quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Hélio Schwartsman - Acossado

- Folha de S. Paulo

Luiz Inácio Lula da Silva completou ontem 70 anos. Ele está acuado. Seu nome vem aparecendo nas delações premiadas. Alguns de seus amigos estão na mira dos promotores e da Polícia Federal, e empresas de um de seus filhos foram objeto de mandados de busca e apreensão. Será o fim do mito?

Difícil dizer. Lula já passou por dificuldades antes e se reergueu. Em 2005, após a eclosão do mensalão, parecia estar com os dias contados, tanto que a oposição preferiu não deflagrar o impeachment, calculando que o presidente chegaria sangrando ao pleito de 2006, no qual seria facilmente derrotado. Com uma mãozinha da alta das commodities, não só triunfou em 2006 como fez a sucessora em 2010 e repetiu o feito em 2014. É verdade que, desta vez, os vetores econômicos operam contra o PT.

O futuro do ex-mandatário vai depender de como sua narrativa absorverá as informações produzidas pelo novo escândalo. Narrativas, vale lembrar, são metáforas com conteúdo moral que embutem a trajetória e os valores de um candidato. A crer em modelos desenvolvidos por pesquisadores como Drew Westen, o eleitor não vota em projetos, mas nas narrativas com as quais se identifica.

Não é impossível moldar a narrativa para que ela abrigue todo tipo de coisa. Adhemar de Barros, por exemplo, conseguiu fazer com que a sua neutralizasse as muitas acusações de desvio que pesavam contra si. "Rouba, mas faz", era seu bordão extraoficial. O próprio Lula gosta de descrever a si mesmo como perseguido pelas elites, o que tornaria os crimes de que o acusam calúnias urdidas por uma conspiração antipopular.

Vai dar certo? Isso dependerá das investigações. Se não surgirem provas insofismáveis, o metalúrgico poderá conservar uma respeitável, ainda que cadente, fatia de seu eleitorado. Mas, se o batom na cueca aparecer, pode experimentar um destino parecido com o de José Dirceu, que já nem é mais defendido pelo PT.

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