sábado, 31 de outubro de 2015

PT aposta na confusão moral – Editorial / O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff disse recentemente, em tom indignado, que seu governo estava sendo atacado por “moralistas sem moral”, isto é, políticos sujos cujas biografias desautorizariam qualquer forma de acusação ou de crítica e que só lhe assacam crimes que eles mesmos cometeram, com o único objetivo de dar um golpe e tirá-la do poder. É assim o modo petista de agir: quando companheiros são pilhados em delitos capazes de embaraçar até mesmo o mais crédulo dos militantes, os figurões do partido tentam virar o jogo, apostando na confusão moral, imputando a seus adversários os mesmos desvios éticos de que os petistas são acusados. Assim, tentam minimizar a roubalheira generalizada que o País hoje testemunha, fruto de inédito projeto de pilhagem do Estado para a manutenção do poder.

Essa estratégia está em pleno curso. O mais recente movimento foi feito na segunda-feira, quando o PT entrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Ministério Público Eleitoral com um pedido para que se investiguem suspeitas de irregularidades na campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência em 2014.

Alega o partido que 2.397 recibos eleitorais da campanha do tucano, ou quase 80% do total, continham alguma irregularidade. Aponta também que há indícios de caixa 2, uso irregular do Fundo Partidário, exploração do trabalho de servidores públicos lotados no gabinete do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e contratação irregular de funcionários, entre outros problemas. O PT quer que Aécio e os demais tucanos envolvidos sejam punidos por crime eleitoral e por improbidade administrativa.

O TSE ainda não apreciou as contas da campanha de Aécio porque técnicos do tribunal pediram esclarecimentos. Os tucanos entregaram retificações em agosto e alegaram, na ocasião, que os problemas eram apenas formais e já foram sanados. Para o PT, os recibos supostamente irregulares têm de ser auditados pela Receita Federal e pelo Tribunal de Contas da União.
Nem se discute se devem ou não ser investigadas eventuais irregularidades cometidas pelos tucanos na campanha. É evidente que o Judiciário é capaz de averiguar a lisura da prestação de contas de Aécio e de qualquer outro candidato - e, caso conclua que houve algum crime, que aplique a punição adequada, nos termos da lei.

Mas não é de justiça que o PT quer tratar. Ao contrário: a tática diversionista objetiva exclusivamente disseminar a falsa tese de que, se o dinheiro que irrigou a campanha petista é ilegal, o dinheiro que financiou a dos tucanos também é.

Não é por outra razão que a decisão do PT de questionar a campanha tucana no TSE se deu três semanas depois que o tribunal resolveu dar continuidade a uma ação em que o PSDB pede a cassação do mandato de Dilma e do vice-presidente, Michel Temer (PMDB). Entre outras coisas, os tucanos acusam a campanha petista de ter sido financiada por doações eleitorais que, na verdade, eram fruto de propinas pagas por empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobrás.

Os petistas querem fazer acreditar, portanto, que os recursos utilizados pelos tucanos não se diferenciam dos milhões desviados dos cofres da Petrobrás para bancar o palanque do PT e de seus comparsas. De acordo com essa lógica, se todos roubam, não existem ladrões. A diferença, alegam os ideólogos do partido, é que o PT aceitou o jogo da corrupção porque seria a única forma de chegar ao poder para implementar seu redentor projeto de justiça social. É a reedição do cínico bordão “rouba, mas faz”.

Quando era o partido que se dizia campeão da ética, o PT especializou-se em moer reputações alheias, para surgir como alternativa a “tudo o que está aí”. Agora, usa sua expertise para nivelar a tudo e a todos ao rés do chão, para que no final ninguém consiga diferenciar criminosos de inocentes. Felizmente, como têm demonstrado a Justiça e a polícia desde o escândalo do mensalão, as instituições do País são plenamente capazes de colocar as coisas em seu devido lugar.

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