainda maior neste ano

• Manufatura, que respondia por quase 18% da economia em 2004, deve fechar o ano com apenas 9%

Participação no PIB encolhe e indústria agora culpa o governo

• Manufatura, que respondia por quase 18% da economia em 2004, deve fechar o ano com apenas 9%

• Para entidade do setor, faltaram reformas que dessem mais competitividade para concorrer com exterior

Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Reflexo da recessão econômica, a participação da indústria de transformação na economia vai ter um encolhimento preocupante ao final deste ano.

Previsão da CNI (Confederação Nacional da Indústria) feita para a Folhaaponta que o setor mais nobre da indústria, o da manufatura, vai fechar 2015 representando apenas 9% do PIB nacional, depois de encerrar o ano passado em 10,9%.

O presidente da entidade, Robson Andrade, tem uma estimativa ainda mais pessimista para os próximos anos. "Infelizmente, nossa participação tende a cair para 8%", diz ele sobre o futuro da indústria da transformação, de maior valor agregado e que produz, por exemplo, bens de consumo duráveis e máquinas e equipamentos.

O ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) classifica a queda de "preocupante" por estar ocorrendo de forma "prematura".

Ele lembra que essa redução é normal em economias mais maduras, como a dos Estados Unidos, mas não nas de países de renda média, como a brasileira.

Mesmo assim, destaca, nos EUA a participação está acima da do Brasil, na faixa de 13% a 15% do PIB americano.

Armando Monteiro diz que a queda acentuada em 2015 é justificada por "estarmos num ano atípico, de forte retração do crédito, afetando indústrias importantes, como a automotiva e a de bens de consumo duráveis".

Ele destaca que, diante do cenário de incerteza na economia, o consumidor está adiando a troca do carro, da geladeira e do televisor.

O ministro espera, porém, uma recuperação do setor por causa do dólar mais competitivo. "A indústria voltada para exportação está melhorando, o que vai ajudar a recuperar o setor da manufatura", aponta Monteiro.

Em sua opinião, a indústria nacional vai fornecer produtos que até pouco tempo estavam sendo importados.

Culpa do governo
Além da recessão econômica, o presidente da CNI avalia que o governo tem sua parte de responsabilidade pelo encolhimento da indústria de transformação, que chegou a ter uma participação de quase 18% do PIB brasileiro em 2004, mas desde então veio caindo a cada ano.

"O governo falhou nas reformas que dariam mais competitividade à indústria, setor mais exposto à competição externa. Não fez a reforma tributária, a trabalhista, não criou regras para dar segurança jurídica", diz ele.

O resultado, segundo Andrade, é que a indústria brasileira de transformação é "pequena, de baixa tecnologia e de pouco investimento". Para ele, esse processo de desindustrialização "não deve ser revertido no curto prazo", citando, por exemplo, que a siderurgia trabalha com cerca de 60% de capacidade ociosa. Assim como o ministro, o presidente da CNI acredita que a esperança está no mercado externo.

"A indústria automotiva, que havia reduzido sua exportação, deve em breve voltar a exportar cerca de 20% de sua produção."

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