quarta-feira, 16 de setembro de 2015

PT ganha aliados para defender mandato

Por Raymundo Costa - Valor Econômico

BRASÍLIA - Classificada de "fogo de encontro" no PT, a nota dos líderes e dirigentes partidários aliados do governo em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff recebeu apoio enfático do líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ). Segundo o deputado, é muito restrita a "participação de membros do nosso partido" à tese do impeachment. "Tanto eu quanto o presidente [Valdir] Raupp, quanto o [vice] presidente Michel Temer, sabemos o tamanho desse movimento dentro do partido".

Formalmente, a reunião e a nota foram articulados pela deputada Luciana Santos (PE), líder do PCdoB. Na prática, faz parte do contra-ataque do Partido dos Trabalhadores às articulações do impeachment. Ao Valor, o presidente do PT, Rui Falcão, disse que a nota emitida pelos partidos aliados em defesa do mandato de Dilma não implicava apoio às medidas para zerar o orçamento, discutidas mais tarde pelos líderes com a equipe econômica.

O PT vai se posicionar sobre o ajuste orçamentário em reunião da Executiva Nacional amanhã, em São Paulo. Mas também no encontro de cúpula a ênfase será o mandato da presidente, que o PT julga ameaçado por uma tentativa de "golpe". De acordo com Falcão, embora tenha uma ou outra divergência sobre as medidas de austeridade, o partido considera " mais importante, neste momento, defender o mandato dela".

A manobra do PT teve sucesso à medida que o PMDB se prontificou a defender o resultado das urnas. "O que mais nos une, neste momento, é a defesa do mandato popular, de defesa da estabilidade política", disse o líder Picciani. "A pergunta que deve se fazer é a quem interessa a falta de estabilidade política no país, quem é que ganha com isto? Certamente não é a população, certamente não é o país, enquanto Nação. É contra isso que nós devemos nos organizar", afirmou.

A reunião dos aliados foi chamada de "fogo de encontro" pois foi planejada para servir como contraponto às manobras pró impeachment que a oposição previa realizar ontem. O PT não imaginava que teria de concorrer com a discussão também do pacote de austeridade. Além do PMDB, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), também surpreendeu ao defender o mandato de Dilma. O líder do PSD disse que não votou na presidente, mas reconhecia nela uma pessoa "digna". O partido do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, foi o primeiro a aderir à candidatura de Dilma à reeleição, ano passado, antes mesmo do PT.

A reunião em defesa do mandato de Dilma não deixou de ser um troco do PT no vice Michel Temer. Falcão evitou falar sobre o vice na conversa com o Valor, mas dirigentes petistas e auxiliares próximos de Dilma consideraram "um acinte" a decisão de Temer de participar de um debate do grupo Política Viva, a convite de Rosângela Lyra, que acumula a presidência da Associação dos Lojistas dos Jardins, em São Paulo, com a condição de manifestante nos protestos de rua contra o governo.

É muito delicada a relação do vice Temer com a presidente e o PT. O partido acha que Temer cresceu o olho em direção da cadeira da presidente, quando ela despencou nas pesquisas de popularidade. A posição dúbia de Temer levou Dilma a ter um encontro secreto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, segundo apurou o Valor, antes de amarrar o apoio com o PMDB do Rio de Janeiro, do qual a manifestação de Picciani ontem é prova. Depois Dilma teve um encontro oficial com Cunha.

Além da manifestação amanhã da Executiva Nacional, o PT programa também uma manifestação na Praça da Sé, em São Paulo, para o dia 26, já denominada de "Primavera da Democracia". No dia 3 de outubro, aniversário de criação da Petrobras, a Frente Brasil Popular, capitaneada pelo PT, deve fazer atos em defesa da democracia em todo o país.

Entre os projetos de austeridade que o PT se vê obrigado a engolir está o adiamento do aumento dos servidores públicos. Mas Falcão dispõe de um argumento na ponta da língua para rebater as críticas: "É melhor que ficar sem o aumento". Em julho, o Diretório Nacional do PT recusou uma proposta de apoio de seu presidente, Rui Falcão, para a criação da CSS, um imposto do cheque com recursos destinados à saúde. Agora deve discutir - e provavelmente apoiar - a recriação da CPMF, só que com a arrecadação destinada à Previdência. "É um imposto limpo, não regressivo e dá transparência total à arrecadação", disse Falcão.

O PT também discute a proposição de medidas que estimulem o consumo, no fim do ano, como a liberação de parte do compulsório dos bancos. O partido defende que Dilma libere os empréstimos já autorizados pelo Senado para Estados e municípios, estimados em mais de US$ 1 bilhão, e que estão sendo segurados pelo ministro Joaquim Levy. Uma liberação "republicana", que atenda Estados e municípios governados pela situação e a oposição, para aliviar a tensão política.

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