sábado, 31 de outubro de 2015

Dilma: governo tem agenda e não é prisioneiro do ajuste

• Recado foi dado após PMDB divulgar alternativa ao modelo econômico

Economistas elogiam medidas propostas pelo vice Michel Temer para tentar destravar a economia e fazer o país crescer; já Planalto e PT não gostaram do programa do aliado

Um dia após o PMDB divulgar o documento “Uma ponte para o futuro”, com propostas alternativas à atual política econômica para tirar o país da crise, a presidente Dilma afirmou ontem que o Brasil não é “prisioneiro do ajuste” e que o governo tem uma “agenda robusta de investimentos”. O discurso foi lido pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu, porque a presidente teve de cancelar compromisso, já que sua mãe passou mal. Enquanto o PT e o Planalto não gostaram, economistas elogiaram as propostas do PMDB, consideradas por eles necessárias para reduzir a dívida pública e fazer o país voltar a crescer.

Dilma: 'Não estamos prisioneiros de ajustes'

• Um dia após críticas do PMDB à crise fiscal, ministra lê discurso da presidente sobre os ajustes necessários

Fernanda Krakovics, Cristiane Jungblut – O Globo

-SÃO PAULO e BRASÍLIA- Um dia após o PMDB divulgar documento em que aponta “desequilíbrio fiscal” do governo e defende um “ajuste permanente”, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o Brasil não é “prisioneiro da agenda de ajustes” e tem “agenda de estímulo ao investimento”. O discurso de Dilma foi lido ontem pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu, do PMDB, durante evento em uma empresa de celulose em Sete Lagoas (MS).

Dilma cancelou sua viagem ao Mato Grosso do Sul de última hora, pois sua mãe, Dilma Jane, de 92 anos, passou mal durante a noite. Kátia Abreu representou a presidente na cerimônia e leu um discurso escrito por Dilma:

— De nossa parte, estamos trabalhando intensamente para realizar os ajustes necessários ao estabelecimento de uma situação fiscal mais robusta e à redução da inflação. Não estamos, no entanto, prisioneiros da agenda de ajustes. Ao contrário, temos uma agenda consistente de estímulo ao investimento.

Em seu texto, Dilma também afirmou que o país tem uma “agenda robusta de investimentos em infraestrutura de transporte, em parceria com o setor privado”. Ela lembrou que o governo lançou projetos orçados em R$ 198 bilhões para estradas, ferrovias, portos e aeroportos, por meio do Programa de Investimentos em Logística (PIL).

— Ao contrário do que muitos pessimistas querem fazer crer, a segunda etapa do PIL está avançando — escreveu Dilma.

A presidente destacou, ainda, em seu discurso que o governo federal vai trabalhar para “criar um ambiente de negócios" favorável para empreendimentos bem sucedidos.

— É assim que vamos voltar a crescer, a gerar emprego e renda e oportunidades para nossa população — leu Katia Abreu.

O novo programa do PMDB, com propostas que vão na contramão da política econômica em vigor, não agradou ao Palácio do Planalto. A orientação, porém, é não polemizar com o principal aliado, no momento em que o governo precisa reconstruir sua base para garantir governabilidade.

— O PMDB tem tanto direito de fazer propostas e críticas à política econômica quanto o PT — disse o ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, responsável pela articulação política.

Com o vice-presidente Michel Temer cada vez mais afastado da presidente Dilma Rousseff e com setores do PMDB flertando com o impeachment, integrantes do governo e do PT não se surpreenderam com a estocada peemedebista.

No PT, a avaliação é que o PMDB quis marcar posição às vésperas de congresso nacional do partido, no próximo dia 17, e, assim, manter a pressão sobre Dilma. Segundo um experiente parlamentar petista, o PMDB é “mestre” no jogo de se apresentar como problema e, em seguida, se oferecer como solução.

— Isso é para assustar o Planalto. É o velho jogo do PMDB — resumiu o parlamentar petista.

Para integrantes do governo, o plano apresentado pelo PMDB tem mais identificação com o PSDB. Auxiliares da presidente tentaram minimizar a divergência com o principal aliado afirmando que os peemedebistas não são os únicos no governo a defender esse receituário. Além do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi citado o nome do ministro das Cidades, Gilberto Kassab.

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), no entanto, reagiu com ironia:

— Acho que temos um nível de identidade. O PT prega mudança na política econômica e o PMDB também. E, se o PMDB está descontente com a política econômica do governo, é o caso para se tratar dentro do relacionamento da presidente com o seu vice.

No PMDB, os caciques do partido acreditam que o recado foi dado com sucesso.

— Fomos realistas e independentes — destacou o senador Romero Jucá (RR). (Colaborou Simone Iglesias)

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