quinta-feira, 15 de outubro de 2015

‘ Não está certo tentar chegar ao poder através de pedaladas políticas’

• Em São Paulo, Dilma volta a criticar oposição e diz ter ‘ reputação ilibada’

- O Globo

- PIRACICABA, SÃO CARLOS, SÃO BERNARDO DO CAMPO, e BRASÍLIA - Um dia depois de chamar de “golpismo escancarado” o movimento oposicionista pró- impeachment, a presidente Dilma Rousseff disse ontem que as tentativas de derrubar seu governo são “pedaladas políticas”. A declaração, dada em entrevista exclusiva à EPTV, afiliada da TV Globo, em Campinas, surgiu quando a presidente foi questionada sobre os pedidos recebidos pela Câmara dos Deputados para tirá- la do cargo.

— Acho que também não está certo tentar chegar ao poder através de, vamos dizer assim, pedaladas políticas. Isso sim é pedalada. É chegar ao poder através de atalhos. Atalhos porque eu sou uma presidente que tem a vida ilibada, não há acusação de nenhuma maneira contra mim — disse Dilma à EPTV.

Ainda na entrevista, Dilma afirmou que as “pedaladas fiscais”, prática que foi condenada pelo Tribunal de Contas da União, que rejeitou as contas do governo federal, foram feitas por “todos os governos” que a antecederam. A prática consiste em utilizar bancos públicos para pagar despesas que seriam do governo.

— As práticas que chamam de pedaladas foram feitas por todos os governos antes de mim. Se é para mudar, nós não temos problema. Mudamos daqui pra frente. Mas não temos como mudar para o que até então era visto e tido como correto. Eu respeito o Tribunal, respeito todos os tribunais. Eu só me permito o direito que todo brasileiro, toda brasileira tem, o direito de defesa.

Mais tarde, durante o Congresso do Movimento dos Pequenos Agricultores, em São Bernardo do Campo, Dilma disse que se defende com serenidade das acusações dos adversários porque nunca cometeu desvio de conduta. Em dois dias, foi o segundo encontro com movimentos sociais:

— Eu me defendo com serenidade, até porque não cometi nenhum desvio de conduta.

A presidente disse acreditar que suas atividades tenham sido vasculhadas pelos adversários em busca de irregularidade:

— Jamais utilizei em meu proveito a atividade de presidente da República, que exerci dignamente. Eles tentaram encontrar algo contra mim, mas não encontraram porque jamais cometi um malfeito na vida política.

Dilma repetiu parte do discurso da véspera, feito no Congresso da Central Única dos Trabalhadores ( CUT), em que classificou a oposição de golpista e a acusou de usar argumentos artificiais para tentar o seu impeachment. Mais uma vez, a petista foi interrompida aos gritos de “não vai ter golpe” vindos da plateia formada por cerca 2 mil pequenos agricultores e movimentos sociais.

Em São Carlos, onde entregou unidades do Minha Casa Minha Vida, Dilma disse que vai “apertar o cinto” para reduzir gastos, mas afirmou que vai manter os investimentos na 3 ª edição do programa habitacional. E em Piracicaba, onde também esteve ontem, a presidente disse que o país precisa se unir para não desperdiçar o aprendizado que é possível ser obtido em tempos de crise. E defendeu que, em situação de câmbio desvalorizado, o aumento de exportações seja uma das apostas da economia.

Sair da defensiva
O discurso duro feito por Dilma, na noite de anteontem, em evento da CUT, faz parte de uma estratégia de mobilização da base social do governo e da militância do PT para defender seu mandato, em caso de abertura de um processo de impeachment. A presidente tinha dois discursos escritos para a ocasião e optou pelo mais agressivo. Ao atacar os “moralistas sem moral”, Dilma também quis sair da defensiva. De acordo com um integrante do Planalto, “ela não pode ficar parada, de braços cruzados, vendo o show da oposição”.

O governo, no entanto, atuará em várias frentes. Deixará uma porta aberta para a oposição, como fez o ministro Edinho Silva ( Comunicação Social), anteontem, ao dizer que precisam debater suas diferenças sem que isso se torne uma “guerra fratricida”. E ministros como Jaques Wagner ( Casa Civil) e Edinho sentam para conversar com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), na tentativa de um acordo ou de ganhar tempo.

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